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O papo é PT


MarkuZ

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Como todo tópico sobre política nesse fórum descamba para uma discussão entre simpatizantes do PT e anti-petralhas, decidi criar um pra debater o assunto.

Quero deixar claro que não sou da turma que acredita que o PT é a pior coisa da história da humanidade, que o Lulinha é dono da Friboi, etc.

Vou fornecer alguns elementos para a discussão.

-----------------------

Petrobras:

Uma propaganda da Petrobras que vem sendo veiculada na televisão mostra que o valor de mercado da empresa pulou de US$ 15,5 bilhões em 2002 para US$ 104,9 bilhões em 7 de maio de 2014.

Entretanto...

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Vejam como em 2007, o valor é muito, muito mais alto que em 2001. Há uma queda brusca em seguida, durante a crise mundial, e o valor volta a crescer, chegando em 404 bilhões de reais no começo de 2011.

Em 2013, o valor de mercado caiu em R$ 40 bilhões, fechando o ano em R$ 254,85 bi. Foi a empresa listada na Bovespa que mais perdeu valor.

Matéria da Folha publicada em março desse ano disse que a Petrobras perdeu 50% do valor de mercado desde 2010: R$ 179 bilhões, menos da metade dos R$ 380 bilhões de 2010.

Nesse infográfico há uma análise sobre os motivos dessa perda de valor e um comparativo:

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Também em março, o Financial Times mostrou que a empresa é hoje a 120ª maior do mundo. Era a 12ª há 5 anos e a 48ª há um ano.

Energia

Em 2013 Dilma anunciou redução de 13% nas tarifas de energia elétrica para residências e até 32% para empresas. “Sem nenhum risco de racionamento ou qualquer tipo de estrangulamento, no curto, médio ou no longo prazo.”

Mas a crise chegou e as tarifas subiram. "Com o pedido de socorro das distribuidoras de energia por mais R$ 7,9 bilhões, para não sucumbir ao rombo energético previsto até o fim do ano, o total de ajuda para as elétricas em 2014 poderá chegar a R$ 19,1 bilhões. Isso porque o segmento já torrou um empréstimo de R$ 11,2 bilhões para pagar despesas de fevereiro, março e parte de abril. Desta forma, a fatura de 2014 para os consumidores nos próximos anos chegará a 19,1%, já que cada bilhão despejado no setor representa 1 ponto porcentual de aumento nas tarifas", disse o Estadão em 9 de maio.

O Valor diz que as tarifas ficarão mais caras que antes da redução anunciada por Dilma. Mesmo assim o ministro Lobão disse que a redução do ano passado não era "falácia".

Com as secas nos reservatórios, o governo decidiu ligar as termelétricas, inclusive as que funcionam à diesel. Queimar combustível é a maneira mais suja e cara de produzir energia. Em março, 24% da energia consumida no país veio de termelétricas.

Em janeiro, a energia de curto prazo, a que é contratada em emergência, bateu recorde e ficou em R$ 822 o MWh. Exceto na região norte, o valor ainda continua o mesmo. Pra efeito de comparação, a Aneel definiu que o preço máximo do MWh para contratação num leilão esse ano seria de 271 reais.

E o diretor-geral da ONS disse que as térmicas serão cada vez mais necessárias. Ainda segundo ele, as previsões de racionamento tem caráter político.

Em 2012 a Eletrobras teve prejuízo de R$ 6,9 bilhões. Em 2013, o prejuízo foi de R$ 6,2 bilhões.

"A combinação entre chuvas escassas, nível baixo de reservatórios, preços elevados e decisões polêmicas do governo conseguiu estragar a festa dos dez anos do modelo elétrico. Em pouco mais de um ano, o setor saiu de um quadro de estabilidade para desequilíbrio. Entre indenizações pela renovação das concessões e prejuízos com a falta de chuvas, a conta do setor já soma R$ 32,4 bilhões.

Pior: se for considerada a perda de valor das companhias na Bolsa de Valores a conta já supera R$ 60 bilhões (...)" - Estadão (08/03/2014)

Lembrando: Dilma foi ministra de Minas e Energia no Governo Lula.

"Vou dizer de novo: não é possível a gente acreditar na capacidade gerencial de um governo que se submete a esse tipo de articulação política, colocando uma pessoa absolutamente incapaz de entender o que é quilowatt, quilowatt/hora. De ir a público sem saber a diferença entre tensão em volts e energia em quilowatts", disse Célio Bermann, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP. Ele ajudou a escrever o projeto do Lula na área de energia em 2002 e foi assessor da Dilma no Ministério de Minas e Energia.

