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Piloto português criou um dos games mais viciantes de futebol


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Piloto português criou um dos games mais viciantes de futebol


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(Crédito: Reprodução)

Em algum momento da década de 90, é possível que o argentino Abel Balbo, da Roma, tenha sido um dos grandes jogadores do mundo para você. Se isso aconteceu, é bem provável que você tenha jogado Elifoot 98, um dos primeiros jogos manager para fãs de futebol do Brasil. Identificou-se? Então pode agradecer a André Elias, o piloto de avião português que criou o game.

Embora tenha fica conhecido no Brasil com a versão de 1998, o game é mais velho. “O Elifoot foi feito pela primeira vez para o ZX Spectrum na linguagem BASIC. Este computador se tornou popular em Portugal por volta de 1985. Havia um jogo manager à altura, mas só dava para um único jogador. Queria jogar com os amigos, mas contra eles, e como não existia o que queria, resolvi criar. Assim, fiz um jogo para eu próprio jogar'', conta Elias, 44 anos, em entrevista ao UOL Esporte por e-mail.

Da primeira versão, de 1987, foram 11 anos até a quarta versão, responsável pelo boom do Elifoot no Brasil. Em 1998, o torcedor/internauta do Brasil passou a divulgar o game, com gráficos simples e farta opção de dados. As informações do futebol brasileiros alcançava clubes dos mais diversos rincões do país – times como Kindermann (SC), Portuguesa Santista (SP), Desportiva (ES), Londrina (PR), Brasil Farroupilha (RS) e Gama (DF) estavam à disposição do “treinador''.

Parece pouca coisa? Imagine conseguir os elencos de mais de 100 times do Brasil (fora de outros países) pela internet no final da década de 90. “Em 1996, o AltaVista (site de buscas) facilitou pela primeira vez a pesquisa na internet. Não havia jornais nem sites que compilassem os campeonatos, ou as equipes e estatísticas. Era necessário tentar encontrar os sites oficiais dos clubes, e mesmo assim era difícil'', explicou. “Com o tempo, fui arranjando colaboradores, principalmente no Brasil, que ajudaram a compor o jogo mais famoso da época.''

Aos poucos, o torcedor brasileiro foi se adequando à nova temática, comprando e vendendo jogadores, entrando em leilões, assumindo o gerenciamento de novas equipes, ampliando estádios, renovando contratos do elenco e conquistando títulos. O sucesso poderia ter sido ainda maior, não fosse um porém: como o Elifoot foi produzido inicialmente apenas em português, e teve pouca penetração em países de língua inglesa, francesa, italiana ou alemã.

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(Crédito: Reprodução)

“O Elifoot se tornou popular nos países de língua portuguesa. Infelizmente, não foi desenvolvida nos anos 80 e 90 uma versão em inglês. Isso sim, teria levado o Elifoot a uma marca de nível mundial. Há alguma penetração, embora 90% do mercado esteja nos jogadores de língua portuguesa'', contou Elias. “Entretanto, para 2015 o Elifoot vai ter evolução, principalmente ao nível de interface e de estatísticas, o que pode vir a ajudar a difundir o jogo em mais países'', completou. Hoje, o site do jogo tem uma versão em inglês.

Shareware x crack: o problema do Elifoot

O game, entre outras novidades para a década de 90, contava com um editor de equipes – desta forma, o próprio jogador poderia excluir e criar times e jogadores. Contra rivais como Real Madrid, Barcelona, Manchester United e Bayern de Munique, o fã poderia alinhar seu time, com os amigos de escola, bairro ou clube.

Em compensação, a versão paga do Elifoot 98 não emplacou. O jogador poderia utilizar todas as opções de compra e venda de jogadores, mas os cracks (os códigos numéricos que desbloqueavam o segredo) eram facilmente encontráveis na internet. Os planos de lucrar com o jogo – distribuído gratuitamente em uma versão limitada – perderam terreno, justamente em decorrência do sucesso feito pelo jogo.

André, ao que tudo indica, não gosta de tocar no assunto. Piloto de aviões, ele não sobrevive do Elifoot, e sim, do emprego formal. “Trabalho como piloto comercial, atividade que permite dedicar ao Elifoot de forma a manter e atualizar o jogo nas três plataformas (PC, tablet e celular), mantendo um retorno financeiro que justifica o tempo e empenho dedicados ao projeto'', explica.

Em compensação, o sucesso do Elifoot rendeu muitos frutos. Jogos como Championship Manager (1992), Brasfoot (2003) e Football Manager (2005) caíram igualmente nas graças do internauta – desta vez, também em países que não falavam português. Concorrência? Não para André Elias.

“Esses jogos são mais complexos, o que os diferencia e distancia. O Elifoot preenche o nicho dos jogos simples, em que é fácil começar um campeonato com vários amigos e em uma tarde fazer três ou quatro temporadas. Daí que não é propriamente uma concorrência direta, mas sim um complemento em um outro segmento'', analisa.

Graças ao ofício na aviação, André – que torce pelo Benfica, mas que se diz “Mourinhense'' e “Ronaldense'' – pode estar próximo aos fãs que “viciou'' no Brasil. “Gosto da aviação, fotografia e astronomia. Enquanto piloto de aviões, tenho oportunidade de visitar o Brasil umas quatro vezes por ano'', diz ele, feliz com a relação afetiva criada entre o Elifoot e os fãs, mesmo depois de quase 30 anos de surgimento.

