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A Seleção Brasileira de Tite e a banalização da variação tática


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A Seleção Brasileira de Tite e a banalização da variação tática

Por Renato Rodrigues (Data ESPN)

Classificada com antecedência para a Copa do Mundo de 2018, invicta em jogos oficiais sob o comando de Tite e dona da melhor defesa das Eliminatórias da América do Sul, a Seleção Brasileira, enfim, volta a passar ares de confiança. Tamanha tranquilidade, no entanto, traz à tona algumas discussões visando o futuro próximo. Os questionamentos agora passam pelas vagas no elenco e até a qualidade dos amistosos que virão pela frente. Todos debates bem importantes.

Mas uma destas questões chama bastante a atenção: a necessidade (quase uma imposição por boa parte da crítica) de "procurar e testar outras formas de jogar".

A preocupação é sempre apontada por conta dos diferentes cenários que Tite pode ter pela frente durante a Copa. Adversários mais retrancados e que amarram o jogo a todo custo ou mesmo rivais com um repertório técnico maior que o enfrentado até então. Uma abordagem que busca, acima de tudo, antecipar problemas. E dentro de toda essa discussão conseguimos notar um termo bastante usado nas argumentações: a variação tática.

Então vamos ao ponto. O primeiro passo desta reflexão é tentar definir tática. Muita gente acha que tática no futebol é, especificamente, as plataformas de jogo como 4-3-3, 4-4-2, 3-5-2... Mas tática é algo mais amplo e está muito mais próxima do modelo de jogo. Do todo em si. Algo bem mais complexo que os números de linha de ônibus como dizem por aí. 

O sistema tático é um dos braços, mas com ele traz comportamentos coletivos e individuais. O que faço quando tenho a bola? Vou construir por onde e a partir de que? E quando a perco a posse? Pressiono ou posiciono? E quando a recupero novamente? Todas estas perguntas precisam ser respondidas quando se cria um modelo, uma forma de jogar. 

Portanto a tática é o plano. É a estratégia completa para se chegar ao objetivo maior (o gol, obviamente) e, ao mesmo tempo, evitar que o adversário chegue ao mesmo. Ao estudar e analisar tática, não se olha apenas para o desenho que aquele time está posicionado. Se leva em conta ações técnicas, físicas e também de caráter psicológico. Por isso falar de tática é falar do todo. 

Então passemos a falar de variação tática. Tite, quando trocou Coutinho por Renato Augusto, fez uma alteração no sistema. Foi do 4-1-4-1 para o 4-2-3-1 em alguns momentos. Mas e quando não houve uma troca de plataforma? Se configura uma variação? Trocar um meia mais posicional, de ocupação de espaços e que organiza o jogo de trás por um outro mais agressivo, agudo e que usa o drible para criar situações, seria uma alteração do plano? Estaria o treinador pensando em uma outra forma de fazer algo pré-estabelecido anteriormente?

O objetivo segue o mesmo. A forma de como chegar a ele, de fato, sofre uma variação neste sentido. Chegar ao gol com Renato Augusto em campo é diferente de fazer o mesmo com Coutinho. Pense em uma grande máquina cheia de engrenagens e peças redondas no seu centro. Assim montada, ela funciona de uma maneira padrão. Ao tirar uma destas peças e usar um quadrada em seu lugar, inevitavelmente, altera o funcionamento desta máquina. A questão é que você pode variar de maneira mais radical ou com situações mais pontuais, sem grande impacto no todo.

Ao usar esta simples analogia, chegamos à conclusão que o futebol é um jogo feito de muitas e seguidas variações táticas. Seja na mudança de postura, de plataforma ou mesmo de atletas que, por si só, já se diferem por suas características únicas como indivíduos. Claro que existem as situações de troca "seis por meia duzia", quando você faz a opção por um jogador com individualidades e comportamentos parecidos com o que está em campo. Neste caso até vale a discussão se realmente se trata de uma variação tática, já que se trata de mudanças mais sutis. E isso realmente é algo recorrente.

Agora levemos essa reflexão para a Seleção Brasileira e, principalmente, levando em conta o contexto que ela está inserida. Mesmo que seja apenas trocando características de jogadores, Tite vem fazendo e testando variações táticas. Coutinho por Renato muda o plano inicial e a relação entre os jogadores dentro de campo. Firmino no lugar de Gabriel Jesus te traz outras alternativas. Agora, se você quer discutir o grau de audácia e do quanto são drásticos este testes, é outra história. Mas, de fato, são variações. 

De um modo geral Tite sempre se mostrou um treinador mais conservador. E isso não tem a ver com ser ofensivo ou defensivo, bom ou ruim... Mas sim de não abrir mão de algumas convicções e essências do seu modelo. Não é de seu feitio mudar tudo de uma hora para a outra por uma oscilação no caminho. A forma como ele trabalha a linha defensiva é um bom exemplo. Não espere de Tite uma mudança para três zagueiros. Ou mesmo um 3-4-3 no melhor estilo Antonio Conte, como muita gente pede. 

