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Os anos de Rodgers no Liverpool


Bruno Caetano.

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Por Wladimir de Castro Rodrigues Dias

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Brendan Rodgers chegou ao Liverpool em 2012, após ter feito ótimo trabalho no Swansea City. Trouxe o clube à Premier League e, apesar do orçamento pequeno, conseguiu construir um bonito jogo e obter resultados. Esse foi o cartaz que convenceu a diretoria dos Reds a apostar em uma reformulação no time, com a saída do ídolo Kenny Dalglish, que em 2011-2012 conduziu os Reds ao seu último título, o da League Cup. Porém, com pouco mais de três temporadas no comando do clube, sem conquistar nenhum título e acumulando marcas ruins, o treinador não resistiu e foi demitido.

Muitas apostas e poucos resultados

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Borini foi umas primeiras e piores contratações de Rodgers

Desde que chegou a Liverpool, Rodgers teve à disposição um orçamento respeitável para trabalhar. Em sua primeira temporada, gastou £47,3 milhões, a maior parte dispendida nas contratações de Joe AllenDaniel SturridgeFabio Borini e Philippe Coutinho. O brasileiro, curiosamente, foi o mais barato do quarteto. Por outro lado, jogadores importantes no passado recente, como Dirk Kuyt e Maxi Rodríguez, deixaram o time, além de outros jogadores que não se encaixavam na proposta de jogo do norte-irlandês. Foram os casos de Charlie Adame e Andy Carroll.

Todavia, o feito mais importante do comandante na referida temporada foi a incorporação de Raheem Sterling ao time principal do Liverpool. À época, o inglês subiu junto com Suso, outro jogador que apareceu bem, mas que não conseguiu ter a mesma sequência regular de seu companheiro.

A temporada em si foi muito ruim para o Liverpool, que terminou o ano na sétima posição na Premier League, não conquistou nenhum título e não se classificou para a UEFA Champions League. Apesar disso, a juventude do time era uma justificativa mais do que aceitável para as dificuldades vividas à época.

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Ídolo, Carragher aposentou-se ao final da temporada 2012-2013

Na temporada seguinte, a saída de Carroll foi consumada (antes o jogador havia sido emprestado), bem como a de outras figuras experientes, como Stewart Downing e Pepe Reina. Além disso, o ídolo Jamie Carragher pendurou as chuteiras. Com novas figuras, dentre as quais destacam-se Mamadou Sakho e Simon Mignolet, o time fez sua melhor temporada e chegou a encantar em muitos momentos.

Com Luis Suárez em grande forma e Steven Gerrard voltando aos holofotes, desta vez atuando mais recuado, o time cresceu. O uruguaio elevou o futebol de Sturridge, Coutinho e Sterling, enquanto o capitão inglês fez o mundo conhecer um diferente Jordan Henderson, mais confiante e seguro de sua categoria. Dessa forma, o time quase conquistou a Premier League, e retornou à UEFA Champions League. Parecia indiscutível o fato de que Rodgers fazia um bom trabalho, por ter conseguido encontrar soluções para o time em meio à temporada, como foi o caso do improviso do garoto Joe Flanagan na lateral esquerda.

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Passada a euforia da campanha de 2013-2014, o time voltou a jogar um futebol apático e pouco atraente, avesso à história dos Reds. Sem Luis Suárez, vendido ao Barcelona, o Liverpool gastou assombrosos £106 milhões em apostas: Adam Lallana, Dejan Lovren, Lazar Markovic, Mario Balotelli e Alberto Moreno. E fez outra campanha ruim. É justa a ressalva, no entanto, de que o clube sofreu com as lesões de Sturridge e, em alguns momentos, com a falta de foco de Sterling, vinculado a uma transferência que veio a confirmar-se.

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Balotelli foi mais uma contratação fracassada

Na UEFA Champions League, parou ainda na primeira fase, sendo suplantado por Real Madrid e Basel. Na Premier League, terminou na sexta colocação, com uma derrota absurda para o Stoke City na última rodada, por 6×1, justo no último jogo do lendário Gerrard com a camisa do time.