“O Elifoot conta já com 28 anos de existência. As versões para telefones celulares e tablets são tecnicamente novas aplicações; mas, mesmo assim, estive em estreita colaboração com os programadores para que as características essenciais não se percam. Tem sido um projeto muito interessante de desenvolver, e é essa a principal motivação para continuar cada vez mais longe'', analisou.​

Emanuel Colombari
Do UOL, em São Paulo

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    • Thiago_Marques
      Por Thiago_Marques
      Gostaria primeiro de me apresentar. Sou Thiago(a.k.a. ReiShaman ou, antigamente, Tarantino), jogador de Football Manager desde o FM06. Passei muito tempo nos fóruns do Orkut jogando, discutindo e até entrando na LFM B por um tempo. Fiz algumas histórias em outro fórum (aparentemente, alguns daqui devem conhecer) no Itaporã e no Americano. Essa segunda, do Americano, me fez ter vontade de fazer uma parecida com essa por aqui, mas dessa vez em São Paulo. Era uma história do time em conjunto do técnico. Mais coisas serão esclarecidas com o tempo, não se preocupem! Aviso rápido antes de começar: essa é uma obra de ficção que cita pessoas reais, mas os acontecimentos são falsos. Também terá linguajar adulto. Obrigado a todos e agora vamos a história!
       
      Prefácio – O Garoto Mimado
         A memória que explica minha infância se passou quando tinha nove anos de idade. Era meu aniversário, dia 4 de Maio de 1996. Estava acompanhando quase que diariamente o desenho do X-Men, aquele classicão. Meu pai entra na sala, desliga a TV. Esperava finalmente meu presente dos sonhos: a coleção dos bonecos da série. Falei isso durante toda a semana pra ele. Mas o vi de mãos vazias.
         Meu pai é o Hernesto Silva Souza, dono da Hern And Esto, um chocolate que ganhou popularidade em vários países pelo mundo e fez de minha família completamente rica. Doutor Hernesto, como era chamado pelos outros (mesmo não sendo doutor, já que nem estudar estudou) se fez sem a ajuda de ninguém. Tudo o que conseguiu, conseguiu por mérito próprio. E gostava de esbanjar. Morávamos em uma mansão gigantesca, parecia uma daquelas casas de nobre da Inglaterra. De tão grande, nem todos os quartos eu entrei. Não por proibição, mas pelo absurdo tamanho mesmo. Nele viviam muitos empregados, da cozinha até a entrada.
         Quando meu pai chegou, desligou a TV e me chamou.
         - Filho – disse, em um tom calmo e sereno que sempre demonstrou – Seu presente de aniversário, virá quando você descobrir a charada.
         - Charada? – perguntei incrédulo.
         - Sim. Você encontrará seu presente com quem descobriu o Brasil.
         Não entendi. Fiquei com cara de interrogação. Ele saiu sem dizer uma palavra, nem meu choro de querer o presente ele se importou. Quando fiquei irritado e fui atrás do presente, comecei a revirar a casa toda. Não achava. Tinha que descobrir o maldito enigma. Fui atrás de meu pai. Não o achei em lugar algum.
         Caindo a noite, ficava cada vez mais irritado. Até que esbarrei com Seu Pedro, que cuidava do andar de baixo. 
         - Não, não vou contar – disse Seu Pedro. Peguei o balde que ele carregava e joguei ao chão. Comecei a chorar e ameaça-lo.
         - SE NÃO ME CONTAR EU FALO QUE VOCÊ ME BATEU! – gritei. Estava acostumado a ganhar tudo na base do grito. Seu Pedro, temendo pelo seu trabalho, me disse a resposta. Por um momento achei que fosse com ele, pois seu nome é o mesmo do português que chegou ao Brasil, mas era com o silencioso rapaz da portaria. Peguei o presente, abri e lá estava os meus bonecos dos sonhos. Meu pai nunca soube que eu consegui ele na base do ‘poder’ que tinha sobre as outras pessoas.
         Mais pra frente, quando já tinha meus 20 anos, fui mandado para a Inglaterra fazer faculdade. Escolhi Educação Física pois ‘achava mais fácil’ e era minha matéria favorita na escola. Não queria trabalhar, queria esbanjar o dinheiro que (meu pai) tinha. Nem ao menos fiz os estudos, devo ter ido na aula umas 10 vezes, todas para saber aonde será a próxima festa. Paguei um outro rapaz pra fazer os trabalhos e as provas pra mim. Basicamente comprei o diploma. Quando terminei a faculdade, resolvi estender um pouco mais a estadia, apesar de meu pai já se encontrar fortemente debilitado. Uma semana antes da volta, veio a falecer. ‘Já era, ganhei uma bolada do velho’ pensava. Voltei ao país apenas para ver o funeral do coroa. Estavam todos os empregados lá, inclusive Seu Pedro. Após o enterro, veio a hora do testamento. Fui chamado em uma sala com o advogado de meu pai, o Doutor Peçanha.
         - Veja só – disse Peçanha – Seu querido pai fez o testamento e aqui irei lê-lo.

