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Proposta de ministério que altera ensino de história causa reações


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Proposta de ministério que altera ensino de história causa reações

SABINE RIGHETTI
22/11/2015 02h00

Se a base nacional curricular proposta pelo Ministério da Educação passasse a valer hoje, as escolas de todo o país teriam de fazer uma mudança significativa no ensino de história, especialmente no ensino médio.

Isso porque, atualmente, sem uma ementa "padrão" a ser seguida, as escolas se baseiam fortemente em uma "visão europeia" e cronológica da história: antiga, medieval, moderna e contemporânea –isso além de história do Brasil e da América.

A nova proposta de currículo de história no ensino médio, elaborada por especialistas convidados pelo MEC, vai no sentido oposto. Dá ênfase, por exemplo, à história das Américas, da África e história indígena nos dois primeiros anos do ensino médio.

História antiga europeia, como Grécia e Roma, ficariam em segundo plano. Nem sequer aparecem na proposta curricular do MEC. 

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O projeto da proposta curricular ainda segue em discussão, de acordo com o MEC, pelo menos até o final do primeiro semestre de 2016.

Mesmo assim, já está tirando o sono dos acadêmicos mais conservadores e dividindo opiniões desde que foi lançado, no início de setembro.

Hoje, as escolas públicas que oferecem ensino médio seguem diretrizes estaduais. As particulares têm liberdade de ensinar o que quiserem desde que não firam alguns princípios "básicos", que são acompanhados por supervisores do governo estadual.

"Eu não poderia, hipoteticamente, ensinar princípios básicos da teoria nazista", explica o historiador Silvio Freire, diretor do ensino médio do colégio Santa Maria. "No entanto, se quisesse excluir Idade Média do currículo de história, por exemplo, eu teria liberdade para fazer isso."

'EXTRAOFICIAL'

Na prática, o Santa Maria não excluiria o conteúdo de Idade Média do currículo por um simples motivo: o tema aparece recorrentemente em exames vestibulares importantes e no próprio Enem, cujas notas são usadas para ingresso em universidades federais e em algumas estaduais e particulares.

"Sempre digo que existe um currículo extraoficial: são os processos seletivos das boas universidades", diz Freire.

Muitas escolas preferem seguir a ementa tradicional da Fuvest -processo seletivo da USP, melhor universidade do país segundo o RUF (Ranking Universitário Folha).

É o caso do Bandeirantes, que diz seguir a ementa de história do exame e distribui o conteúdo ao longo dos três anos do ensino médio. A escola tem boa aprovação na USP e também figura entre as dez melhores escolas paulistas no ranking do Enem.

No Dante Alighieri, tradicional escola particular paulistana, o conteúdo de história também segue a Fuvest. "Não posso ignorar a Antiguidade Clássica porque todo ano há uma questão sobre Grécia na Fuvest", explica Jackson Fergson de Farias, professor do Dante.

Na última Fuvest, de 2015, uma das 90 questões de conhecimentos gerais abordou o aspecto disperso e pouco unificado politicamente dos gregos na Antiguidade. 

"A Fuvest realmente tem uma abordagem bastante tradicional", diz Gustavo Peixoto, coordenador de história da Adaptativa, empresa parceira da Folha na elaboração dos simulados na Fuvest e do Enem. "O problema vai ser se exames como a Fuvest seguirem uma linha e o currículo nacional seguir outra", diz.

No ensino público paulista, Grécia e Roma também são ensinadas no 1º ano do ensino médio -as escolas estaduais de São Paulo seguem uma ementa que define o conteúdo que deve ser ensinado a cada bimestre.

Já no 2º ano do ensino médio da rede pública paulista estão Renascimento, sistemas coloniais europeus e Revolução Francesa -uma proposta bem diferente da elaborada pelo MEC.

