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Nei of
Supremo é o povo
Valduxo: Eles conseguiram, bandidos, eles vão vencer!
Disse meu filho caçula, entrando no apartamento, voz sumida, desabando em seguida seu corpo na poltrona da sala, ao mesmo tempo em que afundava os dedos na careca rala. Naquela época ele estava com quase quarenta anos. Era sempre assim quando alguma coisa o preocupava: mergulhava os olhos no celular, segurando a cabeça; ou viajava com o primo.
Eu e o Ricardo, lembro-me como se fosse hoje, embora isso tenha acontecido há tantos anos, assistíamos a uma brilhante aula sobre tática e esquemas do Professor Joel Carvalho. Rochele, nossa madrasta, tricotava um pagãozinho, enquanto Paula estudava hebraico.
Pedi para Bananinha, meu filho Ricardo, gravar a a aula. Ele se fez que não entendeu, alegando que o Professor Joel já não estava mais entre nós, e que a aula era gravada. Levantei, sacudi a farofa da camisa - Rochele odiava quando eu fazia isso. Senti uma ponta na barriga, mas me esforcei para levantar.
Eu: Como assim venceram, Valdo? Você disse que a vitória era certa.
V: Era certa até a Rochele tomar o celular, né.
A rivalidade entre meu filho mais novo e sua madrasta era antiga.
Eu ainda não consegui acreditar na notícia. Andava nas ruas, recebia o abraço dos torcedores. Valduxo prosseguiu.
V: O conselho deliberativo ajudou também. O presidente do STJD, aquele vampiro do Joca Carvalhais, está por trás disso também.
Eu: Não acredito. Liga para o Donald Textor.
V: Já tentei, não nos atende.
Eu: Bom, paciência. E o que vão fazer, me demitir?
V: Antes fosse, né pai. Vão proibir você de atuar por aqui. Talvez até proibir de treinar no mundo todo.
Eu: Caramba, não pode, fiz tudo dentro das quatro linhas.
A conversa se estenderia por mais alguns minutos. O telefone não parava de tocar. Me sentia bastante cansado e triste. Entrei no quarto, tranquei a porta. Chorei por horas.
Lembro de ter ficar assim por uma semana. Estava a espera de que os torcedores batessem na porta, me carregassem até a sede do clube e obrigassem aquela corja a me aceitar de volta.
Ninguém apareceu.
Viajei para encontrar Donald Textor. Precisava trabalhar, nem que fosse no exterior. A falta de experiência estrangeira pesava contra, mas eu tinha amigos e o Ricardo que já trabalhara como roupeiro no exterior.
*Essa é uma história ficcional que pode ou não ter sido baseada em fatos ou pessoas reais. Qualquer semelhança com a realidade trata-se de coincidência e não intenção.
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