      “Filho. Por anos eu fiz o pior para você. Eu o criei, pensando que fosse ser um homem digno, mas não passa de uma criança irresponsável. Descobri que toda sua vida, você mentiu para mim. Pagava para os outros fazerem seu dever, chantageava os oprimidos por conta do seu poder, do dinheiro. Pois bem. Para arrecadar todo o dinheiro e a fábrica, você tem que fazer um trabalho. O Peçanha tem uma lista com conquistas que você deve fazer. Torço, desde sempre, pelo Francana. Sempre patrocinei o clube. Com algum dinheiro, consegui fazer com que eles chamassem você para ser técnico do clube. Lá, você deve conseguir as conquistas que separei, a quais você não descobrirá até fazê-los, para ficar com o dinheiro que herdaria. Não será de forma fácil. Agora você vai ter que trabalhar. HÁ!”
      Assinado: Hernesto Silva Souza

         - PORRA! Como assim? Me dá meu dinheiro, Peçanha!
         - Nada disso. Seu pai deixou bem claro!
         - Então me dê a lista do que fazer! Se não...
         - Você vai ser burro o suficiente pra ameaçar um advogado? – disse, com um sorriso maroto.
         Não continuei a briga. Fui atrás do Francana ver que porra de história é essa. E assim começou a minha história.
      FIM DO PREFÁCIO.

      Breve Resumo - Associação Atlética Francana
       

      Apelido: Veterana
      Mascote: Feiticeira

      Estádio: Estádio Municipal Doutor José Lancha Filho. Para os mais íntimos, 'Lanchão', com 18 mil lugares (segundo FM23)
      Títulos: Série A2 do Paulistão em 1977
      Jogadores notórios: Geninho (sim, o técnico), William (ex diretor de Corinthians, Santos e Bahia), Assis (ídolo do Fluminense) e Tonho Rosa, maior ídolo do clube. Inclusive esse, uma vez, ficou tão irritado com um pênalti que se aposentou do futebol. Fonte: página do Francana no facebook).
      O Técnico:

      Informações importantes:
      (em construção)

      Estou utilizando uma database com Seletiva para Série D e Estaduais até a Quinta Divisão.
      Não estou utilizando editor ou Genie Scout mas não é um 'save ultra hardcore difícil pra caramba', tá mais pra um save 'difícil pra caramba'. Em breve o Capítulo 1! Não estarei utilizando também as regras da LLM.
       
      Conquistas do Dr. Hernesto:
       
      EM CONSTRUÇÃO.
    • bstrelow
      Por bstrelow
      Eu sei o que você está pensando. Faz 10 anos que eu ouço isso.
      “O que aconteceu com o Pato?”
      “Por que o Pato não ganhou a Bola de Ouro?”
      “Por que o Pato estava sempre machucado?”
      Bah. Eu deveria ter respondido a essas perguntas há muito tempo, cara. Teve muita especulação, principalmente quando eu estava na Itália. Que eu exagerei na balada. Que eu não tinha ambição. Que eu vivia no mundo da fantasia. Mas quando eu queria falar, eu era instruído a “focar no futebol”. Eu era muito jovem para discordar.
      Cara, eu era uma criança.
      Então, acho que chegou a hora de fazer alguns esclarecimentos. Estou com 32 anos. Sou feliz. Estou em forma. Não tenho rancor de nada nem de ninguém. Se você quiser acreditar nas mentiras, não estou aqui para tentar te convencer.
      Mas se você quiser saber o que realmente aconteceu, então preste atenção, cara.
      O primeiro ponto que você precisa entender é que eu saí de casa cedo. Provavelmente muito cedo. Quando você tem 10 anos, você não está pronto para o mundo. Você sai em busca do seu sonho, mas você está sozinho e é muito fácil para se perder no caminho.
      Deus me deu um dom, isso é claro. Eu não joguei futebol de campo até fazer 10 anos, porque o futsal era mais divertido. E eu ainda tinha uma bolsa para estudar em uma escola particular. Um dia eu disputei um torneio interno, e um olheiro do Internacional perguntou ao meu pai: “Você já pensou em testar o seu filho no campo?”.
      O meu pai falou: “Hmmmmm, talvez você tenha razão”.
      Consegui um teste no Inter. E foi assim que eu fui parar em um motel.
      Hahaha. Vou explicar. Nós não tínhamos muito dinheiro, né? A minha mãe não podia trabalhar por causa de um problema na coluna, então o meu pai era o responsável por me bancar, a minha irmã e o meu irmão mais velho. Ele passava o dia inteiro construindo estradas. Tínhamos comida na mesa, mas eu não conseguia pagar os livros da escola particular. O máximo que eu conseguia era o xerox das páginas. Estou falando sério.
      O meu pai tinha um fusquinha. Ninguém chegava na escola num fusquinha. Eu pedia para ele me deixar a algumas ruas antes do portão.
      “Por que, filho?”, ele perguntava.
      A minha resposta era: “Hm, os meus amiguinhos estão aqui”. Não tinha ninguém.
      Uma vez eu estava chegando na entrada, e uma menina disse: “Então você tem um fusquinha?! Hahahahahahahahaha”.
      Caraca, que saco.
      De qualquer jeito, o meu pai teve de usar a criatividade algumas vezes. Quando chegou o grande dia do teste no Inter, oportunidade de uma vida, foram nove horas de viagem de Pato Branco a Porto Alegre. Na chegada à cidade, o meu pai percebeu que não teria condições de pagar um quarto de hotel.
      O que ele fez? Escolheu um motel.
      “Filho, esse é o único lugar que conseguimos pagar.”
      A minha reação foi: “Tudo bem, pai.”
      HAHAHAHAH. Cara, eu não tinha ideia. Eu era muito novo para entender o que era aquele lugar. Nosso quarto tinha uma cama pequena e só. O motel ficava na frente do Beira-Rio, então as pessoas podiam transar olhando para o estádio.
      Até hoje eu ainda brinco com o meu pai sobre essa história. Se isso acontecesse hoje ele provavelmente iria para a cadeia.
      Depois, estávamos andando em volta do estádio para conhecer. Uau, maravilhoso! De repente chega um diretor do clube. “Você não deveria estar treinando?” Caraca! Nós confundimos os horários. Pior ainda, a minha chuteira tinha ficado no motel. O meu pai saiu correndo para buscar. Quando ele voltou, adivinha o que tinha dentro da sacola?
      Um pé com trava de borracha, e outro com trava de ferro.
      “Pai, você só pode estar de brincadeira! Como vou jogar desse jeito???”
      Por sorte, havia um menino que era sensação na base, chamado Cocão, que tinha patrocínio de chuteira. Então ele me emprestou a dele. Novinha! Uhuul! Vamo pra cima!
      Graças a Deus eu fui aprovado no Inter. Mas juro para você, eu não estava pensando em me tornar jogador profissional. Na verdade, eu me sentia abençoado só por estar jogando com os garotos. Talvez você tenha ouvido falar sobre essa história...
      Mais ou menos um ano antes, eu tropecei em uma corrente de estacionamento e caí em cima do meu braço esquerdo. Eles engessaram metade do meu corpo, e eu estava parecendo uma múmia. Eu até joguei um campeonato com o braço ainda engessado. Após tirar o gesso, eu e meu amigo estávamos brincando de um jogo que quem ficasse de pé o outro poderia dar um chute, a não ser que você conseguisse escapar. Estava divertido até eu sentar em cima do braço esquerdo. O susto foi tão grande que até as minhas pernas começaram a doer.
      O médico fez um Raio-X e encontrou um tumor grande no meu braço.
      “Ou ele faz uma cirurgia agora, ou teremos de amputar.”
      Eu estava em choque. Em 24 horas eu poderia estar sem o meu braço esquerdo.
      Mas você acha que os meus pais tinham dinheiro para pagar a operação? Pffff.
      O que vamos fazer agora???
      Meu pai teve de ser criativo mais uma vez. Ele filmava todos os meus jogos, então ele pegou as fitas e as levou para o hospital, fez uma oração, entrou no consultório médico e colocou aquelas imagens chuviscadas de uma criança correndo na quadra de futsal.