Apesar da polêmica, as novidades do currículo de história até que podem ser consideradas moderadas. Para a diretora da Faculdade de Educação da PUC-SP, Neide Noffs, a base curricular seria realmente inovadora se fosse interdisciplinar.

"O MEC continua enxergando as disciplinas de maneira separada. História segue separada da geografia, da biologia. Tornar o ensino interdisciplinar e mais conectado com a realidade do aluno seria, sim, transformador", afirma.

ESTADOS UNIDOS

Uma das inspirações para a construção de uma base curricular nacional vem de países como os Estados Unidos. Lá, o debate começou na década de 1990 –logo depois de a Constituição brasileira de 1988 incluir a fixação de "conteúdos mínimos para o ensino fundamental". O currículo norte-americano, no entanto, veio antes: em 2010.

A proposta norte-americana traz as habilidades que os alunos devem ter ao final de ciclos de três anos.

Em história e estudos sociais, o currículo define, por exemplo, que os alunos do final do ensino médio têm de saber "diferenciar pontos de vista divergentes sobre um mesmo evento histórico".

"Vamos percorrer um caminho já trilhado por quase todas as nações com bons resultados educacionais", diz Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann –instituição que encabeçou o "Movimento pela Base".

A Lemann deve lançar, em breve, um relatório sobre a proposta do MEC para cada uma das disciplinas.

Assim como no Brasil, nos EUA muita gente torceu o nariz para o currículo comum. Alguns Estados, como a Carolina do Norte, não aceitaram a diretriz nacional e adotaram ementas próprias.

A proposta curricular ainda segue em discussão ao menos até meados de 2016 -a ideia inicial era que fosse encaminhada ao CNE (Conselho Nacional de Educação) até o final deste ano.

Em história, as mudanças no currículo não são consenso nem entre os especialistas do MEC. A ementa da disciplina atrasou e foi publicada depois das demais ementas, lançadas no início de setembro.

O ensino de história da África e da cultura afro-brasileira, no entanto, não é uma novidade da proposta do MEC. O tema já havia sido incluído, em 2003, na LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e, desde então, começou a fazer parte dos currículos.

O próprio Enem costuma trazer em média duas questões (de um total de 180) sobre história da África.

"Na história tradicional ensinada hoje, América e a África passam a existir a partir das colonizações europeias," diz Silvio Freire, diretor do ensino médio do colégio Santa Maria. "Parece, porém, que a principal polêmica sobre o ensino de história na proposta curricular é que a determinação vem do governo."

CURRÍCULO DE HISTÓRIA EM DEBATE
Proposta de ementa da base nacional curricular é alvo de críticas


Como é hoje
Escolas se baseiam em livros didáticos, que são escolhidos a partir de princípios da própria escola e do que cai nos grandes vestibulares e no Enem

Como será
Ideia é que 60% do conteúdo siga a proposta curricular do MEC e que o restante respeite regionalidades (como revoluções estaduais)

*

1988
Base nacional curricular consta no Artigo 210 da Constituição, que define que "serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental"

2015
Base é lançada em 30 de julho pelo MEC, com a proposta de ser discutida até o final do 1º semestre de 2016, antes de ser encaminhada ao Conselho Nacional de Educação

190 mil
Escolas públicas e particulares do Brasil serão afetadas com o novo currículo

2 milhões
De professores atuam nessas escolas

Fontes: Base Nacional Curricular e ementa de história da Fuvest, seguida pelas escolas consultadas nesta reportagem

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Resumindo: querem estudar só as partes frágeis da história, os explorados, américa latina, áfrica, índios. História indígena é meu pau de óculos. Estudar os exploradores e como chegaram ao padrão desenvolvido, pra tentar replicar o mais rápido possível, não.

 

É isso mesmo ou entendi errado na minha passada de olho?

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Resumindo: querem estudar só as partes frágeis da história, os explorados, américa latina, áfrica, índios. História indígena é meu pau de óculos. Estudar os exploradores e como chegaram ao padrão desenvolvido, pra tentar replicar o mais rápido possível, não.