Mesmo assim, a direção do Liverpool, com respeitável atitude em tempos de imediatismo voraz, seguiu apostando em Brendan, que mais uma vez contou com um grande orçamento a seu dispor para as compras de Christian Benteke, Roberto Firmino e Nathaniel Clyne. Desta vez, no entanto, o gasto justificou-se em grande medida pela negociação de Sterling com o Manchester City, por assustadores £43,75 milhões. Markovic e Balotelli, apostas da temporada passada, foram emprestados.

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Hoje, o time tenta se reerguer, sem sucesso

Não obstante, o time começou novamente mal. A atual décima colocação dos Reds não reflete o que se espera de um clube de sua grandeza – bem como a ausência na UEFA Champions League. Os gastos do clube demonstram que não é falta de recursos a justificativa para os falhanços. Era visível que Rodgers não se omitia no comando do clube, mas era igualmente claro que seu trabalho não vinha rendendo os frutos esperados.

Evolução de Coutinho foi o grande trabalho do treinador

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Coutinho chegou e, de cara, recebeu a camisa 10

Três dos jogadores que mais se desenvolveram nas mãos de Brendan Rodgers não foram frutos de contratações sob sua indicação. Suárez e Henderson não foram comprados a pedido do norte-irlandês e Sterling foi criado na base do clube. Dessa forma, não há sombra de dúvidas de que a evolução de Philippe Coutinho é o grande trabalho do treinador em Anfield Road.

Contratado sob suspeitas, em razão de seu insucesso na Inter de Milão, o brasileiro, que ainda é muito jovem, chegou pela bagatela de £7 milhões. Tímido em seu início, Coutinho driblava pouco, fugia do contato físico peculiar à Premier League e não arriscava finalizações de média e longa distância; Aparentemente, era o completo oposto do jogador que se vê na atualidade.

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Hoje, o brasileiro é o melhor jogador dos Reds

A cria do Vasco da Gama parece ter vivido em seu tempo em Milão e na Catalunha (onde representou o Espanyol, por empréstimo) um período de adaptação ao futebol europeu e à vida no Velho Continente. Sem sombra de dúvidas, o futebol que o jogador vem mostrando, sobretudo após a temporada 2013-2014, é de excelente qualidade, e houve quem não aceitasse em hipótese alguma sua ausência na Copa do Mundo de 2014.

Rodgers mostra há tempos que trabalha bem com garotos. Sabe passar confiança e oferecer espaço, o que foi determinante para o crescimento de Coutinho. De forma geral, a influência do treinador nem aparenta ter sido grande no estilo de jogo do brasileiro, mas é indiscutível o seu papel no desenvolvimento da confiança do camisa 10 dos Reds, a grande estrela do time na atualidade e o principal legado deixado pelo treinador.

Diferentes estilos de jogo e poucos resultados

Durante toda a sua passagem, Brendan Rodgers tentou alinhar seu time de diversas formas diferentes; o 4-3-3, o 4-4-2, o 4-1-4-1, o 4-2-3-1, o 3-5-2 e o 3-4-3 foram algumas das opções testadas desde 2012. A única que funcionou de fato foi a que uniu Gerrard, Henderson, Coutinho, Sterling, Sturridge e Suárez em partes da temporada 2013-2014, no que podia ser lido como 4-1-3-2, 4-1-4-1, 4-2-3-1 ou 4-2-4. As características dos jogadores permitiam uma constante mudança de posições.

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Liverpool esteve bem em 2013-2014, sobretudo em função do desempenho de Suárez e Gerrard

Exemplo claro é dado pela forma como Sturridge e Suárez jogavam juntos, por vezes mais centralizados e em outros turnos abertos pelos flancos ou vindo do meio-campo, sempre movimentando-se intensamente. Essa foi a chave do sucesso tático de Rodgers: a movimentação. Enquanto pôde alinhar peças que se complementavam e se entendiam, o comandante obteve sucesso e, inoportunamente para ele, isso não aconteceu tantas vezes – por razões como a demora na ascensão de Sterling, Coutinho e Henderson, as lesões sofridas por Sturridge, a negociação de Suárez e o declínio físico de Gerrard.