        O meu pai disse: “Doutor, esse é o meu filho. Eu não sei como pagar por isso, mas eu só não quero vê-lo parar de jogar”. Para o que aconteceu depois eu não tenho explicação. Talvez o médico viu talento em mim. Ou ele escutou a voz de Deus.
      “Não se preocupe, eu faço de graça para o seu filho.”
      Foi um milagre.
      Nunca vou esquecer o nome dele: Paulo Roberto Mussi. Ele me deu uma nova vida.
      Mas a recuperação foi muito dolorosa, cara. O banco de ossos não tinha o osso que o meu braço precisava, então eles tiveram de retirar um osso do meu quadril. Eu ainda tinha de voltar para Pato Branco a cada seis meses para monitoramento. Uma vez o meu braço ficou VERDE. Eu estava gritando. MAIS INJEÇÃO, POR FAVOR!!
      Apesar de tudo, pude voltar a jogar e, na sequência, fui aceito no Inter.
      Mas isso gerou mais sofrimento quando eu tive de sair da casa dos meus pais. Eles não tinham condições de morar em Porto Alegre, então me disseram “VAI!”, mas foi muito duro pra eles. Mesmo depois que me mudei, a minha mãe continuou colocando o meu lugar na mesa como se eu fosse jantar com eles. Ela arrumava o meu quarto na espera que chegasse a qualquer momento.
      Ainda havia muitas lições para eles me ensinarem. Como jogador, eu estava pronto para o mundo. Como pessoa, eu estava muito longe disso.
      Definitivamente eu não estava pronto para a base do Inter. Os garotos mais novos tinham de fazer tudo para os mais velhos: lavar cueca, limpar chuteira, comprar salgadinho no posto. Tinha a brincadeira de “Marcar o gado”. O que era isso? Eles falavam para colocarmos a perna em cima da cama, eles pegavam uma ripa de madeira e PAU! Era um terror.
      Chorei muito. Me escondi no quarto. Mas eu não podia contar para a minha mãe, senão no dia seguinte ela estaria lá para me buscar. Por isso, eu falava: “Mãe, está tudo ótimo, tudo tranquilo”.
      O futebol? Era pura diversão.
      Eu fui do time sub-15 para o profissional num piscar de olhos. Aos 17 anos, eu estava no Mundial de Clubes fazendo gol na semifinal e enfrentando o Barcelona na decisão. E encontrei o Ronaldinho.
      Cara, precisamos de uma palavra nova para descrever esse cara. Ele é mágico. Ele não parece uma pessoa de verdade. Naquele dia eu não era um adversário, eu era um fã. No túnel eu falei para ele: “Guarda a sua camisa para mim!”. Quando o jogo acabou, eu pensei: “Cadê ele? Cadê ele?”. Todo mundo correu para trocar camisa com ele, mas ele honrou a palavra. Guardou para o garoto. Esse é o Ronnie.
      Como você deve saber, o Mundial é algo GIGANTE no Brasil. A vitória por 1 a 0 na final foi o auge para os Colorados. Depois, fizemos uma carreata em Canoas em um carro de bombeiros, eu estava segurando o troféu, e as pessoas gritavam o meu nome.
      Sete anos antes eu nunca havia jogado futebol de campo.
      Agora eu era campeão do mundo.
      Em seguida, eu poderia ter ido para o Barcelona, Ajax, Real Madrid. Por que o Milan? Olha, vou te fazer uma pergunta.
      Você já jogou com aquele Milan no PlayStation?
      Aquele time era incrível!! Kaká, Seedorf, Pirlo, Maldini, Nesta, Gattuso, Shevchenko... O Sheva era demais! Ronaldo Fenômeno! Eu tinha de jogar com esse cara. Que escalação, cara. Eles tinham acabado de ganhar a Champions League. O Milan era o time do momento. Meu pensamento era: quando é o próximo voo?
      Quando cheguei em Milão, passei por um teste de visão como parte da bateria de exames. Cara, eu pressionei demais a palma da minha mão no olho esquerdo e quando eu abri eu não enxergava nada. O médico pingou um colírio dilatador, e quando eu saí da sala eu não via nada. Adivinha quem apareceu? O grande Ancelotti.
      “Tutto bene?” 
      “Tudo bem.” Mas eu não conseguia vê-lo. Tiramos uma foto e os meus olhos estavam quase fechados hahahaha.
      Carlo me levou ao refeitório. “Esse é o Pato, o nosso novo atacante.” TODO MUNDO se levou para me cumprimentar. Todo. Mundo. Ronaldo, Kaká, Seedorf... UAU!
      Esse foi o meu primeiro dia no Milan. Eu tinha entrado no videogame.