 

É isso mesmo ou entendi errado na minha passada de olho?

 

Eu estou com a mesma impressão.

Pena... ainda mais na condição de fã da história geral, acho isso meio sem noção. Espero que não seja aprovado.

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dammit professores de história preguiçosos que fazem alunos se desinteressarem pela matéria mais importante da escola.

mas do que eu entendi do texto, trechos importantes ficam fora de discussão nas duas propostas, então só muda o que é abordado, na verdade a coisa não melhora :(

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Independente da proposta, fica muito claro o quanto nosso ensino é refém do "passar no vestibular". Isso sim é que deveria ser revisto. Não somos instigados a pesquisar, questionar, aprofundar... apenas replicar para passar no vestibular. O reflexo está aí...

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Independente da proposta, fica muito claro o quanto nosso ensino é refém do "passar no vestibular". Isso sim é que deveria ser revisto. Não somos instigados a pesquisar, questionar, aprofundar... apenas replicar para passar no vestibular. O reflexo está aí...

Mas aí o método de cobrança do vestibular tem que mudar também. Não adianta passar o EM sendo instigado pra "x" e no vestibular te cobrarem "y". Aí tu não é aprovado na universidade e atrasa a vida.

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Eu acho que o que precisa ser estudado são os principais acontecimentos na história e um pouco, bem pouco, sobre a origem da América. Sinceramente, o papo dos índios, escambo, bandeirantes e o escambau é extremamente chato. Só vai ficar interessante na escravatura e com o coronelismo pra cima.

Deviam é estudar pra porra sobre Ditadura, pra ver se uns abobados crescem direito.

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  • Vice-Presidente

Eu acho que o que precisa ser estudado são os principais acontecimentos na história e um pouco, bem pouco, sobre a origem da América. Sinceramente, o papo dos índios, escambo, bandeirantes e o escambau é extremamente chato. Só vai ficar interessante na escravatura e com o coronelismo pra cima.

Deviam é estudar pra porra sobre Ditadura, pra ver se uns abobados crescem direito.

Mas a ditadura daqui foi ridícula se comparada com qualquer outra da história.

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Sinceramente, o papo dos índios, escambo, bandeirantes e o escambau é extremamente chato. Só vai ficar interessante na escravatura e com o coronelismo pra cima.

puts, verdade. essa lenga-lenga na evolução da história é uma das coisas mais chatas no tempo de escola. parece que vc passa 10 anos estudando o que aconteceu antes da criação do mundo e depois no finzinho do ensino médio passa tudo que é legal voando. isso quando passa.

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Proposta do MEC para ensino de história mata a temporalidade

RESUMO Este texto critica a visão de história da Base Nacional Comum Curricular proposta pelo Ministério da Educação. Ao abandonar a temporalidade em prol de certa noção de cultura, a BNC bane a ideia de história em construção e apaga dos livros didáticos as páginas consagradas à formação das modernas sociedades ocidentais.

*

O ensino de história deve se basear "em ensinamento crítico, mas sem descambar para ideologia". A recomendação apareceu no Facebook do já então ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, como uma crítica explícita à Base Nacional Comum Curricular (BNC) de história, divulgada quando ele ainda chefiava a pasta.

Por uma dessas extraordinárias coincidências, Janine pronunciou-se horas depois da publicação de artigo de nossa autoria sobre o mesmo assunto ("História sem tempo", "O Globo", 8/10). E, casualmente, ele repetiu um argumento nuclear daquele artigo. "Não havia, na proposta, uma história do mundo", escreveu, cutucando a ferida de um programa que ignorava "quase por completo o que não fosse Brasil e África".

