Ir para conteúdo
  • Cadastre-se

"...sendo juiz com esse salário pífio que eu recebo” - 32 mil reais


Lowko é Powko

Posts Recomendados

“Dá para adoção”, disse juiz Rodrigo de Azevedo Costa em outra audiência

22 de dezembro de 2020
 

Em duas novas audiências on-line recebidas pelo Papo de Mãe, o juiz Rodrigo de Azevedo Costa, que desdenhou da Lei Maria da Penha, segue a mesma conduta misógina e machista. Ele se descontrola, faz ameaças, grita. Faz comentários considerados racistas e discriminatórios.

“A senhora escolheu um mau pai, a senhora escolheu um cara sem dinheiro. Azar é o seu” – audiência de B.

“Se ele é mau pai, eu não tenho culpa. Eu vou fazer o que? Vou pegar este negão e encher ele de tapa? Não é meu trabalho este.” – audiência de B.

“Quisesse, minha senhora, ganhar dinheiro, não ia ser sendo juiz com esse salário pífio que eu recebo” – audiência de F.

(O salário bruto do juiz Rodrigo de Azevedo Campos é de R$32.004,65, conforme informa site do TJ-SP.)

Por Mariana Kotscho – EXCLUSIVO

Como durante a pandemia as audiências estão sendo on-line e gravadas, após reportagem em primeira mão do Papo de Mãe mostrando o juiz Rodrigo de Azevedo Costa afirmando em vídeo “não estar nem aí para a Lei Maria da Penha”, outras mulheres apareceram para contar que também foram humilhadas por ele. Todas as audiências são da Vara de Família da Nossa Senhora do Ó, zona noroeste de São Paulo.

B. é auxiliar de enfermagem, tem duas filhas pequenas e participou de audiência de conciliação de regulamentação de visitas no dia 10 de dezembro. Assim como *Joana, que aparece na nossa primeira reportagem do caso, B. foi chamada de “mãe” e “manhê” pelo juiz, se sentiu ofendida em diversos momentos e mal teve a chance de falar. Sempre que ela tentava dizer algo, era interrompida.

Isso também aconteceu com F., numa audiência on-line de conciliação que tratava de partilha de bens no dia 11 de novembro (neste caso, não havia promotor). Foram duas horas de audiência. O juiz se mostra muito mais amigável com o advogado homem e o ex-marido do que com a advogada mulher e a mulher. Interrompe as mulheres várias vezes.

Audiência de B.

IMG_4805-300x169.jpg

No caso de B., que não tem dinheiro para pagar advogados, estava na audiência uma defensora pública que quase não conseguiu falar. O juiz fez mais uma vez afirmações misóginas, machistas e, desta vez, também racistas (em relação ao ex-marido dela). O promotor do caso de B. é Edi Lago,  que também esteve na audiência em que se falou sobre a Lei Maria da Penha. Ele mantém o mesmo procedimento nas duas sessões: fica praticamente calado o tempo todo.

A audiência foi pedida porque B. tem guarda compartilhada e precisava rever as visitas em razão da pandemia, já que as filhas não estão indo para a creche e, para poder trabalhar, ela precisava de uma participação maior do pai.

O juiz Rodrigo de Azevedo Campos mostra ainda preconceito pelo fato de B. ser pobre: “Ganha 1300 e quis ter 2 filhos?”. Ou “se não tem como cuidar, então dá para adoção, põe num abrigo”

Num momento de nervosismo, B. esboça um sorriso e ouve do juiz: “Não ria de mim, a senhora tem que estudar muito para rir de mim”.
 
Mais um detalhe importante: O tempo todo o juiz ataca a mãe com frases como “quem quis ficar com a guarda foi a mãe, tem que pagar este preço”. Só que a guarda, no caso, é compartilhada. O juiz parece deixar clara a sua opinião de que quem tem que cuidar dos filhos é a mãe, colocando o trabalho do pai como mais importante
 
Em relação ao ex-marido de B., o juiz faz a seguinte declaração: “Se ele é mau pai, eu não tenho culpa. Eu vou fazer o que? Vou pegar este negão e encher ele de tapa? Não é meu trabalho este.”
 