      Luca Bruno/AP Photo
       
      Infelizmente eu completei 18 anos depois do prazo, em agosto, para a inscrição no Mundial. Nasci em 2 de setembro. Se eu tivesse vindo ao mundo alguns dias antes, eu seria bicampeão do mundo. Mas só de treinar com aquelas lendas já era algo muito especial. Os brasileiros me receberam de braços abertos: Ronaldo, Cafu, Emerson, Dida, Kaká... E, não, eu não morei na casa do Cafu! Mas estávamos sempre juntos, porque eu tinha quase a mesma idade dos filhos dele. E o Cafu é um cara muito família, então quando ele saía para jantar, precisava de uma van porque ao menos 10 pessoas o acompanhavam.
      Os brasileiros me protegiam até no treino. Essa história é boa: no grupo tínhamos o Kakha Kaladze, capitão da Geórgia, enorme. Teve uma vez que ele me deu um carrinho e me levantou. VAP!
      Caraca, que cara é esse?
      Falei com os brasileiros, e a resposta deles foi: “Seja forte. Pega ele também, pô!”.
      Eu???
      Eles falaram: “Claro! Qualquer coisa estaremos lá para te proteger”.
      Quando o Kaladze dominou a bola, a primeira coisa que eu fiz foi correr e acertar um carrinho nele. VAP! Com ele no chão, meu pensamento foi P***, agora vai dar briga! Ele se levantou e veio na minha direção. Eu já estava pensando na pancada que eu ia levar, mas ele levantou a mão eeeeee....
      ...fez o sinal de positivo.
      “Buon lavoro!”, disse. Bom trabalho. 
      Essa era a mentalidade que eles esperavam no Milan.
      Ancelotti se transformou em uma figura paterna para mim. Ele até deu o nome de Pato para o cachorro dele. Você viu as imagens dele comemorando em Madri há algumas semanas, de óculos de sol e fumando charuto? Olha, no Milan às vezes ele chegava de helicóptero. Ele morava em Parma, e a sua esposa sabia pilotar. Desembarcava ao estilo James Bond. Se alguém sabe viver com estilo, esse é o Carlo.
      Aprendi muito com todas aquelas lendas. Eu sentava ao lado do Ronaldinho no vestiário. Após os treinamentos, o Ancelotti pedia para o Seedorf e o Pirlo treinarem lançamentos comigo para eu entender os movimentos na hora de correr. O Pirlo só falava: “Apenas corra, porque a bola vai chegar”. E sempre chegava.
      Na minha segunda temporada, teve um dia que fomos treinar cobranças de falta. Quem estava lá para bater?
      Pirlo.
      Seedorf.
      Ronaldinho. 
      Beckham. 
      Quer saber? Hoje vou só assistir.
      Claro que todos sabíamos quem comandava o clube. Silvio Berlusconi me ligou certa vez. Era um ótimo chefe, gostava de contar piadas. Eu namorava a filha dele, Barbara. Dito isso, eu adorava driblar todo mundo pelas pontas. Zoooooooom. Silvio, então, me disse: “Por que você fica driblando desse jeito?”. Ele queria que eu jogasse mais perto da área, centralizado. De repente o Ancelotti e o Leonardo começaram a me falar o mesmo.
      Foi por aí que eu marquei aquele gol no Camp Nou. Eu estava no meio de campo e vi um buraco na minha frente. Dei um toque para frente e corri. Vi o Valdés saindo do gol e pensei: “Caraca, o que eu faço? Eu driblo? Toco por cima?”. A minha intenção era finalizar no canto direito, mas a bola passa no meio das pernas dele. Uau, golaço. Mas contei com a sorte também.
      Acho que até Deus queria que a jogada terminasse em gol.
      No fundo, o meu pensamento era: Será que o Guardiola viu o lance inteiro? Eu tenho uma enorme admiração por ele. Depois ele falou que nem o Bolt seria capaz de parar aquele menino. Foi, sem dúvidas, o gol mais bonito que eu já marquei. As narrações do lance são sensacionais.
      As pessoas ainda vêm falar comigo: “Vinte e quatro segundos! Venti quattro secondi!”
      Cara… noites como aquela me faziam acreditar que eu chegaria no topo.
      As expectativas sobre mim eram enormes, né? Eu era o menino prodígio. Estava na Seleção. A imprensa me elogiava, os torcedores falavam sobre mim, até os outros jogadores me colocavam lá em cima.