Janine tem razão quando enquadra o debate na moldura dos direitos dos estudantes e enfatiza o tema, tão esquecido, da pluralidade. "É direito de todo jovem saber o trajeto histórico do mundo. Precisa saber sobre a Renascença, as revoluções, muita coisa. Mas não há uma interpretação única de nenhum desses fenômenos. E é esta diversidade que a educação democrática e de qualidade deve garantir." Aloizio Mercadante, novo titular do ministério, parece igualmente convencido de que há algo de fundamentalmente errado num documento com "muita África e história indígena e pouca história ocidental".

As críticas de Janine e Mercadante têm peso político suficiente para provocar algum tipo de reforma na BNC, mas apenas roçam a superfície do problema: atrás da abolição da "história ocidental" encontra-se a supressão do próprio sentido temporal que define a disciplina.

Marc Bloch disse que "a história é a ciência dos homens no tempo". Na direção oposta, os autores (anônimos e, assim, "especialistas") do documento do MEC investiram numa sociologia do multiculturalismo que esvazia a temporalidade e, com ela, a gramática da historiografia. De fato, se aplicada, a proposta oficial significará o cancelamento do ensino de história. A narrativa histórica canônica estrutura-se sobre um esquema temporal clássico: Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna, Idade Contemporânea. De acordo com a BNC, alunos do 6º ano do ensino fundamental, com 11 ou 12 anos de idade, devem aprender a "problematizar" o "modelo quadripartite francês". Dali em diante, até o fim do ensino médio, o "modelo" nunca mais aparece.

Junto com ele, desintegra-se o ensino da Grécia clássica, do medievo das catedrais, do comércio e das cidades e, ainda, das rupturas filosóficas, culturais e religiosas que anunciaram a modernidade.

No lugar disso, segundo o documento do MEC, o ensino médio é chamado a se concentrar no estudo dos "mundos ameríndios, africanos e afro-brasileiros" (1º ano), dos "mundos americanos" (2º ano) e dos "mundos europeus e asiáticos" (3º ano). Assim, expulsa da escola, a temporalidade é substituída por supostos atores coletivos, construídos a partir de uma tosca noção de cultura.

TEMPORALIDADE

A história entrou na escola pelas mãos do Estado-Nação europeu, no século 19. Inexiste novidade na crítica ao paradigma temporal clássico, impregnado de positivismo, evolucionismo e eurocentrismo. Contudo superá-lo não implica suprimir a gramática da temporalidade.

O programa (mal) camuflado da BNC não é incorporar a África, a Ásia e a América pré-colombiana ao ensino de história, mas recortar dos livros didáticos as páginas consagradas à formação das modernas sociedades ocidentais, erguidas sobre o princípio da igualdade dos indivíduos perante a lei.

Numa primeira versão da proposta, informa Janine, os autores orientavam o estudo de revoltas coloniais com a participação de escravos ou índios, mas "deixavam de lado a Inconfidência Mineira". Seria um equívoco concluir daí que a exclusão decorria, principalmente, da ausência de escravos ou índios no movimento dos inconfidentes. O alvo da censura situa-se mais abaixo: na presença das ideias iluministas que conectam Tiradentes às revoluções Americana e Francesa.

Há método no caos da BNC. Sem a ágora grega, praça de mercado e praça pública, os estudantes ignorarão as origens do individualismo e da democracia –e a relação que existe entre ambos. Sem a Idade Média europeia, jamais entenderão a importância das religiões monoteístas na formação de sociedades que, pela primeira vez, englobaram grupos geográfica e culturalmente diversos por meio de valores éticos universalistas. Sem o Antigo Regime, não serão apresentados à filosofia das Luzes, base do contrato político da cidadania e fonte da ideia de que as pessoas são donas de suas escolhas e seus destinos. Sem a contestação socialista ao liberalismo, que emergiu na Europa novecentista, não compreenderão a trajetória de afirmação dos direitos sociais e trabalhistas.

O vácuo dessas múltiplas ausências será preenchido pelo ensino de histórias paralelas de povos separados pela intransponível muralha da "cultura".