A advogada de direitos humanos e integrante da Uneafro Brasil, Sheila de Carvalho, afirma que a frase é racista: “Este juiz precisa ser representado no CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e, mais do que isso, cabe a ele uma denúncia criminal porque ele comete crime de racismo, isso claramente. O fato de ele ser juiz não o exime da prática de crime de racismo que foi exatamente o que aconteceu nesta audiência. Para além disso, a gente tem uma adequação na lei de abuso de autoridade para que essas pessoas que ocupam cargos públicos tenham um agravante de incorrer na lei de abuso de autoridade se se tratar de discriminação e racismo. Além do racismo, tem a discriminação pela pobreza das partes envolvidas, um comportamento desapropriado para um juiz e também ilegal. É abuso de autoridade, é racismo e é ato discriminatório. Esse tipo de conduta não pode se perpetuar.”

Algumas frases ditas pelo juiz:

“Mas ela não quis a a guarda? Então, cabô. Ela quis a guarda e a guarda não é só bônus. E a senhora não ria de mim, a senhora tem que estudar muito para rir de mim”

“Esses dois vão ter que resolver entre si quem vai cuidar do filho. Ou senão dá pra adoção. Se não pode cuidar, põe num abrigo, sei lá, faz uma coisa assim”.

“Não dá pra B. chegar e falar “você tem obrigação de me ajudar”. Não, ele não tem.” (Detalhe : ele é o pai e a guarda é compartilhada)

“Você não quis a guarda, filha? Aceita o ônus dela. Quem tem que se virar para arrumar alguém é a senhora, não necessariamente ele.”

“Eu preciso saber quais dias o pai pode, ele tem um trabalho”

Juiz pede escala de serviço do pai e da mãe e diz: “Sem isso eu não tenho como decidir. Eu não tenho. Porque vai ser jogar o problema da mãe pro pai e isso eu não vou fazer. A mãe não tem com quem deixar. Pai também não tem. Mas quem quis ficar com a guarda foi a mãe, vai ter que pagar esse preço”.

“Tudo bem, o senhor tem que ficar 15 dias com a criança, vai lá e ela larga na porta da sua casa as crianças e o senhor tá no Rio Grande do Norte a trabalho, e aí, como é que a gente faz, mãe?

“Mas pera aí: a senhora ganha 1300 por mês e quis ter dois filhos?”

“A senhora é nova, é bonita, vai arrumar namorado que vai ficar na sua casa com eles (filhos) e o trouxão ainda pagando alimentos e, vacila, pagando mais alimentos ainda e tudo bem”. (observação: o juiz adota o mesmo padrão em outras audiências dizendo que a mulher vai arrumar outro homem e o pai vai ficar pagando pensão. Advogados explicam que a pensão é para as crianças, e independe de outro casamento da mãe)

“Quem tem que se virar com a guarda é a senhora, a guarda é sua”

“Aí, mãe, ele sai do trabalho e não tem alimentos. Ah, vou pedir prisão dele?  Não, não vou dar, filha, ele saiu do emprego a pedido seu, inclusive, para ficar 15 dias porque ele não tem com quem deixar.

Veja o vídeo editado com trechos de diferentes momentos da audiência de B. A sessão durou uma hora.

O advogado Ariel de Castro Alves, especialista em direitos humanos pela PUC- SP e conselheiro do Condepe – Conselho Estadual de Direitos Humanos explica que “em regra, atualmente tem sido adotada a guarda compartilhada,  a lei prevê esse tipo de guarda como prioritária, já que o poder familiar deve ser exercido em igualdade de condições por ambos os genitores” e ele completa: “Essas atitudes dele podem ser consideradas não condizentes com a dignidade da jurisdição. A corregedoria do TJ precisa apurar se ele infringiu o código de ética da magistratura.”

Audiência de F.

IMG_4809-300x165.jpg

Neste outro caso, a tensão maior começa quando o juiz não entende algo que F. falou em relação aos filhos. Ela mencionou que o ex-marido só havia ficado com o bônus na separação e ela com o ônus. O juiz perguntou qual o ônus e ela mencionou dívidas e ficar com os filhos, mas ele não deixou ela terminar de explicar que o ônus não seria os filhos em si, mas as despesas deles:

Juiz: “Eu fico um pouco preocupado quando mãe diz que ficou com ônus de ficar com os filhos” (ela tenta argumentar sem sucesso) aí, mãe, não posso fazer nada”

Juiz: “Eu nao tô nem aí se a sua cliente ficou com o ônus, ficou com os filhos” (Ela não disse isso, excelência), “Eu não to nem aí se ele não visita”.

