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A excepcionalidade do futebol brasileiro


Henrique M.

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A Excepcionalidade do Futebol Brasileiro

József Bozsik

Você acorda, levanta, vai para o trabalho, para e pensa por um minuto no trajeto, depois almoça e a vida continua. Você está sempre em movimento e não sabe o que vai acontecer no próximo segundo — é o tempo do inesperado, do confronto entre a expectativa e a realidade. Todavia, levantamos e continuamos porque vemos um sentido no meio do caos. Esse sentido é descoberto pelas palavras.

A vida está em movimento, mas a linguagem é identidade. A palavra É uma coisa, e NÃO É outra coisa. A linguagem nos salva do fluxo do tempo ao dar identidade (criação) às coisas. No entanto, ela faz isso sem abdicar de sua precariedade porque um conceito jamais exaure a vitalidade da vida e o inesperado do tempo.

Você olha para uma árvore e sabe que aquilo É uma árvore e NÃO É um sapato porque possui dentro de si uma ideia de árvore traduzida em fonemas e sílabas. A palavra media a relação entre o eu e o objeto. No entanto, o movimento do mundo continua. Por exemplo, a árvore é — em potência — uma cadeira ou um lápis. As palavras são precárias porque funcionam pela lógica da identidade, mas tecem um sentido no meio do caos.

O futebol é fluxo porque o próximo segundo é sempre o império do inesperado. No entanto, tentamos explicá-lo, argumentamos, damos sentido ao que é transitório. O futebol é movimento, mas o que conhecemos do futebol é feito por palavras (identidade). O que chamamos de tática é uma maneira de se comunicar, uma tentativa de dar sentido ao caos do jogo.

Por isso, tática é hermenêutica. É interpretação (logo, identidade) do fluxo do jogo. Quem não sabe manejar um conceito, não sabe construir explicações, apenas reproduz uma imitação estéril. É o que depois chamamos — em educação — de analfabetismo funcional: reprodução de normas verbais sem a habilidade de manuseá-las.

Fiz esse preâmbulo para introduzir uma série de respostas sobre o mau uso (intencional ou por despreparo) do termo “ataque funcional”. A maioria das pessoas que opinam sobre o tema não leram os textos e as reflexões que produzi no médium ou em threads, mas estão lidando apenas com uma ideia precária — pouca refletida — do seu significado.

EQUÍVOCO 1: “O CONCEITO NÃO EXISTE”.

Dizem que se você apresentar a palavra cão para alguém que afirma “ataque funcional não existe”, o sujeito sai correndo com medo de ser mordido. Não faz qualquer sentido dizer que um conceito existe ou não. Um conceito existe a partir do momento que foi pronunciado para tentar dar sentido ao fluxo da existência. Você pode negar que ele seja uma boa explicação e tentar desconstruí-lo. É o que chamamos de história das ideias.

EQUÍVOCO 2: “FUNCIONAL É O QUE FUNCIONA”.

Funcional é o adjetivo correspondente à locução adjetiva “de função”. Posicional é o adjetivo correspondente à locução adjetiva “de posição”. Em termos como “autonomia funcional”, “direito funcional”, “crachá funcional” e centenas de outros, a palavra “funcional” é adjetivo que corresponde à locução “de função” (a função exercida). Nenhum equívoco é mais certeiro e anedótico da falta de preparo para manejar conceitos.

EQUÍVOCO 3: “JOGO DE POSIÇÃO TAMBÉM TEM FUNÇÃO”.

Você assiste um jogo, identifica e afirma: “Walker faz a função de lateral-armador, que ataca por dentro na base da jogada e não na amplitude”. Mas, então, Walker passa pelo corredor, Sterling vai para a entrelinhas, KDB acaba ficando na base da jogada. Ora, Walker está ocupando outra zona naquela jogada. Ou seja, nesse tipo de jogo, o que é fixo, o que estrutura e dá sentido a organização ofensiva não é a ideia de função, mas a setorização espacial (a posição). As zonas e os trilhos a serem ocupados são relativamente fixos e determinados, e a ocupação dos jogadores nessas zonas varia. Tudo isso é uma tática relacionada a um método de treino, onde a ESSÊNCIA dela está na setorização ofensiva.