Competitividade

Estudo feito pela International Institute for Management Development (IMD) e pela Fundação Dom Cabral, apontou que o Brasil perdeu 3 posições no ranking mundial de competitividade no último ano.

Só fica à frente de Eslovênia, Bulgária, Grécia, Argentina, Croácia, e Venezuela.

historico_brasil_ranking_competitividade

Política

- Lula e os Sarney

- Lula e o Bolsa Família

- Lula e as reformas

Lula chama ex-presidentes de covardes e promete fazer as reformas que país precisa

Campina Grande (PB) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em dia inspirado, soltou a língua hoje em Campina Grande, uma das cidades nordestinas que está visitando. Sem citar nomes, ele chamou ex-presidentes de covardes, disse que não tem medo de cara feia e garantiu que fará todas as reformas que se fizerem necessárias para o país recuperar a auto-estima.

Ao contrário de outros presidentes, que a seu ver não tiveram coragem para mudar o país, Lula disse que vai fazer a grande e profunda reforma que o país precisa, a começar pela reforma agrária. Assegurou que também realizará as reformas administrativa, trabalhista e da estrutura sindical brasileira. "Os ex-presidentes foram covardes e não tiveram coragem de fazer o que precisava ser feito", enfatizou.

Lula disse ter chegado à Presidência da 8ª economia do mundo para fazer o que "muitos presidentes covardes" não tiveram coragem de fazer. Acrescentou não ter medo de cara feia dos partidos da direita ou da esquerda. "Aprovamos a reforma da Previdencia Social, porque previdência é direito e não privilegio", afirmou.

Da mesma forma, garantiu que será aprovada a reforma tributaria no Senado. "Vai ter gente que não vai gostar, mas eu deito todos os dias com a cabeça tranquila, sabendo que a reforma tribuntária é para desonerar a produção e as exportações e fazer com que quem ganhar mais, pague mais e quem ganha menos, pague menos", destacou o presidente.

O discurso de Lula foi feito após a inauguração do novo terminal de passageiros do aeroporto João Suassuna em Campina Grande.

EBC - 30/10/2003

Onde estão as reformas?

- O PT e os médicos

Arlindo Chinaglia (PT-SP) apresentou o Projeto de Lei 65/2003 cuja ementa era: "Proíbe a criação de novos cursos médicos e a ampliação de vagas nos cursos existentes, nos próximos dez anos e dá outras providências". O projeto não foi aprovado.

Em 2013, o PT lançou o Mais Médicos, pra trazer profissionais estrangeiros, já que não tem no Brasil.

- O PT e a CPMF

"O PT se deu ao luxo de votar contra a CPMF [Contribuição Provisóra sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira], o PT se deu ao luxo de votar contra porque nós entendíamos que não era preciso criar um novo imposto nesse país. Era apenas cobrar aqueles impostos já existentes." - Lula, Roda Viva, 1999

"Eu penso que está na hora de as pessoas pensarem um pouco no país ao invés de pensarem apenas nas próximas eleições ou pensarem em marcar posições. [...] Tem o tempo para fazer o discurso, tem o tempo para marcar posição e certamente alguns senadores não estão sabendo o que o dinheiro da CPMF causa de benefício nesse país. É importante lembrar que, este ano, 40% do orçamento do Ministério da Saúde vêm de dinheiro da CPMF." - Lula, Folha, 2007

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu nesta terça-feira em defesa do programa "Mais Médicos", do governo federal, e culpou "a elite brasileira por acabar, em seu governo, com aproximadamente mais de R$ 350 bilhões" da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira)" - Agência Estado, 23/07/2013

- Lula e a saúde pública

"Eu acho que não está longe de a gente atingir a perfeição no tratamento de saúde neste país." - Lula, 19/04/2006, Ministério da Saúde

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O que já chama a atenção, é que em um tópico de um partido político, o primeiro tema da pauta é uma empresa estatal. hahahahahahah

Quando eles dizem em valor de mercado, creio que a metodologia seja: número de ações x cotação. O que na prática não significa absolutamente nada, as empresas pré-operacionais do Eike também chegaram a valer "muito", sendo que na prática não tinham nada. Quando a gente quer olhar pra uma empresa, a gente tem que olhar para as informações contábeis. Isso sim, de fato, reflete a situação da empresa.