      Simon Bruty/Sports Illustrated via Getty Images

      PATO SERÁ O MELHOR DO MUNDO.
      PATO VAI GANHAR A BALLON D’OR. 
      Eu amava essa atenção. Eu queria ser o centro das atenções. Mas sabe o que aconteceu?
      Sonhei demais. Por mais que eu me dedicasse no dia a dia, a minha imaginação me levou a vários lugares. Na minha cabeça eu já estava segurando a Bola de Ouro. É inevitável, cara. É muito difícil não se deixar levar. Sofri muito para chegar lá. Por que eu não deveria aproveitar o momento?
      Quando eu venci o Golden Boy como o Melhor Jogador Jovem da Europa, em 2009, eu não estava pensando na Bola de Ouro. Eu estava apenas curtindo o meu futebol e... OPA! Um prêmio.
      Eu era imparável quando estava vivendo o presente.
      Mas a minha mente foi parar no futuro.
      Em 2010 eu comecei a ter muitas lesões. Perdi confiança no meu próprio corpo. Tinha medo do que as pessoas falariam sobre mim. Estava indo treinar com a minha cabeça pensando: Eu não posso me machucar. Se eu me lesionasse, não contava pra ninguém. Uma vez eu estava me recuperando de um problema muscular, torci o tornozelo e continuei jogando. O meu pé parecia uma bola de tão inchado, mas eu não queria decepcionar os meus companheiros. Eu queria agradar a todos — e esse foi um dos meus erros.
      As pessoas esperavam que eu marcasse 30 gols por temporada, mas eu mal conseguia estar em campo. Até dava para administrar a dúvida dos outros sobre mim. Mas e quando a insegurança vem de dentro? É outra coisa.
      Então sabe o que acontece? Você descobre quem te ama de verdade. Muitas pessoas ao meu redor começaram com aquele pensamento: Hmmmmmm, talvez ele não vai chegar lá, afinal.
      Eu me senti sozinho. No Inter eu tinha sido sempre superprotegido. Faziam tudo para mim. Eu não entendia sobre lesões, preparação física ou dietas — porque eu não precisava. Tudo o que tinha de fazer era jogar.
      Então, quando eu tive dificuldades no Milan, eu não tinha ideia do que fazer.
      Hoje em dia todo jogador tem uma equipe em volta dele, né? Médico, fisioterapeuta, preparador físico. Naquela época apenas o Ronaldo tinha isso. Não havia nenhum parente perto de mim, porque a minha família permaneceu no Brasil. Eu tinha empresário, mas ele não cuidava de tudo como os agentes fazem atualmente. Claro que o Milan tinha um departamento médico, mas eles cuidavam de 25, 30 jogadores. Não tinha como estarem comigo todo o tempo.
      Um dia eu joguei contra o Barcelona depois de viajar aos Estados Unidos para fazer uma consulta com um médico em Atlanta. Viajei 10 horas e tive um treino antes da partida. Adivinha? Acabei me lesionando. O Nesta ficou maluco. “Ele não deveria ter jogado, vocês estão loucos??”
      Mas eu simplesmente não entendia. O meu pensamento era: Vamos tentar de novo.
      Sendo honesto, eu não tinha o conhecimento dos bastidores, sabe? No Inter eu nem ligava para contrato. Só quero renovar para poder continuar jogando. Essa parte política eu não entendia. O futebol é como teatro. Você tem que demonstrar ser de um jeito para conseguir aquilo que você quer. Mas eu só via como um simples jogo.
      Quando a imprensa escrevia mentiras sobre mim, eu não tinha um assessor pessoal. Eu deveria ter esclarecido tudo isso há muito tempo, mas eu não compreendia a importância de se comunicar bem e ter bons relacionamentos fora de campo. O que eu ouvia era que o que acontecia dentro das quatro linhas seria o suficiente. Mas essa está longe de ser a verdade.
      Se eu curti muito a noite? Não tanto quanto te fizeram acreditar.
      Faltou ambição para mim? Falavam isso por causa do meu jeito de correr. Mas quem realmente sabe isso? Deus me fez correr dessa maneira. Não consigo mudar.
      Queriam que desse carrinho. Queriam sangue, suor e lágrimas.
      As lágrimas eles acertaram. Paguei um preço alto.
      Eu deveria ter contado a verdade para todo mundo. Você se lembra da história do PSG? Galliani estava na Inglaterra para assinar com o Tévez, e o PSG me fez uma proposta maravilhosa. Eu queria ir — o Ancelotti estava lá. Mas o Berlusconi pediu para eu permanecer no Milan. Como eu estava machucado, os torcedores falaram: “Oooh, o Pato não quis ir! Com o Tévez nós seríamos campeões!”. A imprensa também ficou louca. Mas, o quê? Eu queria ter ido!