Num jogo como o do Flamengo de Jorge Jesus, você não consegue determinar zonas pré-fixadas e simétricas, mas consegue compreender o movimento dos jogadores a partir da ideia de função. Exemplo: o lateral faz diagonal defensiva no lado oposto da bola e ataca o corredor no lado da bola; o segundo volante começa por trás para dar o passe inicial e depois se projetar para criar apoios, mobilidades e “escadinhas” para receber a bola adiante; a dupla de ataque possui função complementar como os laterais, quando um dá apoio na bola, o outro tenta um desmarque de ruptura para receber a bola, etc. Em todos esses casos, a essência do movimento é baseada na ideia de função que está ligada ao setor da bola e não às zonas pré-fixadas e simétricas. A ideia de função não some no jogo de posição. A ideia de posição não some no jogo de função. Tudo isso é uma maneira precária (linguagem) de dar identidade ao caos do jogo, de interpretar o SENTIDO, a SUBSTÂNCIA do que pede, treina, ensaia, media os treinadores com os jogadores.

Para ter profundidade, é fundamental a simetria no jogo de posição, gerando amplitude e espaço para os movimentos dentro das zonas ofensivas a partir da progressão da bola. Para ter profundidade, é fundamental a assimetria no jogo funcional, pois o deslocamento indo adiante para receber a bola é o que cria “rasuras” e “escadinhas” entre os jogadores para receber a bola adiante. Atacar o espaço é fundamental no futebol, mas cada organização ofensiva busca atacar o espaço de maneira diferente. Várias diferenças podem ser desenvolvidas entre as tipologias sem exaurir a criatividade humana de navegar no intermeio entre os tipos.

EQUÍVOCO 4: “A DISTINÇÃO NÃO EXISTE PORQUE NÃO POSSO APLICÁ-LA EM TUDO”

Linguagem é precariedade, é tentativa de dar significado ao fluxo do tempo. Classificações são feitas para que tenhamos ideia das possibilidades do mundo em seu extremo, no seu limite. Quando falamos de um poder carismático temos casos óbvios de poder carismático, casos óbvios de poder que não são carismáticos, e uma variedade infinita de debates e combinações entre as proposições mesmo com predomínio aqui ou acolá de um ou de outro. O próprio Guardiola está se mostrando cada vez mais heterodoxo na afixação de zonas sem abrir mão da sua essência posicional.

Classificar a organização ofensiva dessa maneira significa abrir a imaginação para as suas possibilidades. Se ninguém tivesse explicado a organização defensiva através da distinção geral entre defesa individual e defesa por zona, não surgiriam depois conceitos intermediários como “encaixes longos”, “zona com encaixes”, “encaixes curtos”, etc. A divisão entre “posicional” e “funcional” existe para abrir a consciência para o campo das possibilidades da organização ofensiva, não para classificar tudo e todos. Como arquétipo, poderíamos citar o Ajax de Van Gaal como jogo posicional, e o Flamengo de Jorge Jesus como jogo funcional.

A minha intenção ao construir o conceito de “ataque funcional” era explicar outras tradições de jogo — diferente e igualmente virtuosa diante do jogo de posição. Pouco me importa o nome que você dará a isso. Eu explico porque chamo de funcional. Cada organização tem a sua vantagem e a sua desvantagem. Fico feliz que a própria CBF já internalizou essa ideia em seus cursos sob o título de “jogo de mobilidade” (https://www.cbf.com.br/cbfacademy/pt-br/cursos/63-jogo-ofensivo-a-escola-brasileira-e-as-tendencias-inspiradas-nela).