A "história ocidental" mencionada por Mercadante converteu-se, num certo ponto, em história universal, pois a expansão dos Estados europeus –um percurso balizado pelas navegações, pela Revolução Industrial e pelo imperialismo– entrelaçou o mundo inteiro. O paradigma temporal clássico refletia a idealização desse processo. Uma educação democrática tem o dever de narrá-lo na sua inteireza, evidenciando suas luzes e suas sombras.

A herança ocidental abrange tanto a liberdade quanto a opressão: o habeas corpus e o tráfico escravista, a soberania popular e a tirania, a independência nacional e o colonialismo, a igualdade política e o racismo, os direitos humanos e o totalitarismo, a vacinação e a morte radioativa. A educação escolar tem o desafio de investigar tais complexidades e contradições. Mas, à abordagem dos educadores, a BNC contrapõe o método típico dos doutrinadores, fornecendo uma narrativa sobre mocinhos e bandidos que infantiliza professores e estudantes.

Quando Bloch define a história pela dimensão temporal, ele quer enfatizar seu caráter cronológico: o sentido de "processo", isto é, as relações e interações que promovem constantes mutações sociais.

A "história em construção" é precisamente aquilo que os formuladores da BNC pretendem dissolver, de modo a fabricar sujeitos a-históricos: grupos étnicos ou raciais identificados por supostas essências culturais e, portanto, impermeáveis à mudança. Eles não querem, como alegam, conferir visibilidade à história da África, da Ásia ou da América pré-colombiana, mas fabricar a "história dos africanos", a "história dos ameríndios" e a "história dos asiáticos", numa cartolina que incluiria, ainda, a "história dos europeus".

FETICHIZAÇÃO

Seria um equívoco interpretar a BNC como uma revolta contra o "ocidentalismo". De fato, não há nada mais "ocidental" que a fetichização da cultura. O essencialismo cultural deita raízes na "ciência das raças", elaborada à sombra do imperialismo, que falava do "fardo do homem branco" e produzia quadros descritivos sobre os "negros" (africanos), os "amarelos" (asiáticos) e os "vermelhos" (ameríndios). Atualmente, sob o mesmo registro operativo, difunde-se a tese neoconservadora do "choque de civilizações". Os autores convocados pelo MEC usam a linguagem e os conceitos do "choque de civilizações", fabricando uma cópia invertida da célebre narrativa sobre a "missão civilizatória" dos europeus.

A escritura da história segue caminhos diversos. A historiografia liberal enfatiza a política e o indivíduo. Os historiadores marxistas colocam os holofotes sobre as classes sociais e a economia. Mais recentemente, a nova história alargou e fragmentou o campo de investigação, abordando as mentalidades, ou seja, as representações sociais. A BNC, contudo, rejeita em bloco todo esse variado repertório, pois recusa a temporalidade. Nesse passo, acende uma fogueira destinada a consumir as obras consagradas e a melhor produção historiográfica acadêmica.

Para que serve o ensino de história? Na sua origem, a história escolar servia para inscrever a pátria no mármore da eternidade. A antiga visão utilitária reaparece, sob roupagem atualizada, na BNC.

Reagindo à crítica tardia de Janine, a professora Márcia Elisa Ramos, da Universidade Estadual de Londrina, defendeu a proposta do MEC recorrendo a uma alegação orwelliana de aparência banal: "O ensino de história deve não apenas estudar as diferenças mas compreender para respeitar. O currículo apenas contempla os objetivos do ensino de história, que são respeito à diversidade, pluralidades étnico-raciais, religiosa, de gênero etc.".

Não se ensina biologia para que os jovens aprendam regras de saúde e higiene. Não se ensina química para evitar a ingestão de substâncias tóxicas pelos alunos. Não se ensina física para alertar sobre o perigo de saltar da janela do edifício. Não se ensina português para treinar a habilidade de redigir solicitações de emprego. Não se ensina matemática para calcular os rendimentos da poupança. Tudo isso, bem como a aversão a preconceitos étnicos, raciais, religiosos ou de gênero, são subprodutos úteis da educação escolar. Mas o conhecimento serve a si mesmo: é um passaporte que garante acesso ao diálogo do mundo.