      Perdi a Copa do Mundo de 2010. A história do PSG aconteceu em janeiro de 2012. Eu mal estava jogando. A minha parte psicológica estava horrível. Era considerado uma decepção ganhando um salário alto. A torcida queria a minha saída.
      Cara, você sabe o quanto eu tentei voltar a jogar?
      Viajei o mundo atrás de uma solução. Eu me consultei com todos os médicos possíveis — e mais alguns. Em Atlanta me colocaram de cabeça para baixo e me fizeram girar. O diagnóstico? Os meus reflexos não estavam alinhados com os meus músculos. Na Alemanha, um médico me deu injeções nas costas inteiras — no dia seguinte eu estava andando no aeroporto de Munique todo curvado por causa de dores. Tinha outro que colocava 20 agulhas de manhã, antes do treino, e mais 20 antes de dormir. Eu poderia continuar para sempre com essas histórias.
      Eu visitei o sexto médico, depois o sétimo, oitavo... cada um deles falava algo diferente. Caraca, o que eu tenho???
      Eu chorei, chorei, chorei. Tive medo de nunca mais jogar futebol.
      Por isso que eu fui para o Corinthians, em janeiro de 2013. Sim, eu queria estar na Copa de 2014. Mas eu também tinha o desejo de trabalhar com o Bruno Mazziotti, o fisioterapeuta do Ronaldo. Quando eu cheguei lá, eles removeram um músculo do meu braço para fazer uma biópsia. Eu tremia na maca. Depois de 20 dias eles chegaram à conclusão de que alguns dos meus músculos tinham encurtado por causa das lesões. A parte posterior da minha perna estava mais fraca do que a região da frente, então existia uma descompensação.
      Graças a Deus, o Bruno me colocou em forma de novo. Desde 2013, acho que tive apenas três lesões musculares.
      Foi uma pena como tudo terminou no Corinthians.
      Cheguei como um astro do futebol europeu, com um salário alto, o que já cria uma distância em um país tão desigual como o Brasil. Então a exigência da torcida era gigantesca. Quando eu perdi o pênalti contra o Grêmio nas quartas de final da Copa do Brasil, fui o único culpado. Sim, eu cometi um erro, mas não é verdade que colegas de elenco tentaram me bater. Ninguém fez nada. Mas os torcedores queriam me bater e me matar. Eu passei a andar de carro blindado em São Paulo, com seguranças armados e bombas de gás lacrimogênio. Os torcedores invadiram o CT com pedaços de pau e facas. Isso é uma loucura, algo assustador. Isso não deve ter lugar no futebol de jeito nenhum.
      Sabe por que eu joguei muito melhor no São Paulo? Porque eles cuidaram de mim. Lá eu só precisava jogar. Mas quando o Chelsea se interessou por mim, eu ainda sonhava em voltar para a Europa.
      Infelizmente, mais uma vez eu paguei o preço por ser superprotegido.
      Eu ainda não entendia os bastidores. Pensei que fossem me levar por empréstimo por seis meses e depois eu assinaria um contrato por mais três anos. Eu não sabia que eles poderiam dizer não depois do empréstimo. E se eu soubesse? Teria ido para outro clube. Foi uma pena, porque eu estava treinando muito bem, mas o técnico me colocou para jogar em apenas dois jogos. Nunca entendi direito o porquê.
      Depois tive de me reapresentar ao Corinthians, onde algumas pessoas queriam me ver pelas costas. Como eu queria permanecer na Europa, decidi fazer algo inédito na minha carreira. Liguei para o Bonera, com quem eu havia jogado no Milan e que estava no Villarreal. “Bony, você acha que eles teriam o interesse?”
      Bom, o Marcelino, então treinador, me ligou, ofereceu as condições e poucos dias depois eu estava a caminho da Espanha. OPA! Eu mesmo resolvi a minha transferência.
      Contatos. Relacionamentos. É assim que o futebol funciona.
      Esse foi um ponto de virada para mim. Todos aqueles anos eu me comportei como se eu ainda fosse um garoto no Inter. Aos 27 anos, eu percebi que precisava mudar. Tive de assumir o comando da minha carreira.
      Assumi a responsabilidade do meu destino.
      Infelizmente, a minha passagem do Villarreal não durou tanto, mas o Tianjin Tianhai foi uma grata surpresa. Quando eu fui para a China, eu estava solteiro e mudei com um amigo. Por quê? Para me conectar com o meu interior. Eu nunca tinha parado para ter um panorama geral da minha vida. Do que eu gosto? O que é importante para mim?