Temos sempre que levar em conta o quanto radical são estas alterações. Muda-se a ocupação dos espaços,  as linhas de coberturas... Não é algo tão simples de ser feito. 

A variação de plataformas de jogo talvez seja a que mais salte aos olhos de quem assiste futebol no Brasil. Mas não se trata de um processo fácil dentro de uma equipe, principalmente quando o treinador não tem o dia a dia de treinamentos de um clube. A Argentina de Jorge Sampaoli, como explico neste post (clique aqui), é um bom exemplo.

Se olharmos para o cenário mundial hoje, talvez os maiores "camaleões" do futebol sejam a Alemanha e a Juventus. Estas mudanças de sistemas, muitas vezes até se adaptando ao adversário e ao que o jogo pede, se mostraram (e mostram) bem eficazes nestes dois casos. É de fato algo fluído e espanta a naturalidade como são feitos estes movimentos e trocas.

Mas se olharmos bem afundo, existe uma particularidade bem importante nestes dois casos citados acima: o tempo de de trabalho dos treinadores. Enquanto Joachim Löw comanda os alemães desde 2006, Massimiliano Allegri está à frente da equipe de Turim desde julho de 2014. Ou seja, não é algo que se atinge em pouco tempo e, se mal feito, principalmente pouco absorvido por todos os jogadores, tende a ser bem desastroso. 

E toda essa reflexão nos leva a uma outra cobrança bem comum no nosso país: "mas essa equipe só tem um jeito de jogar!". Tal afirmação acontece muito quando times grandes enfrentam retrancas, por exemplo. Mas como um time, dentro de toda essa complexidade que é criar um modelo de jogo, consegue ter duas formas de jogar? Digo isso levando em conta que o papel do treinamento é estimular comportamentos dentro de uma ideia central.

E como trabalhar toda uma ideia e, de repente, falar aos jogadores: "bom agora vamos jogar assim para ter uma segunda forma de jogar"?. Consegue perceber todo o conflito de ideias que isso pode nos levar? Existem algumas saídas menos bruscas como criar mecanismos que alterne ritmos dentro deum jogo, escolher momentos de esperar ou propor... Opções para situações específicas. Mas é isso no máximo. E se você tiver um calendário como o brasileiro, por exemplo, multiplique toda essa dificuldade.

Dificilmente Tite sairá do 4-1-4-1 e 4-2-3-1 até a chegada da Copa do Mundo. Linha defensiva sólida, que flutue bem para o lado da bola. Triangulações e associações pelos lados. Muito ataque aos espaços. Preenchimento do funil, seja ofensivo ou defensivo. Estes são alguns dos pilares do seu trabalho. Acredito muito mais em fortalecer estes padrões do que propriamente investir em testes mais evasivos. É o momento de potencializar o que está dando certo e corrigir o que não vem fluindo tão bem - já que os últimos dois jogos, apesar do caráter atípico, mostraram algumas deficiências.

Claro que cabe ao treinador observar saídas e ajustes para diferentes cenários que virão pela frente. Entender o repertório e soluções que cada individualidade do elenco podem lhe trazer. Mas nada tão drástico. Quando você pedir variação tática a um treinador, lembre-se que elas estão ali a todo o tempo. Seja na Seleção ou no seu clube de coração. Se elas dão certo ou não, aí já é outra coisa. E quando você pedir para um time ter mais de uma maneira de jogar, fique atento, pois pode ser que ele não tenha nem uma forma bem estabelecida ainda.

ESPN

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O problema é tratarem o Tite como um deus. Ele erra também, faz más escolhas, mas poucos criticam, a maioria simplesmente ignora. Isso é ruim, ninguém pode ter tanto "poder".

Quanto a forma de jogo, é a melhor possível. O time é muito bom. Mas falta melhorar o elenco, o atual é fraco, não tem boas opções.

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Este defeito do Tite é de cair o cu da bunda, se o adversário souber anular o jogo dele ele fica acuado. Fora que teve um período em que ele ficou no 4141 e não sabia outra tática até que o emprego balançou e teve que arriscar ae viu que deu certo e ficou variando essas duas táticas. Fora a mania de ele ficar com os mesmos jogadores e eles mesmo não rendendo ele fica insistindo, insistindo até dizer chega.

Ele desde que voltou dos estudos e assumiu o Corinthians na sua terceira passagem só varia essas duas táticas, outra ele não gosta muito de arriscar tanto que ele fala em uma entrevista que não gostou do que viu do Pep Guardiola na Alemanha. Mas a diferença é que ele tem mão de obra suficiente para fazer que as duas táticas dele se tornem bem sólidas.

Creio que seja difícil se reinventar a cada temporada que passa, mas acho que poucos conseguem fazer o que o Marcelo Gallardo faz no River, já vi ele usando o 4312,442,433,4141 e isso com diversos jogadores e variações de elencos desde de exímia qualidade técnica até mais ou menos . Fora de curva velho e este ano o River não consegue segura-lo. Creio que dependendo da situação dos clubes europeus ele vá para Itália ou Espanha.

 

 

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