Pois bem, vamos lá:

Patrimônio Líquido:

2002 - 28 B

2006 - 97 B

2010 - 309 B

2014 - 355 B (Somando os três últimos tri de 2013 e o primeiro de 2014)

Lucro Líquido:

2002 - 8 B

2006 - 25 B

2010 - 35 B

2014 - 20 B (Somando os três últimos tri de 2013 e o primeiro de 2014)

Receita Líquida:

2002 - 69 B

2006 - 158 B

2010 - 211 B

2014 - 313 B (Somando os três últimos tri de 2013 e o primeiro de 2014)

Caixa:

2002 - 17 B

2006 - 28 B

2010 - 55 B

2014 - 78 B (Somando os três últimos tri de 2013 e o primeiro de 2014)

Dívida:

2002 - 30 B

2006 - 44 B

2010 - 115 B

2014 - 308 B (Somando os três últimos tri de 2013 e o primeiro de 2014)

O que podemos concluir com esse valores?

- Receita crescente e lucro líquido caindo, isso significa que a margem da empresa caiu. Ou seja, ela precisa arrecadar mais dinheiro que no passado para lucrar. Em 2006 e 2010, 16% das receitas viravam lucro, em 2014, esse valor cai para 6%.

- Em 2002, a dívida/PL (Patr.Líquido) era de 0,9 e Dívida/LL (Lucro Líquido) era 2,33. Em 2014, os valores vão a 0,87 e 10,96 respectivamente. Ou seja, a empresa levaria 10 anos para pagar as dívida, baseada, no que está lucrando hoje.

Vendo apenas esses número concluímos que a imprensa vêm exagerando, quer dizer, a empresa aumentou e muito a sua dívida, mas está longe de falir, longe de ter se tornado uma merda, e como sempre estão querendo fazer tempestade em copo d'água.

Não podemos esquecer que a dívida cresceu por conta do investimento no pré-sal. There is no free lunch. Temos que olhar que a receita subiu, e a capacidade da empresa lucrar em cima dessa receita caiu, pois está gastando mais. Normal. Óbvio que se a administração fosse mais competente, e o estado interferisse menos, daria pra diminuir os gastos e continuar a aumentar os lucros, mas a realidade da Petrobrás é essa a anos. O governo sempre interviu na empresa.

Quando a produção no pré-sal estiver 100%, as receitas vão subir ainda mais, os gastos vão diminuir, o lucro vai subir e a dívida cair. Sem grilo. E provavelmente vai voltar a capa da Veja com alguma manchete sensacionalista "Gigante pela própria natureza - Veja como a Petrobrás se recuperou de Dilma"

Além disso, não podemos esquecer que o mercado petrolífero é cíclico. Não dá pra esperar regularidade nesse tipo de business. Se olharmos a Exxon e Shell, também veremos que ao longo do tempo elas alternam bons e maus momentos.

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Não podemos esquecer que a dívida cresceu por conta do investimento no pré-sal. There is no free lunch. Temos que olhar que a receita subiu, e a capacidade da empresa lucrar em cima dessa receita caiu, pois está gastando mais. Normal. Óbvio que se a administração fosse mais competente, e o estado interferisse menos, daria pra diminuir os gastos e continuar a aumentar os lucros, mas a realidade da Petrobrás é essa a anos. O governo sempre interviu na empresa.

Teve também o investimento em refinarias aqui no Brasil (que aumenta o gasto e só depois passará a dar retorno). A capitalização que não foi capaz de convencer o mercado (o que balançou muito o valor de mercado da empresa para cima e para baixo).

Analisar o valor de mercado diz pouco, como você falou, ainda mais quando o valor de mercado é inferior ao patrimônio.

Eu escrevi um post sobre a Petrobrás esses dias, acredito que algumas coisas já comecem a mudar com o aumento do combustível assim que passar a eleição. Depois tem a questão das refinarias, a presidente da Petrobrás já declarou que não há planos de fazer outras, quanto as que estão em construção estiverem prontas deixam de ser custo e passam a gerar receita. Por fim, o aumento da produção de petróleo deverá crescer nos próximos anos (inclusive com o pré-sal). Em poucos anos acredito que a Petrobrás provavelmente irá crescer muito em valor de mercado.

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O que já chama a atenção, é que em um tópico de um partido político, o primeiro tema da pauta é uma empresa estatal. hahahahahahah

(...)

Não deveria, né.

Belo post.