Várias vezes o  juiz não deixava a advogada (também mulher) nem a mulher completarem uma frase inteira.

No meio da audiência, ele se descontrolou e gritou porque  F. comenta com a advogada que acha que o juiz está favorecendo o ex-marido. Se dizendo muito ofendido, o juiz a chama de  ”uma qualquer” e insinua mais de uma vez que ela precisa de terapia: “A senhora tá nervosa, ansiosa, eu entendo”. Ele chega a ameaçar processá-la.
 
Na parte mais tensa, o diálogo é este:

Juiz: “Eu tô sendo desacatado! Não ouvi a senhora falar desculpa. O que eu tô comentando aqui é uma falta técnica eu não tô defendendo marmanjo não, não sou advogado. A  senhora tá me ofendendo, eu não tô batendo palma pra louco dançar. Ele tá muito bem patrocinado, a senhora acho que talvez (aqui ele está elogiando o advogado do homem e criticando a advogada da mulher) . Vocês pediram a porcaria da petição! (aqui ele bate a mão na mesa).

A advogada de F. disse ao papo de mãe: “Me senti nua naquela audiência. Nua e violada, moralmente falando.”

Ainda se dizendo muito ofendido, ele continua: “A senhora sabe o quanto eu estudei na minha vida, o que eu deixei passar na minha vida, pra nessa altura vir uma qualquer e falar que eu to defendendo parte? A senhora me ofendeu senhora. F. não se aguenta e responde: “Eu também não sou uma qualquer”. “Mas agiu como tal”, ele rebate. “Tá pensando o que, minha senhora? Posso te processar por isso!

“Desculpa”, diz F, já chorando muito.

O advogado do homem ri  várias vezes e o juiz não faz nada. O juiz praticamente não se dirige  com o ex-marido.

Em dois momentos, o juiz fala sobre a profissão e o cargo dele:

“Pra mim é indiferente, se eu decidir 10 sentenças ou 5 ou não fazer nada,  meu salário é o mesmo”.

“Quisesse, minha senhora, ganhar dinheiro, não ia ser sendo juiz com esse salário pífio que eu recebo”. O UOL apurou que o salário bruto do juiz Rodrigo de Azevedo Campos é de R$32.004,65, conforme site do TJ-SP.

Rodrigo de Azevedo Costa parece gostar de dizer para as mulheres que elas vão arrumar outro homem e que o pai vai continuar pagando pensão. E deu o exemplo de outra audiência para deixar a mulher com medo: “Entenda, mãe. Outro dia falei numa audiência sobre isso, eu disse: Por que a senhora não transfere a guarda pra ele? Ah, não isso eu não quero (mãe teria respondido). Então, cala a boca!” (ele contando de outra audiência).

Veja o vídeo editado com trechos de diferentes momentos da audiência de F. A sessão durou duas horas.

No final da audiência, o juiz ainda diz: “Eu vou dizer mais uma coisa pra senhora: se a vida da senhora não tá boa ou a minha, da dra, do doutor, os únicos responsáveis somos nós. Tenha humildade de entender os porquês das coisas na sua vida.

Isabela Del Monde, advogada que nos apoiou na primeira reportagem dessa série, diz ter ficado chocada com o que viu nesses dois novos vídeos. “Esse juiz tem revelado que tem uma postura recorrente de desmoralização das mulheres, sejam ela as partes ou suas advogadas. Não deixa mulheres concluírem suas frases, as intimida e decide quando ele bem entende que as partes não desejam um acordo, sendo que ele cria um ambiente completamente hostil para que qualquer acordo seja formado.”
 
