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Salò (ou os 120 dias de Sodoma)


Leho.

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  • Diretor Geral

SALÒ OU OS 120 DIAS DE SODOMA

05/03 - 15h32

por Leonardo Alexander

"Nós, fascistas, somos os únicos verdadeiros anarquistas, naturalmente, uma vez que somos donos do Estado. Na verdade, a verdadeira anarquia é a do poder."

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"É quando vejo os outros degradados, que eu me regozijo, sabendo que é melhor ser eu do que ser a escória do povo."

Escrever sobre Salò é provavelmente uma tarefa mais fácil do que de fato assistir ao filme do início ao fim. Diante do horror exibido em cena é normal desviar o olhar, maldizer o diretor, querer parar de assistir no meio, pular algumas partes... Há até mesmo relatos de quem chegou a passar mal ao ver algumas cenas. Não, não se trata do que normalmente chamaríamos de um filme de terror. No entanto, questão de gênero à parte, talvez este seja um dos mais terríveis filmes de terror já realizados. Ainda hoje, quase 40 anos depois do seu lançamento, Salò causa controvérsias, divide opiniões e, por incrível que pareça, continua banido em alguns países.

O diretor italiano Pier Paolo Pasolini, o gênio por detrás do filme, é certamente um dos maiores artistas europeus do século XX. Grande poeta e cineasta, Pasolini também escreveu romances, ensaios e peças de teatro. Além de ser um artista multifacetado, Pasolini foi um intelectual extremamente engajado, tendo sido associado por muito tempo ao partido comunista. A defesa corajosa de seus valores e de suas opiniões sobre a sociedade italiana, as diferenças de classes, o clero e o consumismo lhe valeram grandes inimizades. Seu brutal assassinato, em novembro de 1975, jamais foi devidamente esclarecido. Pasolini morreu aos 53 anos, poucos meses antes de Salò ser lançado nos cinemas, tendo nos legado diversas obras-primas, como O Evangelho Segundo São Mateus (1964), Mamma Roma (1962),Teorema (1968) e Desajuste Social (1961).

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"Sempre que os homens são iguais, sem que haja diferença, a felicidade não pode existir."

Erudito e profundo conhecedor do universo das Letras, Pasolini realizou interessantes adaptações de clássicos da literatura universal, como Decameron (1971), Édipo Rei (1967), Os Contos de Canterbury (1972), As Mil e Uma Noites (1974) e Medéia (1969). Salò é baseado no romance 120 dias de Sodoma, do Marquês de Sade, escrito em 1785. A divisão do filme, em quatro partes, no entanto, é inspirada no segmento “Inferno”, da Divina Comédia de Dante. O filme contém, também, citações de obras de importantes pensadores do século XX, como Roland Barthes, Maurice Blanchot, Philippe Sollers e Simone de Beauvoir.

Pasolini transpôs a narrativa, que se passava originalmente no século XVII na França, para os últimos dias do regime de Mussolini, na República de Salò, local de onde o ditador governava. Foi também nessa cidade que o irmão do cineasta foi assassinado em 1945. O filme conta a história de um grupo de fascistas libertinos que sequestram 18 adolescentes, garotos e garotas, e os mantêm enclausurados durante meses, impondo-lhes diversas formas de abuso (sexual, em sua maioria) e humilhação. Os jovens são vítimas das mais absurdas perversidades, torturas e atos de violência, arquitetados pelas mentes doentias de um grupo de homens ricos, poderosos e sádicos.

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"Em todo o mundo, nenhuma volúpia agrada os sentidos mais do que o privilégio social."

Vários fatores fazem de Salò um verdadeiro soco no estômago. O filme não nos oferece, por exemplo, uma narração off ou um personagem principal, ou seja, ele não adota nenhum ponto de vista. Essa neutralidade e ausência de referências é extremamente desconfortável para o espectador. Além disso, as terríveis cenas de tortura são, na sua maioria, filmadas em longos planos, sem corte, que não oferecem qualquer escapatória para quem assiste. A brutalidade da história contrasta com a direção clássica e precisa de Pasolini. O diretor acentua a grandiosidade do cenário e o seu caráter opressor, através de belíssimos enquadramentos, marcados pela simetria e acompanhados pela bela trilha sonora de Enio Morricone.