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- Lula e o Bolsa Família

Existe uma diferença entre o assistencialismo do qual Lula fala e o Bolsa Família. Essa diferença se mostra nas contrapartidas, no momento e na amplitude do auxílio, e não menos importante, na transformação do auxílio em política pública nacional. É o reconhecimento, por parte do Estado, de seu papel ativo na redução da desigualdade e no combate imediato à miséria.

Esse vídeo é pura panfletagem demagógica de quem tem preguiça de pensar.

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Já que o tema atualmente do tópico está nas bolsas, um texto que a Época botou no ar essa semana.

O país das bolsas

Além do governo federal, ao menos sete Estados oferecem bolsas de assistência. Outras estão em discussão. Quais delas funcionam?
VINÍCIUS GORCZESKI
20/05/2014 07h00 - Atualizado em 20/05/2014 07h37
832_bolsa_familia.jpgPRIMEIRA
Rosa entre os filhos Jean e Raí. Beneficiada com o Bolsa Escola de FHC em 2001, ela ainda depende do Bolsa Família (Foto: Letícia Moreira/ÉPOCA)

No início dos anos 1990, a cabeça do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) fervilhava com uma única ideia: renda mínima. O plano era fazer o Estado dar dinheiro aos mais pobres. Ao mesmo tempo, economistas que não se definiam como “de esquerda” estudavam o assunto. Ricardo Paes de Barros, com pós-doutorado pelas universidades de Yale e Chicago (hoje na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República), e José Márcio Camargo, doutor em economia pelo Massachusetts Institute of Technology, o MIT (hoje na PUC-RJ), estavam entre os primeiros defensores desse tipo de estratégia. Conhecida como “focalização”, ela consiste em dar o dinheiro a quem precisa e liberá-lo para gastar como acha melhor. Em troca, o Estado exige algo, como cuidados com a educação e a saúde dos filhos. Mais de 20 anos depois, o conceito se estabeleceu e se difundiu. Talvez até demais.

O Brasil virou o país das bolsas. Pelo menos sete Estados as oferecem, além de prefeituras e do governo federal, numa volúpia assistencial que irmana ideologias e partidos. Para os governos, criar novos programas de garantia de renda é tentador. Eles têm apelo eleitoral evidente e, com custo relativamente baixo, podem reduzir (ou mascarar) os efeitos de problemas sociais. As bolsas já existentes no país beneficiam uma diversidade de grupos, como estudantes, idosos, pescadores, atletas e prejudicados pela seca. Outras estão a caminho. Há pelo menos três em avaliação no Congresso. Nos próximos meses, candidatos a presidente e a governador dificilmente defenderão o fim de bolsas existentes e, provavelmente, proporão a criação de outras. Por isso, o eleitor precisa saber identificar que propostas têm fundamento, objetivos razoáveis e chances reais de cumpri-los.

Em primeiro lugar, é importante adequar as expectativas em relação a esses programas. Se bem aplicada, a garantia de renda mínima tem papel comprovado na diminuição da pobreza e da desigualdade. Mas esse papel é auxiliar. O Bolsa Família respondeu por 13% na redução da desigualdade no Brasil entre 2001 e 2011, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Além do benefício direto, ele tem um efeito virtuoso difícil de medir. Para famílias com renda incerta, contar com uma receita segura para os meses à frente pode funcionar como incentivo ao consumo e à criação ou ampliação de pequenos negócios próprios. Os dois fenômenos beneficiam outros negócios e outras famílias do entorno, num efeito em cadeia. Em novembro, no Fórum Mundial de Seguridade Social, no Catar, o Bolsa Família ganhou um prêmio de reconhecimento por Desempenho Extraordinário em Seguridade Social. Desde 2001, o Banco Mundial, defensor do conceito, ajudou mais de 120 delegações que visitaram o Brasil a fim de entender detalhes da proposta. A partir do Brasil e do México, outro país pioneiro, a ideia se espalhou. Na América Latina, em 2007, uma em cada 17 famílias estava cadastrada em programas do tipo. Essa fatia avançou para uma família em cada cinco atualmente, segundo o Banco Mundial. Com a proliferação, também ficou mais fácil ver as experiências mais benéficas para a sociedade e as que são mera picaretagem.