Del Monde ainda disse que “causa espanto o conforto que ele sente em externalizar uma série de preconceitos machistas e racistas e ideias do senso comum, sem se ater à técnica, pelo menos nos trechos da audiência aos quais tive acesso”. Por fim, é categórica ao dizer que “é um escárnio com o povo que vive com salário mínimo de 1000 reais e que paga o salário desse juiz, numa cifra acima de 30 mil reais, que ele pode fazer a quantidade de trabalho que ele quiser porque isso não impacta seu salário. Esse juiz causa um dano severo à instituição do Tribunal de Justiça de São Paulo, porque há uma série de juízas e juízes que fazem um trabalho muito sério, mas por conta de posturas como a do juiz Rodrigo enfrentam descrédito e desconfiança popular. O Tribunal de Justiça de SP é maior e mais digno do que esses atos e merece ser protegido por meio da devida responsabilização de Rodrigo de Azevedo Costa.”
 

Mais Repercussão:

Claudia Luna, presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-SP

“Infelizmente isso não é exceção. Impossível não reconhecer que há misoginia, racismo, sexismo. Que há seletividade no sistema de justiça. O que as mulheres assistem, em todos os seus aspectos de interseccionalidade, nós assistimos isso. Tanto enquanto operadores do sistema de justiça, como enquanto partes. As advogadas sofrem violações nas suas prerrogativas profissionais ao terem um tratamento diferente em relação a advogados homens. E acontece mais ainda quando a profissional do direito é uma mulher negra. As violações de prerrogativas se colocam em relação às advogadas enquanto episódios de violência porque afetam gênero e quando afetam negras, para além disso, existe um componente de violência racial também.

São episódios de violência de gênero e configuram grave violação de direitos humanos. Existe uma recomendação da Convenção Internacional da ONU, da qual o Brasil é signatário, de que práticas como esta do juiz Rodrigo sejam eliminadas do sistema de justiça. São práticas de revitimização e estigmatização das mulheres, sejam elas partes ou integrantes do sistema de justiça. Isso é grave.

Essas práticas de reprodução do machismo acontecem por vezes de forma ainda mais perversa quando temos mulheres ocupando espaços de poder. Há mulheres que também reproduzem este comportamento.”

Vanessa Figueiredo Lima, advogada ativista, doutoranda ENSP/Fiocruz, membro da CDHAJ da OAB-RJ, do coletivo Coletes Rosas e da Rede de Apoio à População Periférica do RJ

“A partir dos trechos das audiências ficam claros os posicionamentos misóginos, elitistas e racistas do magistrado. Porém, não só pela questão humana e filosófica que erra o magistrado. Despreza o texto constitucional que já garante a isonomia entre os gêneros, ignora a regulamentação da guarda compartilhada. Desrespeita suas colegas defensoras e advogadas e esquece que o texto constitucional é expresso em determinar que não há hierarquia entre magistrado, promotores e advogados. Principalmente, ao humilhar as partes. Principalmente quando são mulheres. Demonstra não conhecer ou não se importar com o papel social de sua função. É inadmissível que a Vara de Família seja um lugar de produção de mais violência simbólica contra mulheres. No caso de B., ao mandar uma mãe zelosa (que apenas tenta fazer com que o pai de seu filho cumpra com seu papel) entregue o filho pra adoção, o juiz ignora a realidade das inúmeras crianças e adolescentes institucionalizadas e das famílias formadas pelo processo da adoção.”

Ministério Público de São Paulo

Promotores ouvidos pelo Papo de Mãe explicaram que, quando a audiência envolve menores em vara de família, é necessária a presença do promotor, que deveria intervir quando o juiz se excede. O papel dele deveria ser verificar se a lei está sendo cumprida. Se o juiz começa a pressionar uma parte, seria papel do promotor intervir.

Em nota enviada ao Papo de Mãe, o promotor Edi Lago, que esteve presente das audiências de B. e de *Joana (do primeiro caso divulgado) informa o seguinte em relação à audiência em que o juiz falou sobre Maria da Penha:

“A atuação de membros do Ministério Público nas Varas da Família tem previsão legal. Ao contrário do que se supõe equivocadamente, houve sim manifestação do promotor na audiência, que resultou em acordo. Isso, evidentemente, com a anuência das advogadas, que tiveram ampla possibilidade de se manifestar e, inclusive, recusar o acordo. Vale ainda ressaltar que processos envolvendo direitos de crianças e adolescentes são protegidos por segredo de Justiça, nos termos da legislação, não cabendo nenhum outro comentário para se evitar a indevida quebra do sigilo”. ((Edi Lago, Promotor de Justiça))

Tribunal de Justiça de São Paulo

O TJ-SP informou em nota na semana passada que vai apurar a conduta do juiz Rodrigo de Azevedo Campos. O Tribunal entrou em recesso de fim de ano e só volta no dia 7 de janeiro.