      Sam Robles/The Players' Tribune
       
      Passei a cuidar da minha saúde mental e dos meus relacionamentos. Comecei a fazer terapia. Aprendi a encontrar a felicidade no trabalho duro. Ainda me divertia, mas entendi que o futebol era o meu trabalho, sabe? Passei a ter responsabilidade por todos os aspectos da minha carreira. Em Milão eu passei o primeiro ano inteiro sem ficar fluente no italiano. Na China, aprendi sobre a culinária e a cultura logo de cara. Passei até a cozinhar noodles em casa.
      O garoto amadureceu. Eu estava jogando bem. Entendi que o futebol vai muito além do que acontece no campo, e isso foi muito gratificante.
      Foi como encontrar o verdadeiro propósito da vida.
      Aí eu acabei dando um passo em falso.
      Depois da minha passagem na China, eu ainda estava solteiro, então eu decidi aproveitar a minha liberdade. Fui para Los Angeles. Queria o melhor hotel, o melhor carro, as melhores festas.
      Estava em um lugar e, de repente, uma menina começou a cheirar cocaína do meu lado.
      Caraca, o que eu tô fazendo aqui?
      Peguei as minhas coisas e saí. Não quero isso para a minha vida, esse mundo vazio. Falei com o meu amigo. “Será que vou passar o resto da minha vida sozinho?”.
      Decidi voltar para o Brasil. Mandei uma mensagem para uma até então amiga, a Rebecca. “Quer dar uma volta?”.
      “Vamos tomar um café”, ela respondeu.
      Eu me encontrei com ela e depois de poucos segundos...
      Cara, é isso o que eu quero.
      Chamei ela pra sair de novo.
      Coloquei uma roupa bacana, fiquei todo no estilo. Ela disse:
      “Vamos à igreja.”
      Igreja?
      Cara, que surpresa. A Bíblia tinha todas as respostas que eu estava procurando há anos. Olhei para o céu e falei: “Senhor, não quero mais aquela vida”.
      Naquele dia tudo mudou para sempre.
      Desde então eu passei a viver uma realidade totalmente diferente. Quando eu me transferi para o Orlando e logo machuquei o joelho, eu poderia ter desabado. No dia seguinte eu resolvi voltar mais forte e agora sei tudo de joelho. Tem uma lesão? É só ligar para o médico Alexandre.
      A minha carreira poderia ter tomado um rumo diferente? Claro. Mas é fácil olhar para trás e dizer o que eu deveria ter feito. Quando você está no meio do furacão, você não enxerga o todo. Por isso, não tenho arrependimentos. Olhe para o lado bom, cara. Estou em forma. Minha saúde está ótima. Ainda amo o futebol.
      Por que eu deveria estar amargurado? Só temos uma chance de viver neste mundo.
      Ainda acredito que posso disputar uma Copa. Veja o Thiago Silva e o Dani Alves jogando bem aos 37 e 39 anos.
      Mas essas coisas acontecem no tempo de Deus. Eu vivo o hoje. O resto é com Ele.
      Conforme você envelhece, você entende o que te faz feliz. Quando eu saí de casa, eu pensava que o futebol tinha tudo o que eu queria. Fui para a Itália, Inglaterra, Espanha, China. Sofri, chorei, gritei de dor. Eu estava quase sempre sozinho.

      Andrea Vilchez/SPP/Sipa USA Via AP Images
       
      Sim, eu não me tornei o melhor do mundo. Mas eu vou te falar uma coisa, cara.
      Vejo os meus pais com muito mais frequência — estamos recuperando o tempo perdido.
      Tenho um relacionamento maravilhoso com os meus irmãos.
      Estou em paz comigo mesmo.
      Sou um filho de Deus.
      Amo a Rê, a minha esposa.
      Do meu ponto de vista, eu tenho muitas Bolas de Ouro.
      Se a vida é mesmo um jogo, eu venci.
       
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      Link para a página original.
      Relato bem legal do Pato sobre a carreira, acho que cabe uma bela discussão sobre isso e como deve ter acontecido com muitos outros.
    • Cesarrock9
      Por Cesarrock9
    • Leho.
      Por Leho.
      Era lançado o INESQUECÍVEL, o inexorável e abençoado... CM 01/02. 💖😍
       
       Fez parte da minha iniciação nesse vício que se chama "jogos manager". Deixe seu relato saudosista abaixo.
       
    • Respeita Meu Manto
      Por Respeita Meu Manto
      Se tiver algum tópico no fórum onde estejam discutindo o assunto, por favor unam esse tópico ao já existente, mas acho essa discussão interessante e quis trazer pra cá, hoje vi uma postagem que um amigo compartilhou da Folha de SP sobre o padrão do descobrimento que é um dos principais pontos turísticos de Lisboa e ontem foi pichado em inglês com a seguinte frase "velejando cegamente por dinheiro, a humanidade está se afogando em um mar escarlate", recentemente tivemos aqui no Brasil a estátua do Borba Gato sendo incendiada, tanto um caso como o outro, a justificativa é a mesma "reescrever a história", a pergunta que deixo é, qual a sua opinião? Esse pessoal tem razão ou não passam de vândalos? 
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