>> Norman Gall: "O Brasil tem de cair na real"

O programa mexicano Oportunidades tem uma peculiaridade ousada: dá prioridade à educação das meninas. O avanço delas na escola rende à família mais dinheiro que o avanço dos meninos (também recompensado). O programa foi concebido assim porque percebeu-se que as famílias pobres com filhos de ambos os sexos tendiam a manter os garotos na escola e a retirar as garotas, para que elas trabalhassem. O Oportunidades nasceu em 1997, com o nome de Progresa. Logo nos primeiros anos, elevou em 20% o número de meninas matriculadas, entre as famílias beneficiadas. Os resultados gerais foram impressionantes – a pobreza caiu 5% no primeiro ano e 18% no segundo. Hoje, quase 6 milhões de famílias mexicanas, a maior parte em áreas rurais, fazem parte do Oportunidades. Santiago Levy, cientista social e ex-ministro das Finanças do México, é uma das cabeças responsáveis pelo programa. Em 2006, no livro Progress against poverty (Progresso contra a pobreza), Levy extraiu da experiência mexicana lições úteis para os brasileiros.

Ele afirma que bolsas condicionais precisam ter foco e estimativa de duração – ao menos uma projeção de cobertura populacional e tempo necessário para atingir o objetivo. O Bolsa Família peca por não ter nenhuma das duas. Não há limite para o número de famílias que poderão ser beneficiadas, nem há projeção de quanto tempo ele deve ser mantido.

Na redução da desigualdade, o trabalho é quatro vezes mais importante que o bolsa família

Além de garantir renda a famílias pobres e de quebrar o ciclo de perpetuação da pobreza, as bolsas geram outros efeitos. Elas acarretam uma redistribuição em que o governo recolhe dinheiro de todos os contribuintes e o transfere a um grupo de cidadãos selecionados. Isso só tem sentido se o benefício a esses cidadãos for considerado de interesse coletivo. Uma das bolsas consiste em dar incentivo financeiro a estudantes mais pobres em troca do mérito escolar. Se o aluno estudar mais, toda a família ganha – e, espera-se, a sociedade também, pois o bom aluno que faz a família ganhar mais pode se tornar também um modelo para os outros alunos com quem convive. É o caso de uma bolsa adotada em Minas Gerais em 2011, sob a marca Banco Travessia. Por esse programa, a família ganha mais benefícios à medida que os filhos obtenham melhores notas escolares, que os pais façam cursos profissionalizantes e conquistem emprego formal. Tenta-se, assim, acabar com o dilema em alguns lares pobres que recebem o Bolsa Família: os adultos temem perder o benefício se aceitarem um emprego. Segundo uma pesquisa feita pela Confederação Nacional do Transporte com o instituto MDA, divulgada em fevereiro, 20% dos beneficiados prefeririam manter o benefício a trabalhar com registro.

832_como_e_um_bom_programa_de_bolsa.jpg

Os benefícios no programa mineiro vêm na forma de “travessias” – moedas fictícias que podem ser trocadas por até R$ 5 mil no prazo de três anos, duração máxima do programa por família. Elas são perdidas, caso os filhos deixem a escola. Iniciativa semelhante existe no programa Melhor Jovem, do Rio de Janeiro, para estudantes do ensino médio. Lógica similar segue o programa Chapéu de Palha, em Pernambuco. Pescadores e produtores de frutas e cana recebem benefícios na entressafra ou no período em que não podem pescar, desde que façam cursos profissionalizantes, a fim de encontrar outras formas de obter renda. Uma condição importante, segundo o mexicano Levy, é que os governos federal e locais conversem, a fim de evitar a proliferação de bolsas. Adicionar novos programas que competem ou se sobrepõem aos já existentes “pode criar uma estrutura perversa que machuca o pobre”, escreveu Levy. “Os recursos adicionais disponíveis para o alívio da pobreza serão mais eficazes se forem dedicados a obras de infraestrutura, à melhor prestação de serviços ou ao reforço de programas produtivos”, afirma Levy. Diante desses alertas, deve-se perguntar: a próxima gestão do governo federal criará as bases para que um dia o Brasil supere sua dependência de bolsas? “Quanto mais elas são usadas, mais se torna difícil, politicamente, diminuí-las no futuro”, diz José Márcio Camargo, da PUC. No Bolsa Família, é possível detectar indícios de fragilidades. Seria injusto cobrar resultados definitivos do programa em apenas 13 anos, já que seus efeitos se fazem sentir de uma geração para outra. Mas há sinais do que precisa ser aperfeiçoado.