EQUÍVOCO 5: “VI NUM MANUAL QUE ATAQUE POSICIONAL É OUTRA COISA”

As palavras não caíram do céu. Conceitos são ressignificados e reconstruídos. Aliás, a história do conceito conta a história social e do pensamento humano. Os manuais tratam ataque posicional como organização ofensiva porque a ascendência do estudo da tática ocorre no mesmo momento de ascendência do jogo de posição. Já citei milhares de vezes que o próprio Guardiola chama “ataque posicional” de ataque por zona (fazendo essa correlação com a defesa por zona). Entre os manuais e o Guardiola, prefiro o Guardiola. Posicional é adjetivo que qualifica o tipo de ataque. Não vejo sentido em chamar organização ofensiva de “ataque de posição” ou “ataque posicional” porque limita a variedade de maneiras de se organizar para atacar na história do jogo. Posicional é uma das maneiras.

EQUÍVOCO 6: “O HÚNGARO TRATA O JOGO FUNCIONAL COMO INATO AO BRASILEIRO”

Qualquer pessoa que já foi professor sabe que a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento é elaborada em duas camadas de existência: a) a primeira camada é uma folha em branco, em potencial, onde o sujeito está disponível ao aprendizado e as mudanças; b) a segunda camada é uma natureza internalizada em cada indivíduo, pois as pessoas não são massas de modelar prontas para serem transformadas em qualquer coisa. Numa turma, você identifica a variedade do comportamento humano. Existem os tímidos, os extrovertidos, os que possuem facilidade inata com números, outros que escrevem bem desde pequeno, outros que são comunicativos por excelência, etc. Há jogadores que não serão melhores no jogo de posição. Não é falta de tempo, mas característica. Guardiola não precisou de doze anos ensinando Ibrahimovic sobre o jogo de posição para concluir que o estilo de jogo e a personalidade do sueco não casavam bem com o JdP. A personalidade humana e a cultura humana influem no aprendizado e nas características do aprendizado. Nós mudamos muitas coisas durante toda a vida, no entanto, outras coisas sempre permanecem.

EQUÍVOCO 7: “O HÚNGARO DISSE QUE NÃO SE PODE VENCER NO BRASIL COM O ATAQUE POSICIONAL”.

Chegamos ao ponto mais interessante. Eu nunca disse que não era possível vencer com ataque posicional. O Brasil venceu a Copa América 2019. Muitos clubes podem vencer o Brasileirão com esse estilo. Ou a Libertadores, ou a Copa do Brasil, ou os estaduais. Não é disso que se trata. Estou falando de uma coisa chamada EXCEPCIONALIDADE.

Em geral, a regra nos esportes é clara: países desenvolvidos possuem melhores resultados do que países subdesenvolvidos. Por dinheiro, estrutura de treino, estrutura de negócios, nível educacional… Se a Alemanha e a Nigéria possuem amor igual ao futebol, a Alemanha tende a ter melhores resultados e maior tradição porque é um país desenvolvido. Pegue o quadro de medalhas das Olimpíadas por quantidade e veja a nítida correlação com o tamanho da economia. É claro que outras questões são influentes, então temos as excepcionalidades.

O domínio soberbo do Brasil no futebol mundial entre 1958 e 2002 é uma excepcionalidade. O Brasil venceu cinco copas em doze, produziu craques em quantidades incomparáveis por décadas, e não venceu mais torneios por problemas de disciplina, de preparo físico, e de detalhes táticos. Qualquer pessoa que já tenha viajado para o exterior sabe o tamanho da devoção à seleção brasileira que foi construída lá fora. Indianos, nigerianos, israelenses, palestinos, argelinos se reúnem na frente da TV para torcer pelo futebol brasileiro na Copa. O Brasil foi identificado como a pátria do futebol bonito, bem jogado, admirado. O Brasil, um país subdesenvolvido, disputando contra países desenvolvidos, criou um domínio no jogo mais popular do mundo pelos seus títulos, sua técnica, sua criatividade e seus símbolos.