O Juiz Rodrigo de Azevedo Costa não se manifestou.

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

O CNJ divulgou a seguinte nota:

Corregedoria Nacional de Justiça informa que, em 18 de dezembro de 2020, instaurou, por ocasião das representações subscritas pelas conselheiras do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Tânia Regina Silva Reckziegel, Flávia Pessoa e Maria Tereza Uille Gomes, a Reclamação Disciplinar nº 0010575-96.2020.2.00.0000 para apurar as circunstâncias em que ocorreu a audiência mencionada em reportagem do Portal Papo de Mãe. A Corregedoria Geral de Justiça do Estado de São Paulo comunicou à Corregedoria Nacional de Justiça que instaurou procedimento para apurar os fatos noticiados.

Informamos ainda que a Corregedoria Nacional de Justiça não pode se pronunciar a respeito dos fatos, por força do disposto no art. 36, inciso III, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional.

Câmara dos Deputados

A Presidência da Comissão de direitos humanos e minorias da Câmara dos Deputados pediu, na tarde do dia 21 de dezembro, “apuração rigorosa sobre conduta do juiz Rodrigo de Azevedo Costa.”

Nota do Papo de Mãe:

O Papo de Mãe informa que em sua primeira reportagem, em que revelou com exclusividade a má conduta do juiz Rodrigo de Azevedo Costa, o nome e a imagem dele não foram divulgados em respeito ao acordo feito com a fonte da matéria. Ou o vídeo era publicado sem identificação, ou não era. Nosso jornalismo não se calou e decidiu divulgar o fato, já sabendo, inclusive que a identidade dele já tinha sido revelada aos órgãos competentes – o que era importante.

A partir do momento em que a identidade do juiz já é pública, com esses novos vídeos, juiz e promotor são identificados. Porque mesmo sendo uma audiência em segredo de justiça, á permitido mostrar juiz e promotor. E porque as fontes autorizaram.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Minha duvida é, aos amigos advogados aqui do fórum, essa conduta é comum com os demais magistrados? Eu conheço um Juiz, ele é totalmente o oposto disso aí.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

9 minutes ago, Léo R. said:

Minha duvida é, aos amigos advogados aqui do fórum, essa conduta é comum com os demais magistrados? Eu conheço um Juiz, ele é totalmente o oposto disso aí.

Minha experiência profissional é que uns ~60% dos juízes são uns bostas. Gente grossa pra caralho, trata mal os próprios servidores, as partes no processo, agem como se fosse um absurdo quando advogado solicita horário pra falar com eles (é obrigação profissional do juiz receber o advogado), te deixam duas horas esperando pra audiência (que é a primeira do dia - uma coisa é atrasar porque as audiências anteriores demoraram mais que o previsto, normal isso. Outra é atrasar duas horas pra audiência que é a primeira do dia). Alguns desses inclusive tem discursos super interessantes em outros ambientes - tipo quando vão dar palestra em universidade -, mas aí sentam no seu trono do poder e viram outra coisa.

Nos outros ~40% é dividido entre os que fazem o seu trabalho de forma "normal" (não são estúpidos com todo mundo, mas também não se esforçam em nada pra ajudar) e aqueles que realmente se esforçam para fazer as coisas bem - ajudar a parte/testemunha a entender o que tá rolando ali, atender bem os advogados, cumprir com o horário.

Geralmente os que mais reclamam das terríveis condições de trabalho e de como sofrem os juízes são os do primeiro grupo. Mas rola reclamação dos outros grupos também de vez em quando. Juiz sofre muito nesse país...

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

21 minutos atrás, Léo R. disse:

Minha duvida é, aos amigos advogados aqui do fórum, essa conduta é comum com os demais magistrados? Eu conheço um Juiz, ele é totalmente o oposto disso aí.

Existem várias piadinhas em relação a isso. Tem aquela que diz que se o juiz acha que é Deus, o desembargador tem certeza que é.