>> Dilma diz que o Bolsa Família impulsionou a economia

A família de Josete Teixeira, com outras três, foi do primeiro grupo a receber o Bolsa Escola, das mãos do então presidente Fernando Henrique Cardoso, em Capão Bonito, São Paulo, em 2001. Josete morreu em 2012. Em Capão Bonito, na casa que era dela, moram atualmente as duas filhas, um filho e quatro netos. Rosana, uma das filhas de Josete, de 37 anos, ainda recebe o Bolsa Família e voltou ao ensino médio. Sua irmã, Gabriele, de 18 anos, começou a estudar engenharia civil em fevereiro, no Instituto de Ensino Superior, a 66 quilômetros de sua cidade natal. A filha de Rosana, Fernanda, também tem 18 anos e faz um curso de manejo florestal. A educação distingue a geração atual da anterior, mas ainda não há efeito visível na renda. Há casos mais preocupantes. Rosa Braz da Silva, de 48 anos, também estava no primeiro grupo de beneficiários do Bolsa Escola. Treze anos depois, ela mora na mesma casa, emprestada pelo irmão, com o marido e três dos quatro filhos. Há três maiores de idade na casa. As únicas fontes fixas de renda são os R$ 152 do Bolsa Família e o seguro-desemprego do pedreiro Valdeci, marido de Rosa. Os dois filhos mais novos, de 7 e 16 anos, continuam na escola.A filha mais velha, Karolayne, de 18 anos terminou o ensino médio graças ao recebimento do Bolsa Família, mas não trabalha nem estuda. Ela reclama de falta de opções. “Aqui não tem o que fazer”, diz.

832_bolsa_escola.jpgLEGADO
Rosana, Gabriele e Fernanda, filhas e neta de uma das primeiras beneficiadas pelo Bolsa Escola. As duas mais novas vão à faculdade (Foto: Letícia Moreira/ÉPOCA)

Se há programas meritórios que precisam de aperfeiçoamento, muitos outros nem deveriam existir. Proliferam ideias populistas e ruins. Lançada em 2011 pela prefeitura de Serra, Espírito Santo, uma certa Bolsa Viagra fez sucesso com o público-alvo. Bastava aos pacientes cadastrados retirar comprimidos contra a disfunção erétil em postos de saúde. Um ano depois, uma nova gestão percebeu que gastar R$ 44,5 milhões para fazer a felicidade de poucos era uma péssima política pública. Há falhas de outro tipo no Seguro Defeso, apelidado de Bolsa Pesca, do governo federal. Desde 2011, ele paga um salário mínimo aos pescadores impossibilitados de pescar no período de reprodução dos peixes. Mas não exige contrapartida. Nada incentiva o pescador a aprender a poupar para os meses de escassez, a mudar de ramo ou a encontrar atividades alternativas que complementem sua renda. As bolsas sem benefício para a coletividade tendem a se multiplicar, se o eleitor permitir. “Isso é um erro e um retrocesso. O passo seguinte é melhorar a qualidade do sistema educacional público, a partir da pré-escola. Isso não foi feito. Perdeu-se muito o foco”, diz Camargo.

Os programas de renda mínima precisam ter um papel apenas complementar, ao lado de outras ações que deveriam ser as verdadeiras prioridades. Um estudo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), de 2011, mostra que os programas de assistência só funcionam na presença de outras iniciativas que sirvam à população inteira. O Estado deveria agir para que toda a população tivesse acesso a pelo menos algum nível de saúde e educação. Deveria também ajudar a criar condições propícias para a geração de empregos e oferta de treinamento profissional. A renda do trabalho foi responsável por 58% da queda da desigualdade no Brasil entre 2001 e 2011, de acordo com um estudo do Ipea. “O Bolsa Família é um programa de superação da fome. Para sair da pobreza, a única saída é a geração de renda”, diz José Roberto Fonseca, diretor do Instituto Ecoengenho, que realiza projetos sociais em Alagoas. Como diz o próprio ministro Marcelo Neri, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, se concorresse ao Oscar, o Bolsa Família receberia o prêmio de melhor ator coad­juvante.

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Cara, calma lá, os financiamentos do BNDES tu vai me dizer que não é dinheiro público? Tem que ser muito ingenuo.

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Guest João Gilberto

Cara, calma lá, os financiamentos do BNDES tu vai me dizer que não é dinheiro público? Tem que ser muito ingenuo.

...esse é o dinheiro teoricamente mais seguro, visto ser um empréstimo e não um gasto pura e simplesmente, ou não? Além do mais, esse dinheiro não está na conta não? Não estou vendo esse tipo de discriminação no gráfico ou na matéria.