Se olharmos em perspectiva, só a Argentina conseguiu se manter nesse trilho da excepcionalidade já que os países do leste europeu despencaram junto com os seus problemas econômicos, sociais e políticos. A crise do futebol brasileiro não é uma crise de resultados. Não perdemos só campeonatos, perdemos a admiração do mundo porque não temos mais os jogadores mais deslumbrantes e criativos, e o nosso jogo se tornou entediante. Mas o que fez do Brasil exceção? Por que um país subdesenvolvido dominou por décadas o imaginário mundial do esporte mais popular?

COMO CONSTRUÍMOS A NOSSA EXCEPCIONALIDADE?

O Brasil conquistou o domínio do futebol mundial por alguns motivos: futebol de rua, aspectos positivos da malandragem, aspectos físicos da miscigenação. O futebol de rua — fora da linguagem convencional — criou um jogo que foge do linear, explora o inesperado ao seu favor sem tentar domá-lo. Atrair para enganar sempre foi a lógica do estilo brasileiro.

A habilidade e o deslumbre técnico eram lentamente aprendidos por meninos brincando na rua e longe das instituições. A regra do jogo de bola nas ruas variava tanto quanto se exigia da criatividade. Quem ensina ou explica a maneira como Nelinho batia na bola? Quem ensina ou explica a maneira como Zico girava? Quem ensina ou explica a naturalidade com que Pelé dava chapéus, dribles fantásticos, canetas como se estivesse bebendo água jogo após jogo? Quem ensina e explica a pausa, o tempo indecifrável do drible de Garrincha? Quem ensina e explica a bola ser providência para Romário na pequena área, pois corria sempre para ele? Quem ensina e explica a maneira como Ronaldo conseguia controlar a bola ao escondê-la entre dois pés quando arrancava? Nada disso foi aprendido pelos jogadores que simbolizam o nosso futebol numa instituição, mas foram coisas que eles descobriram no jogo de rua com o tempo, com a maturação da sua consciência, da sua intuição, de uma relação muito íntima entre indivíduo, espaço e tempo.

O jogo de posição pode melhorar vários de nossos jogadores (um Marinho, por exemplo). No entanto, quando se fala em EXCEPCIONALIDADE brasileira, em domínio e admiração do futebol brasileiro, estamos falando de jogadores específicos — dos nossos grandes jogadores. O futebol brasileiro criou uma maneira de jogar e de se expressar. Bebeu das fontes do Danubio, dos portugueses, de outros povos, mas digeriu, fez a antropofagia, e construiu a sua sensibilidade.

O futebol não aceita impostura. Não se pode jogar bem sem estar à vontade consigo e com os outros. A excepcionalidade brasileira (como a argentina) foi fruto de uma mediação virtuosa entre o indivíduo (e o seu ser e a sua cultura) com o mundo, potencializado em estado da arte.

COMO PERDEMOS NOSSA EXCEPCIONALIDADE?

O primeiro desafio foi prático. Com as novas tecnologias, os meninos brincam menos na rua e mais no celular. Com a urbanização e a verticalização das grandes cidades, os campos de pelada e as brincadeiras de rua sumiram. Com a violência e a degradação das grandes cidades, ficou mais perigoso interagir fora dos encontros institucionais (escola, clubes, etc). Sem o futebol de rua, a formação do nosso futebol piorou muito.

O segundo desafio foi cultural. Desistimos de reinventar o jogo de rua com novas perspectivas e passamos a imitar esterilmente as novas modas vindas da Europa. Tudo isso pode servir para vencer campeonatos na base ou no profissional, mas não vai levar o futebol brasileiro de volta ao caminho da excepcionalidade.

O terceiro desafio foi social. Somos uma sociedade em fúria. A candura do jogo de nossos grandes craques sumiu junto com certas características da sociedade brasileira.