No nível pessoal é difícil dizer. Se um juiz falaria isso quando tá puto, por qualquer motivo. Até porque essa reação em específico é muito anormal, é a expressão de que ou ele está passando por algum momento ruim em específico, ou tem problema mental, ou simplesmente largou a moral. Ou as três coisas ao mesmo tempo. Aí a grande questão é se ele expressa brutalmente o que muitos outros não falam, mas expressam entre linhas nas decisões. Tipo muitos eleitores do Bolsonaro sobre a homossexualidade antes de 2018.

Eu trabalhei com um juiz apenas, e ele era o oposto disso também. Mas sei que, quando o assunto é penal, aí as coisas mudam.

Inclusive vale dar uma olhada nesse vídeo:

 

😂

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

3 horas atrás, Lowko é Powko disse:

Existem várias piadinhas em relação a isso. Tem aquela que diz que se o juiz acha que é Deus, o desembargador tem certeza que é.

No nível pessoal é difícil dizer. Se um juiz falaria isso quando tá puto, por qualquer motivo. Até porque essa reação em específico é muito anormal, é a expressão de que ou ele está passando por algum momento ruim em específico, ou tem problema mental, ou simplesmente largou a moral. Ou as três coisas ao mesmo tempo. Aí a grande questão é se ele expressa brutalmente o que muitos outros não falam, mas expressam entre linhas nas decisões. Tipo muitos eleitores do Bolsonaro sobre a homossexualidade antes de 2018.

Eu trabalhei com um juiz apenas, e ele era o oposto disso também. Mas sei que, quando o assunto é penal, aí as coisas mudam.

Inclusive vale dar uma olhada nesse vídeo:

 

😂

O pior de tudo é que eu passei metade do vídeo achando que ele tava sendo irônico (especialmente por citar Miami e tal). Que parada bizarra kkkkkkkkkk

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

3 horas atrás, Lowko é Powko disse:

Existem várias piadinhas em relação a isso. Tem aquela que diz que se o juiz acha que é Deus, o desembargador tem certeza que é.

No nível pessoal é difícil dizer. Se um juiz falaria isso quando tá puto, por qualquer motivo. Até porque essa reação em específico é muito anormal, é a expressão de que ou ele está passando por algum momento ruim em específico, ou tem problema mental, ou simplesmente largou a moral. Ou as três coisas ao mesmo tempo. Aí a grande questão é se ele expressa brutalmente o que muitos outros não falam, mas expressam entre linhas nas decisões. Tipo muitos eleitores do Bolsonaro sobre a homossexualidade antes de 2018.

Eu trabalhei com um juiz apenas, e ele era o oposto disso também. Mas sei que, quando o assunto é penal, aí as coisas mudam.

Inclusive vale dar uma olhada nesse vídeo:

 

😂

Cara, surreal esse vídeo, uma piada. Não tem nem o que falar.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Diretor Geral
19 hours ago, Roman said:

Ninguém deveria se surpreender com a comunidade jurídica brasileira. É isso aí mesmo.

Na verdade a ampla maioria da sociedade não conhece essa realidade, né? É até covardia falar isso.

Só passam a conhecer mesmo no momento em que precise dos serviços deles (da Justiça no caso), e aí toma esse soco no estômago aí e tem que engolir a seco. Eu mesmo fiquei bastante surpreso com a matéria mas principalmente com os comentários dos amigos aqui no tópico, porra, juiz pelo visto então é tudo uns filhos-da-puta, é isso?

Pra mim a maioria era do tipo "normal" ali, seguindo a classificação do @Danut. Faziam sua função burocraticamente e boa, foda-se. Mas pelo visto a maioria é igual a esse arrombado da matéria, que consegue falar um monte de merda em 4 minutos de audiência.

 

Na boa? É só mais um reflexo desse país de merda. Um reflexo importante diga-se, mas é mais um dentre tantos.

 

18 hours ago, Lowko é Powko said:

Existem várias piadinhas em relação a isso. Tem aquela que diz que se o juiz acha que é Deus, o desembargador tem certeza que é. [...]

Essa daí um amigo meu advogado já havia me contado, hahahahaha. Desembargador então é mais filho-da-puta ainda pelo jeito.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

9 horas atrás, Leho. disse:

Na verdade a ampla maioria da sociedade não conhece essa realidade, né? É até covardia falar isso.