Diferentes indivíduos leem o mundo de formas diversas. Escola não é igreja: não é lugar de pregação, de tutela ou de retificação de mentes "desviantes".

A história, como as outras disciplinas, serve para acender a chama da curiosidade intelectual, ensinar os fundamentos do pensamento científico, habilitar os jovens para investigar, interpretar e refletir. Nossos doutrinadores de plantão, sábios "especialistas" que não declinam seus nomes, jamais concordarão com isso.

DEMÉTRIO MAGNOLI, 57, sociólogo e doutor em geografia humana, é colunista da Folha.

ELAINE SENISE BARBOSA, 50, é professora de história, autora de "História das Guerras" (Contexto). 

Folha

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Eu acho que o que precisa ser estudado são os principais acontecimentos na história e um pouco, bem pouco, sobre a origem da América. Sinceramente, o papo dos índios, escambo, bandeirantes e o escambau é extremamente chato. Só vai ficar interessante na escravatura e com o coronelismo pra cima.

Deviam é estudar pra porra sobre Ditadura, pra ver se uns abobados crescem direito.

Quer queira, quer não, é parte da nossa história, do mesmo modo que as Grandes Navegações.

Eu achava tudo que não fosse história clássica chatíssimo, mas é importante.

 

Mas a proposta seria meio que copiar os EUA, mudando o foco quase totalmente pra nossa história e esquecendo o resto do mundo. E sabemos como eles têm fama de serem ótimos em conhecimentos gerais de História e Geografia...

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Esse currículo quer reduzir a história a 500 anos. Isso é ridículo.

Fora o direcionamento. No primeiro ponto a impressão que dá é que apenas a África foi responsável pela formação do Brasil. Será que não estão esquecendo só um pouquinho os portugueses? Os italianos? Os alemães??

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Acho válida a proposta de se colocar um pouco mais de história africana e latino-americana no currículo.

Mas forçaram a barra, porque por mais que essas regiões mereçam um destaque maior, não pode vir custando boa parte da matriz européia da história, que é determinante para basicamente tudo o que ocorreu aqui.

Se tanto, queria ver até um pouco mais de ênfase na própria história de Portugal para fazer a garotada entender os antecedentes das Grandes Navegações, entender o porquê daquela naçãozinha expremida na península ibérica se lançou ao mar e foi responsável pelo início da nossa era global.

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6 horas atrás, 5000 disse:

Acho válida a proposta de se colocar um pouco mais de história africana e latino-americana no currículo.

Mas forçaram a barra, porque por mais que essas regiões mereçam um destaque maior, não pode vir custando boa parte da matriz européia da história, que é determinante para basicamente tudo o que ocorreu aqui.

Se tanto, queria ver até um pouco mais de ênfase na própria história de Portugal para fazer a garotada entender os antecedentes das Grandes Navegações, entender o porquê daquela naçãozinha expremida na península ibérica se lançou ao mar e foi responsável pelo início da nossa era global.

E como ela deixou de ser uma potência econômica. Porque de uma hora pra outra somem das aulas.

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2 horas atrás, Ariel' disse:

E como ela deixou de ser uma potência econômica. Porque de uma hora pra outra somem das aulas.

Depende do currículo. Eu lembro vagamente de ter chegado na época que os holandeses e ingleses também começam a competir, e depois, como passaram a ter fontes mais baratas de cana-de-açúcar e outras coisas com a rota pra Índia, que tornou a exploração das Américas menos lucrativa - principalmente pra Portugal já que o Brasil não tinha tanto ouro quanto a América Central e os Andes.