O quarto desafio foi técnico e tático. Passamos por uma grande transição na base — e agora no profissional — em direção a uma miragem de modernidade. O ponto não deveria ser imitar o jogo de posição e setorizar rigidamente os nossos meninos, mas como poderemos recriar o futebol de rua dentro das atividades institucionais do clube (treino e metodologia)? Devemos partir dessa premissa: sem o futebol de rua, estamos fadados a perder para países desenvolvidos com amor igual ao nosso pelo jogo. O futebol de rua é o sustentáculo da nossa excepcionalidade.

O futebol brasileiro — aquilo que lhe simboliza — não será melhor do que um país desenvolvido como a Alemanha imitando esterilmente o que eles fazem bem (jogo vertical, precisão técnica, força, o estilo toque-toque-chute, etc). O futebol brasileiro — aquilo que lhe simboliza — não será melhor do que um país desenvolvido como a Espanha ou a Holanda imitando esterilmente o que eles fazem bem. É nesse sentido que afirmo que o jogo de posição pode até trazer coisas boas ao nível do futebol brasileiro em geral, mas não manterá a nossa excepcionalidade. Vamos melhorar, mas estaremos fadados — por algumas gerações — a estar abaixo das potências europeias.

Devemos beber de todas as fontes e aprender com elas. No entanto, a nossa excepcionalidade não foi fruto de uma imitação estéril, mas da construção virtuosa de nossa cultura e sensibilidade através do jogo de rua. Ninguém pode explicar ou reproduzir isso, mas pode reconstruir o futebol de rua em atividades que propiciem a descoberta.

RECONSTRUIR O FUTEBOL DE RUA?

A diminuição dos campos foi um duro golpe na excepcionalidade brasileira e argentina. As dimensões do campo e a evolução do físico permitiram que o futebol se tornasse quase um jogo de quadra como o basquete e o handebol. Pouco espaço não facilita só a sua racionalização, como também concede maior importância à imposição física. Você depende menos da criatividade e da intuição, e mais da consistência da execução dos gestos técnicos. Um time pode chegar facilmente hoje em quatro toques fortes e precisos de primeira, finalizados com um remate ao gol. Nesse “futebol de robozinho”, os ataques estão ficando resumidos às triangulações laterais seguidas de ataque a área com vários jogadores. É importante ter consciência que, se a dimensão do campo aumentasse amanhã, teríamos uma grande reviravolta nas tendências táticas. Só isso prova como o discurso evolucionista dos novos cronistas esconde as relações de poder. A dimensão do campo foi fixada pensando em construir um jogo mais ligado ao entorpecimento do espetáculo, dos choques constantes de consciência (tal como uma das razões do VAR é o espetáculo, a espera, o frisson pela expectativa da decisão, que cria mais um fato durante o jogo, mais um choque de acontecimentos para a consciência do telespectador) do que ao apuro artesanal (a importância do detalhe que só a intuição capta) que sempre distinguiu o futebol dos outros esportes.

Faço essa reflexão porque reconstruir o futebol de rua não é tarefa fácil. Não só pelos espaços, mas também pelas características pouco artesanais da nossa sociedade e do jogo hoje.

Nos últimos anos, vi quatro exemplos positivos de reconstrução desse estilo no futebol brasileiro:

I) A Seleção Brasileira de Tite até o empate em Wembley com a Inglaterra: Por que o Brasil campeão da América em 2019 (goleando em alguns jogos) não criou a mesma paixão do público que vimos com a seleção das eliminatórias? Dois amistosos depois do título na Copa América e já escutávamos murmúrios pedindo a degola (injusta) do técnico. A minha tese é que o Brasil das eliminatórias com o seu estilo funcional, mais móvel, sem amplitude total no ataque, gerava uma identificação maior do público com o que assistiam. O primor de gol contra o Paraguai com Neymar e Coutinho iniciando tudo em tabela e que irá terminar com Marcelo, Paulinho e Renato Augusto se movimentando em progressão, em torno da bola, será o seu símbolo máximo. Não vejo um técnico insensível a esses pontos na sua transição para um jogo mais posicional. O Brasil tem jogado numa organização mais posicional, mas concede mais liberdade (para além das zonas ofensivas) para Neymar e Coutinho.