Muitos afirmam que o filme é uma crítica ao poder opressor da sociedade de consumo capitalista. Chegam mesmo a afirmar que a famosa cena de coprofagia (alimentar-se de fezes) é uma metáfora da ascensão da cultura do junkie food. No entanto, a obra parece ir além dessas questões, sendo um exame impiedoso da crueldade humana, do abuso de poder, do autoritarismo e de todas as formas de corrupção. Uma coisa é certa: poucos cineastas ousaram ir tão longe ao tratar da violência e do sexo, o que faz de Salò um dos filmes mais audaciosos e provocadores de todos os tempos.

Melhor filme de Pasolini? Pior? Provavelmente existem argumentos para defender as duas hipóteses. Obviamente, o filme não faz unanimidade, mas também tem grandes admiradores e ferrenhos defensores. Não se pode negar, no entanto, que se trata de uma obra fundamental da filmografia do brilhante diretor italiano. Salò revela-se importante não apenas pelas discussões que levanta, mas também por nos fazer refletir sobre os limites (ou a falta deles) da arte na representação da realidade.

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"O gesto obsceno é como a linguagem do surdo-mudo, um código que nenhum de nós, apesar do capricho irreprimido, pode transgredir."

Fonte: Cinema em Cena

Alguém já se aventurou assistindo a esse filme?

Já o vi em algumas listas dos filmes mais aterrorizantes de todos os tempos mas, não conhecia seu enredo. Acabei ficando um pouco por dentro pelo artigo aí, e nem animei em baixar essa porra não oiauehoiuaheoiuhaoe! Tenso demais, tá loco.

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Tenho uma baita curiosidade de ver esse filme, os textos que li dele (mesmo estilo desse postado) alimentaram ainda mais essa curiosidade. Porém o "cagaço" é maior ainda, é um filme que com certeza mexe com seus questionamentos.

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  • Diretor Geral

[...], é um filme que com certeza mexe com seus questionamentos.

Porra, "mexer" é o de menos Ribs, deve te embrulhar o estômago e te fazer odiar, mesmo que por algumas horas apenas, o ser humano e sua capacidade de fazer atrocidades. O bagulho é tensíssimo, por isso postei pra saber a opinião de alguém que já viu, mas pelo visto não temos corajosos nesse fórum o suficiente pra isso oaiuehoiuhaeoiu!

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Porra, "mexer" é o de menos Ribs, deve te embrulhar o estômago e te fazer odiar, mesmo que por algumas horas apenas, o ser humano e sua capacidade de fazer atrocidades. O bagulho é tensíssimo, por isso postei pra saber a opinião de alguém que já viu, mas pelo visto não temos corajosos nesse fórum o suficiente pra isso oaiuehoiuhaeoiu!

Pra mim o pior é ficar pensando depois, ver ali as atrocidades e cenas de nojo eu até aguento (creio eu). O porém é que depois vou ficar com aquilo na cabeça e começar a questionar isso na realidade, nesse mundo terreno. Até onde o ser humano consegue chegar ...

O problema é bem o que você falou, capacidade do humano fazer atrocidades. Única diferença é que na hora eu não sentiria tão mal, provavelmente depois que eu começaria a perguntar o por que do humano chegar a isso.

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    • grollinho
      Por grollinho
      Finalmente está saindo a sequência do grande filme do James Cameron (o original também demorou mil anos).
      O lançamento é dia 15/12.
       
    • Douglas.
      Por Douglas.
      Putz, vi muito poucos dos concorrentes. Ozark, Killing Eve, Lovecraft Country, Mrs America, Perry Mason, Schitt's Creek, Ted Lasso e The Flight Attendant (WTF??? Não chega a ser uma série ruim mas é de longe a indicada mais fraca que já vi, não é possível que estavam raspando o fundo da panela assim).
      Pior que indicada fraca foi terem esnobado o elenco de Lovecraft Country, justamente a parte mais forte da série. The Boys também poderia entrar fácil como indicada em comédia no lugar de The Flight Attendant.
       