 

Em 27/11/2015 09:53:10, Toggy81 disse:

Só eu que estou vendo a tentativa de esquerdizar o pensamento da garotada do ensino médio?

Defina.

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29 minutos atrás, Douglas. disse:

Depende do currículo. Eu lembro vagamente de ter chegado na época que os holandeses e ingleses também começam a competir, e depois, como passaram a ter fontes mais baratas de cana-de-açúcar e outras coisas com a rota pra Índia, que tornou a exploração das Américas menos lucrativa - principalmente pra Portugal já que o Brasil não tinha tanto ouro quanto a América Central e os Andes.

Eu cheguei a ter a parte da invasão holandesa no Brasil, como cresceu a produção de açúcar que não o da cana, mas as consequências disso não.

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14 horas atrás, Douglas. disse:

[...]

Defina.

Acompanhando a linha do que disse @5000.

Não que eu ache pouco importante a história latino americana, mas passar um ano inteiro falando de história indígena e revoluções pelas Américas me parece forçar demais a barra já que a maioria delas partiu de movimentos de esquerda.

Vindo de um Ministério tocado pelo Mercadante, um dos fundadores do PT, não vejo porque isso não possa ser um questionamento válido.

 

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18 horas atrás, Toggy81 disse:

Acompanhando a linha do que disse @5000.

Não que eu ache pouco importante a história latino americana, mas passar um ano inteiro falando de história indígena e revoluções pelas Américas me parece forçar demais a barra já que a maioria delas partiu de movimentos de esquerda.

Vindo de um Ministério tocado pelo Mercadante, um dos fundadores do PT, não vejo porque isso não possa ser um questionamento válido.

 

As Revoluções nas Américas foram fruto de inspirações Iluministas. A Revolução Cubana e as posteriores que têm a ver com movimentos de esquerda.

E não sei porquê você equacionou isso a algum tipo de doutrinação. Tem algum precedente programático ou é apenas opinião?

Enfim, acho que têm críticas válidas e melhor embasadas que essa.

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  • Vice-Presidente
Em 28/11/2015 09:58:14, Douglas. disse:

Depende do currículo. Eu lembro vagamente de ter chegado na época que os holandeses e ingleses também começam a competir, e depois, como passaram a ter fontes mais baratas de cana-de-açúcar e outras coisas com a rota pra Índia, que tornou a exploração das Américas menos lucrativa - principalmente pra Portugal já que o Brasil não tinha tanto ouro quanto a América Central e os Andes.

 

Defina.

Brasil tinha mais ouro que a América Central inteira, perdia nos outros minerais preciosos, mas em Ouro era imbatível.

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11 horas atrás, Douglas. disse:

As Revoluções nas Américas foram fruto de inspirações Iluministas. A Revolução Cubana e as posteriores que têm a ver com movimentos de esquerda.

E não sei porquê você equacionou isso a algum tipo de doutrinação. Tem algum precedente programático ou é apenas opinião?

Enfim, acho que têm críticas válidas e melhor embasadas que essa.

Não discordo que devam haver críticas mais válidas e melhores embasadas que esta.

Mas com este Governo bizarro de esquerda que temos, e com um plano de estudos vindo de um ministério tocado por um dos fundadores dessa vergonha que é o PT, amigo de todos os demais Governos mais escrotos da América Latina, alguém tem a certeza absoluta que serão passados os fatos históricos das revoluções vizinhas e suas desastrosas consequências e ao invés de uma ode aos movimentos revolucionários de esquerda?

Eu não confio.

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13 horas atrás, Henrique M. disse:

Brasil tinha mais ouro que a América Central inteira, perdia nos outros minerais preciosos, mas em Ouro era imbatível.

Não estava falando no geral e sim na época do declínio, o porquê do declínio ligado à queda da produção de ouro e, depois, à queda da lucratividade do açúcar brasileiro.

A Espanha lucrou mais com prata, mas também gastou muito mais em guerras.

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