Só passam a conhecer mesmo no momento em que precise dos serviços deles (da Justiça no caso), e aí toma esse soco no estômago aí e tem que engolir a seco. Eu mesmo fiquei bastante surpreso com a matéria mas principalmente com os comentários dos amigos aqui no tópico, porra, juiz pelo visto então é tudo uns filhos-da-puta, é isso?

Pra mim a maioria era do tipo "normal" ali, seguindo a classificação do @Danut. Faziam sua função burocraticamente e boa, foda-se. Mas pelo visto a maioria é igual a esse arrombado da matéria, que consegue falar um monte de merda em 4 minutos de audiência.

Magistratura, ministério público, defensoria pública e polícias. O Brasil carrega esses bonitos nas costas.

Benefícios desproporcionais dessas classes, e pra grande maioria ser uma merda ainda.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Não tem saída, os mais altos salários do setor público têm que ser congelados ao mesmo tempo que a desigualdade de renda diminui. E isso não vai acontecer.

Uma vez que a desigualdade seja muito alta, principalmente em países mais pobres, altos funcionários públicos vão ganhar muito. Esse cenário é muito difícil de ser revertido pacificamente.

E eu falo isso como um centrista. Só não vejo saída na prática.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Em 24/12/2020 em 18:39, Roman disse:

Magistratura, ministério público, defensoria pública e polícias. O Brasil carrega esses bonitos nas costas.

Benefícios desproporcionais dessas classes, e pra grande maioria ser uma merda ainda.

Não esqueça do principal: Exército.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Arquivado

Este tópico foi arquivado e está fechado para novas respostas.

  • Conteúdo Similar

    • Lowko é Powko
      Por Lowko é Powko
      Imagino que a maioria aqui já tenha ouvido falar dos "incels". Pra quem não sabe o que são, aqui vai a definição da wikipedia:
      Dado que esse fórum existe há 15 anos, me surpreendi que esse assunto nunca tenha sido abordado com tópico próprio. Imagino que uma porcentagem dos membros possa ter sido identificado em alguma proporção com essa cultura e as formas de ver o mundo que dela advêm, ainda que de forma parcial, considerando que a maior parte da comunidade ativa foi adolescente no período entre 2005 e 2010, pelo menos.
      Aqui vai um vídeo bem educativo sobre o tema:
       