      Lista do Omelete de surpresas e esnobados: https://www.omelete.com.br/globo-de-ouro/globo-de-ouro-2021-indicados-esnobados-surpresas
       
      Lista dos indicados na IMDB: https://www.imdb.com/event/ev0000292/2021/1/?ref_=ev_eh
    • Leho.
      Por Leho.
      ---
      Trouxe a opinião do PH Santos que é um vlogger que eu sigo e acho maneiro, mas sintam-se à vontade pra trazerem outros vídeos de análises e comentários sobre o tema.
      Aliás, falando em comentário... o que vocês acham disso tudo? Qual o caminho que tomará o cinema? E o streaming, caminha pra ser a grande revolução midiática dentro do entretenimento que tá parecendo ou não?
    • ZMB
      Por ZMB
      Ator lutava contra câncer de cólon desde 2016 e morreu em sua casa, nos Estados Unidos.
      O ator Chadwick Boseman morreu aos 43 anos. Conhecido por interpretar o Pantera Negra no filme da Marvel, além de personagens importantes da história americana, ele enfrentou um câncer de cólon diagnosticado em 2016.
      "É com imensurável pesar que confirmamos a morte de Chadwick Boseman. Chadwick foi diagnosticado com câncer de cólon de estágio 3 em 2016, e lutou contra ele nestes últimos quatro anos conforme progrediu para estágio 4", afirmou a família do ator em seu perfil no Twitter.
      "Um verdadeiro lutador, Chadwick perserverou por tudo, e trouxe a vocês muitos dos filmes que tanto amam. De 'Marshall: Igualdade e Justiça' a 'Destacamento Blood', 'Ma Rainey's Black Bottom' de August Wilson e muitos mais, todos foram gravados durante e entre incontáveis cirurgias e quimioterapia. Foi a honra de sua carreira trazer à vida o rei T'Challa em 'Pantera Negra'."
      De acordo com a nota, ele morreu em sua casa, acompanhado da mulher e da família. Ele nunca tinha falado sobre a doença publicamente.
      Nascido na Carolina do Sul, o americano Chadwick Aaron Boseman começou a carreira na televisão, com um pequeno papel na série "Parceiros da Vida".
      Depois de participações em séries como "Lei & Ordem" e "Plantão médico", ele ganhou seu primeiro papel regular em "Lincoln Heights", em 2009.
      Seu primeiro personagem de destaque no cinema veio como o protagonista de "42: A História de uma Lenda" (2013).
      No filme baseado em fatos, interpretou o jogador de beisebol Jackie Robinson, que em 1947 se tornou o primeiro negro a entrar para um time da principal competição dos Estados Unidos, a Major League Baseball.
      O papel marcaria uma carreira repleta de personagens importantes da cultura negra americana, como o cantor James Brown, em "Get on Up: A História de James Brown" (2014), e o juiz Thurgood Marshall, primeiro membro negro da Suprema Corte americana, em "Marshall: Igualdade e Justiça" (2016).
      Ainda em 2016, ele estreou no papel pelo qual seria mais lembrado. Em "Capitão América: Guerra Civil", Boseman apareceu pela primeira vez como T'Challa. Criado pela Marvel em 1966, o Pantera Negra foi o primeiro super-herói negro dos quadrinhos americanos.
      Dois anos depois, estrelou seu próprio filme, "Pantera Negra". Sucesso com crítica e com o público, a história do herói de um reino africano fictício e avançado bateu a marca do US$ 1 bilhão nas bilheterias mundiais, ganhou três Oscar e foi indicado a outros quatro — entre eles, o de melhor filme.
      Como o herói, ele ainda participou de "Vingadores: Guerra Infinita" (2018) e de "Vingadores: Ultimato (2019), e tinha presença confirmada em um novo "Pantera Negra", previsto para 2022.
      Seu trabalho mais recente já lançado foi "Destacamento Blood", dirigido por Spike Lee, que estrou em junho. Ele ainda esteve em "Ma Rainey's Black Bottom", com Viola Davis, que tinha estreia prevista em 2020.
      Fonte: G1.com
       
       
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