E o dado mais importante: esse gasto está sendo feio ao longo de 7 anos, acumulando mais nestes últimos, enquanto os demais gastos são mensais!

Não estou dizendo que o aumento do gasto é justificável, mas que o "povo" quando quer se cega para outros dados que deveria questionar com muito mais coerência nas ruas.

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Cara, calma lá, os financiamentos do BNDES tu vai me dizer que não é dinheiro público? Tem que ser muito ingenuo.

É dinheiro do BNDES sendo EMPRESTADO, dinheiro que não seria usado para construir escolas ou hospitais.

Também concordo que o volume gasto foi um absurdo, mas um absurdo previsível, todo mundo sabia que ia ser essa vergonha, ainda mais depois do Pan de 2007 no Rio de Janeiro. E acho que esse dinheiro poderia ter sido melhor empregado em destinos mais produtivos, mas pelo menos houve avanços na mobilidade urbana, nos aeroporto, portos, modernização da infraestrutura das cidades, mesmo que "à força", acredito que metade dessas obras não teriam saído se não fosse a Copa.

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Guest João Gilberto

Vocês acham mesmo que essa galera vai pagar?

...não existe isso de eu achar, é um fato, TEM que pagar! Existe um CONTRATO que tem que ser respeitado. Bancos não são instituições de caridade para jogar dinheiro no lixo e isso independe de se o banco faz ou não parte do braço do governo. Além do mais, você está esquecendo uma coisinha simples: algumas ou a maioria das dividas estão parceladas em, NO MÍNIMO, mais de 10 anos, ou seja, outros possíveis governos poderão cobrá-la ou você mesmo está sugerindo que o PT ficará mais 30 anos no poder sem cobrar isso?! Por favor, quem está sendo ingenuo aqui é você.

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Vocês acham mesmo que essa galera vai pagar?

Em tese tem que pagar. É mais fácil perguntar se esses juros não foram bons demais e se esses recursos não poderiam estar financiando outros tipos de atividade.

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...não existe isso de eu achar, é um fato, TEM que pagar! Existe um CONTRATO que tem que ser respeitado. Bancos não são instituições de caridade para jogar dinheiro no lixo e isso independe de se o banco faz ou não parte do braço do governo. Além do mais, você está esquecendo uma coisinha simples: algumas ou a maioria das dividas estão parceladas em, NO MÍNIMO, mais de 10 anos, ou seja, outros possíveis governos poderão cobrá-la ou você mesmo está sugerindo que o PT ficará mais 30 anos no poder sem cobrar isso?! Por favor, quem está sendo ingenuo aqui é você.

Cara, na teoria isso tudo é lindo e maravilhoso, as coisas não são assim cara...

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Eu acho que algumas coisas tem que ser feitas pra se corrigir cagadas históricas, como cotas, etc, mas é muita piada a maneira como a fiscalização é feita. Tu consegue fraudar o sistema fácil fácil e não precisa de muito não.

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Guest João Gilberto

Cara, na teoria isso tudo é lindo e maravilhoso, as coisas não são assim cara...

...aí você quebra as pernas de qualquer pessoa meu amigo! Você fez um questionamento, eu dei uma explicação real e você volta com uma reflexão de suposição?! O sistema pode ser falho? Pode! As pessoas são corruptíveis? São! Mas o que me resta a não ser acreditar que a coisa vai ser cumprida? Se a gente for ficar pensando nas inúmeras possibilidades de que tudo vai acabar em merda e por isso não vamos arriscar, também NUNCA vai dar certo.

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Tem que tentar fiscalizar o máximo possível (sobretudo a presença na escola), mas a verdade é que se fizessem uma fiscalização extremamente rigorosa do Bolsa Família, essa fiscalização provavelmente custaria mais que o próprio Bolsa Família.

São 15 milhões de famílias beneficiadas, nos lugares mais remotos do país, muitos que vivem totalmente fora do sistema (com empregos informais, sem cartão de crédito, etc.) e todo mundo abaixo da faixa do imposto de renda.

Seria muito mais fácil fiscalizar os grandes sonegadores do país que seria mais barato e envolvem valores equivalentes a 10, 15, 20 bolsas família (o programa inteiro).

O problema é essa corrupção generalizada e total desrespeito pelas regras no país.

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Tem que tentar fiscalizar o máximo possível (sobretudo a presença na escola), mas a verdade é que se fizessem uma fiscalização extremamente rigorosa do Bolsa Família, essa fiscalização provavelmente custaria mais que o próprio Bolsa Família.