O fato é que Brendan Rodgers, que estava em sua quarta temporada no Liverpool, não conseguiu dar sua identidade ao time e tampouco obteve resultados expressivos – exceção feita ao vice-campeonato inglês da temporada 2013-2014. É impossível não questionar os rumos do clube que há mais de 20 anos não conquista o Campeonato Inglês e há quatro temporadas não vence qualquer título e essa foi provavelmente a grande razão (embora não a única) para o decreto do fim da parceria entre o clube e o treinador.

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Sterling e Sturridge também foram importantes nos melhores momentos do Liverpool de Rodgers

O fim da parceria e algumas marcas negativas

Rodgers teve tempo e recursos para colocar em prática seus conceitos, mas não conseguiu. A aposta em sua contratação, à época, fez sentido, bem como a continuidade que vinha sendo dada ao seu trabalho. No fim, a relação entre o Liverpool e o norte-irlandês se arrastou como um casamento que não vinha dando certo, mas cujos cônjuges tentaram a todo custo reparar a relação. Neste momento, reflexão é algo extremamente necessário diante do momentâneo apequenamento de um dos maiores clubes da história do futebol.

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Embora tenha mostrado boas credenciais durante seu período, alguns fatos pesaram muito contra o comandante na fase final de sua passagem, quando o litígio já parecia questão de tempo. Pelo Liverpool, considerando partidas fora de casa contra Arsenal, Manchester United, Manchester City e Chelsea, seus grandes concorrentes aos títulos, e o Everton, seu rival local, Brendan comandou o time em 17 partidas, perdendo oito vezes, empatando em outras oita ocasiões e ganhando apenas uma, marca terrível.

Dentre esses encontros, há alguns, como a derrota por 2×0 em casa contra o Chelsea, em 2014, resultado que destruiu a confiança dos Reds para o final da temporada e abriu caminho para o Manchester City tomar a primeira posição, que deixaram gosto extremamente amargo na boca do torcedor do clube. Além destas, outras como a eliminação da última FA Cup para o Aston Villa ou o já citado 6×1 contra o Stoke, só reafirmam a ideia de que o treinador não entrou em sintonia com o clube.

O time mostrou durante esse período muita dificuldade em apresentar o mesmo futebol nas partidas em casa e fora, sendo, muitas vezes, mais conservador em terrenos adversários, sem obter, com isso, melhores resultados.

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É evidente que uma troca de comando no decorrer da temporada nunca é recomendável, mas, diferentemente de outros casos, ao que tudo indica a opção do Liverpool não foi tomada de forma precipitada. A demissão não foi precedida de derrota e, desde o início da temporada 2015-2016, esteve claro que a direção estava garantindo uma última oportunidade para o treinador, evitando ao máximo uma troca de comando.

Sem a evolução esperada, vendo o time fazer mais uma campanha ruim, a direção optou pela saída do comandante o que aparentemente não ensejou problemas ou polêmicas. Em seu anúncio oficial da demissão, o Liverpool inclusive lembrou bons momentos com o treinador e o agradeceu por seu trabalho. A parceria tentada foi sempre correta em ambos os lados e terminou da mesma forma. Não deu certo e agora clube e treinador seguem caminhos distintos sem ressentimentos.

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Último jogo de Rodgers no Liverpool foi o clássico contra o Everton

  • “Gostaríamos de deixar registrados os nossos sinceros agradecimentos a Brendan Rodgers, pela significativa contribuição que ele deu para o clube, eexpressar nossa gratidão por seu trabalho duro e comprometimento. Todos nós vivemos alguns momentos maravilhosos com Brendan como treinador e estamos confiantes que ele desfrutará de uma longa carreira no jogo”, veiculou a nota do clube.

No fim, é impossível negar que tenham existido bons momentos nestes últimos três anos e alguns meses. A questão central que justifica a demissão do treinador é a de que tais momentos não passaram de ocasiões esporádicas e, para um clube com a dimensão do Liverpool isso não basta. Não faltaram esforços para fazer a união entre Rodgers e os Reds dar certo, entretanto, diante de mais um início ruim, insistir no que não vem dando resultados seria persistir no erro, o que não seria bom para nenhuma das partes. 

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