II) O Grêmio de Renato Gaúcho: mais do que veteranos, Renato é mestre de melhorar jovens jogadores. Os jovens não possuem experiência, mas também não carregam os vícios da existência. Renato tem desenvolvido não só aspectos técnicos dos seus jovens jogadores, mas aguçado a intuição deles no processo de descoberta de si diante do jogo e do mundo. Em especial, os volantes conseguem produzir sentido ao seu jogo a partir do apoio que dão ao setor da bola (Arthur é muito mal interpretado na Europa por causa dessa sensibilidade funcional para o jogo), e os atacantes pressentem a jogada que será construída para posicionar o corpo e partir no tempo correto de receber;

III) O Flamengo de Jorge Jesus: reúna jogadores bem dotados tecnicamente, cada qual na melhor função que exercem; possibilite uma organização ofensiva com metodologia adequada para isso; e o resultado é uma bela música. O Flamengo de Jorge Jesus não precisava de amplitude para ser profundo, bastava seguir aquela regra antiga do jogo funcional brasileiro: quem pede, recebe; quem passa, tem preferência. Filipe Luis toca a bola e passa para receber. Gerson toca a bola e passa para receber. Arrascaeta toca a bola e passa para receber. A progressão era tão inesperada, rápida e criativa que era impossível marcar quando os jogadores encontravam a melodia certa entre eles. Jorge Jesus deu memorização e alguma mecanização a esse estilo funcional, sem tirar a prioridade da intuição. Ou seja, fez um trabalho impecável de adaptação sem ser arcaico;

IV) Fernando Diniz com exceção do seu trabalho no Athletico: Ainda falta ao São Paulo de Diniz transitar e defender melhor, mas a sua organização ofensiva é coisa fina não só em matéria de mecanismos treinados e memorizados, mas em desenvolvimento da intuição dos seus jogadores. Eu não esperava o que estou vendo em Brenner e Gabriel Sara. Jogadores que estão longe de serem gênios, mas que desenvolveram uma compreensão maior sobre o ritmo do time e dos indivíduos e que começaram a expressar o seu eu a partir de aspectos tão particulares como os gestos técnicos. Eles sentem o jogo, o desenvolvimento da equipe no campo, e sabem o que precisam fazer e como precisam fazer. Muito da melhora da técnica de Brenner na conclusão ao gol está relacionada à maneira como ele está intuindo bem não só para onde se deslocar, mas como posicionar o corpo de acordo com o desenrolar da jogada. Em várias situações, ele está antevendo como a jogada vai se desenvolver e se posicionando de maneira instintiva para conclui-la bem.

Textaço.

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"A diminuição dos campos foi um duro golpe na excepcionalidade brasileira e argentina. [...] É importante ter consciência que, se a dimensão do campo aumentasse amanhã, teríamos uma grande reviravolta nas tendências táticas. Só isso prova como o discurso evolucionista dos novos cronistas esconde as relações de poder."

me perdeu aí

o texto é em boa parte muito bom mas essa grosélia de subdesenvolvido ferido em seu espaço de brilho manchou o texto

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  • Vice-Presidente
7 hours ago, Lowko é Powko said:

"A diminuição dos campos foi um duro golpe na excepcionalidade brasileira e argentina. [...] É importante ter consciência que, se a dimensão do campo aumentasse amanhã, teríamos uma grande reviravolta nas tendências táticas. Só isso prova como o discurso evolucionista dos novos cronistas esconde as relações de poder."

me perdeu aí

o texto é em boa parte muito bom mas essa grosélia de subdesenvolvido ferido em seu espaço de brilho manchou o texto

Nem tudo é perfeito, amigo.

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