São 15 milhões de famílias beneficiadas, nos lugares mais remotos do país, muitos que vivem totalmente fora do sistema (com empregos informais, sem cartão de crédito, etc.) e todo mundo abaixo da faixa do imposto de renda.

Seria muito mais fácil fiscalizar os grandes sonegadores do país que seria mais barato e envolvem valores equivalentes a 10, 15, 20 bolsas família (o programa inteiro).

O problema é essa corrupção generalizada e total desrespeito pelas regras no país.

O recadastramento periódico já ajuda muito. O problema é coisa fácil de fiscalizar que passa batido durante muito tempo. Tipo o vereador aqui que recebia bolsa família pela esposa.

E sonegação é a coisa mais canalha desse país. O que tem de fiscal tomando cafezinho de graça em muito lugar aí não é brincadeira. E quando os caras querem, fodem com qualquer um.

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Tem que tentar fiscalizar o máximo possível (sobretudo a presença na escola), mas a verdade é que se fizessem uma fiscalização extremamente rigorosa do Bolsa Família, essa fiscalização provavelmente custaria mais que o próprio Bolsa Família.

São 15 milhões de famílias beneficiadas, nos lugares mais remotos do país, muitos que vivem totalmente fora do sistema (com empregos informais, sem cartão de crédito, etc.) e todo mundo abaixo da faixa do imposto de renda.

Seria muito mais fácil fiscalizar os grandes sonegadores do país que seria mais barato e envolvem valores equivalentes a 10, 15, 20 bolsas família (o programa inteiro).

O problema é essa corrupção generalizada e total desrespeito pelas regras no país.

Se um projeto exige que a fiscalização dele custe mais do que o próprio, ele já é um projeto falho desde a sua implementação. O fato de ajudar uns "compensando" os muitos casos de roubo por parte de quem não precisa já seria o suficiente para pensar muito melhor em outra maneira de implementá-lo ou de colocar mais regras para fazer parte dele.

E esse negócio de "tem que fiscalizar só os grandes por ser mais barato" é nada mais do que usar um peso e duas medidas. Aquilo que nunca deveria ser usado em política da qual, teoricamente, serve a todos.

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Se um projeto exige que a fiscalização dele custe mais do que o próprio, ele já é um projeto falho desde a sua implementação. O fato de ajudar uns "compensando" os muitos casos de roubo por parte de quem não precisa já seria o suficiente para pensar muito melhor em outra maneira de implementá-lo ou de colocar mais regras para fazer parte dele.

E esse negócio de "tem que fiscalizar só os grandes por ser mais barato" é nada mais do que usar um peso e duas medidas. Aquilo que nunca deveria ser usado em política da qual, teoricamente, serve a todos.

Discordo totalmente. Os recursos são escassos, não dá pra fazer tudo, logo, é melhor investigar quem sonega centenas de milhares do que a esposa do vereador que recebe R$ 100 por mês.

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Discordo totalmente. Os recursos são escassos, não dá pra fazer tudo, logo, é melhor investigar quem sonega centenas de milhares do que a esposa do vereador que recebe R$ 100 por mês.

Curioso que é só no Brasil e nos países considerados como "corruptos" que há essa "imensa dificuldade e escassez" quando se trata de fiscalização e aplicação real do dinheiro dos impostos.

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Curioso que é só no Brasil e nos países considerados como "corruptos" que há essa "imensa dificuldade e escassez" quando se trata de fiscalização e aplicação real do dinheiro dos impostos.

Isso cara, vamos fiscalizar com toda rigorosidade todo mundo que recebe 70~80 reais por mês do Governo Federal, com certeza! Isso que vai resolver nossos problemas.

Enquanto isso, tem portaria proibindo execução de quem deva menos de 20 MIL reais pro Fisco... rs. Se nesse caso eu já entendo a motivação (a execução vai ser mais cara pro Estado do que o dinheiro recuperado), imagina na fiscalização de programas como o Bolsa Família, que envolve valores muito mais irrisórios.

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Curioso que é só no Brasil e nos países considerados como "corruptos" que há essa "imensa dificuldade e escassez" quando se trata de fiscalização e aplicação real do dinheiro dos impostos.

É uma questão de custo benefício, o governo vai perder dinheiro com isso.

O valor gasto com essa fiscalização extra seria maior do que o valor que deixaria de ser pago. É matemática simples.

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