      É muito louco parar pra pensar que boa parte desses caras sequer se encaixam como feios. Os que se apresentam, pelo menos.
      É praticamente uma vertente dos hikikomori, no Japão.
      Vocês já conheceram algum? Eu pessoalmente já conheci vários que poderiam ser encarados dessa maneira, mas pelo que percebi boa parte ultrapassou esse problema pelo menos em algum grau.
    • Lowko é Powko
      Por Lowko é Powko
      Fiquei em dúvida entre postar essa matéria aqui ou em Futebol Nacional, mas acho que extrapola o futebol a tem mais a ver com a merda que é a atuação policial (em específico no que diz respeito ao inquérito e ao reconhecimento) e da justiça penal (que aplica o que quer e da forma que quer) em nosso país. Não vou colar a matéria inteira aqui porque daria trabalho, e basta acessar o link.
      É uma das decisões mais absurdas que eu vi nos últimos tempos, e esse tipo de coisa se repete diariamente no Brasil, um país no qual o presidente e sua família e todo o séquito de retardados apoiam mais poder ofensivo para a polícia e um sistema condenatório ainda mais discricionário, e são ao mesmo tempo ligados a milícia e desvio de dinheiro público. Esse país é uma piada.
      https://www.uol.com.br/esporte/reportagens-especiais/everton-heleno---preso-e-inocente/index.htm#o-homem-errado
    • Pedrods
    • Bruno Caetano.
      Por Bruno Caetano.
      O futebol perde audiência, mas ganha importância na TV
      Leonardo de Escudeiro | 21 de setembro de 2015
      O modo como as pessoas consomem televisão está em transformação. As novas tecnologias ofereceram plataformas novas, mais eficazes e que dão ao telespectador maior controle sobre sua própria programação. Nos Estados Unidos, as emissoras tradicionais estão perdendo audiência, enquanto os serviços de séries e filmes sob demanda crescem em ritmo acelerado, fazendo a migração ser mais rápida do que poderíamos ter previsto há alguns anos. Esse fenômeno tem obrigado emissoras e produtoras de todo o mundo a repensar sua forma de atuação, pois o retorno com o público da TV não é mais o de antes.
      Os eventos esportivos vivem na contramão desse processo. Os números têm sido cada vez maiores, os acordos pelos direitos de transmissão dos torneios, também. A Premier League fechou um contrato novo de TV por valores astronômicos. Nos Estados Unidos, as grandes ligas do país parecem sempre conseguir cavar um pouco mais de dólares televisivos a cada temporada. Isso ocorreu até no Brasil, mesmo que por vias tortas. A quebra do Clube dos 13 fez que a Globo comprasse os direitos de transmissão time a time. O lado negativo é que a diferença entre as equipes aumentou, mas o montante geral teve uma alta considerável, chegando perto de R$ 1 bilhão.
      É um cenário aparentemente contraditório. Cada vez menos gente vê TV, inclusive partidas de futebol. Ainda assim, os valores continuam subindo. Mas, dentro da lógica da televisão e do esporte, há um sentido.
      Migração para plataformas online
      Embora serviços por demanda como Amazon, Netflix e Hulu ainda não ofereçam esportes ao vivo, plataformas alternativas às televisões têm se popularizado entre os espectadores. Se na década passada apenas sites piratas ofereciam o serviço de streaming, atualmente o método virou prática comum entre as emissoras oficiais. Na Copa do Mundo de 2014, o Watch ESPN dos Estados Unidos teve um recorde de 1,4 milhão de pessoas assistindo ao jogo entre a seleção norte-americana e a Alemanha. Pelo número elevado de espectadores, a transmissão sofreu uma série de problemas.
      De maneira mais lenta, a cultura do streaming também tem se espalhado pelo Brasil. Apenas do ano passado para cá, os serviços oferecidos pelas emissoras têm apresentado melhora técnica significante em suas transmissões, com poucos problemas de lentidão e uma maior variedade de conteúdos. O Watch ESPN, por exemplo, apresenta estabilidade bem maior do que há um ano. O Premiere Play, plataforma online para os assinantes do pay-per-view do futebol nacional, também conta com transmissões estáveis e a programação do Sportv e do Fox Sports pode ser acompanhada sem grandes problemas.
      No entanto, ainda existem obstáculos para o crescimento dessas plataformas como opção para o telespectador. Esses streamings oficiais não são formas alternativas para os torcedores, mas serviços aos quais apenas os assinantes dos canais de TV têm acesso. Ou seja, é um extra para quem já é cliente. A única emissora que atualmente tem um serviço independente pela internet é o Esporte Interativo, que, com a exclusividade da Champions League na TV fechada, espera conseguir um bom número de assinantes para o o EI Plus. É um modo de contornar o fato que, no momento, os assinantes das operadoras Sky e Net, 70% do total de assinantes de TV, não tenham o canal em sua grade.
      Além das emissoras e seus serviços online, no mundo há exemplos de outros sites que também começam a buscar um espaço entre os transmissores de eventos esportivos. No Brasil, o Terra transmitiu nas últimas temporadas, e com qualidade, a Liga Europa e outros torneios. Na Nova Zelândia, o YouTube anunciou recentemente a aquisição dos direitos de transmissão da Bundesliga para esta temporada. O site de compartilhamento de vídeos transmitirá para o país as partidas de sexta-feira do Campeonato Alemão e disponibilizará VTs de outros jogos. Nos Estados Unidos, o Yahoo comprou os direitos de transmissão de uma partida da temporada regular da  NFL, em outubro deste ano, sendo esse o primeiro acordo do tipo na liga.
      O desafio para que mais sites entrem no bolo e eventualmente tenham fatia mais importante nesta divisão, no entanto, é grande, já que as emissoras ainda movimentam valores enormes. Jank Roettgers, correspondente sênior da revista Variety no Vale do Silício, destaca isso em entrevista à Vice Sports, ao comentar a possibilidade de a NFL, um dia, oferecer seus jogos pela internet no mesmo modelo de NBA e MLB: “A NFL não pode cobrar separadamente pelo serviço se as emissoras não fizerem isso com ela. As atuais parcerias de transmissão têm sido muito lucrativas para a NFL, então ela não vai desistir disso facilmente. E nem podem, já que maior parte dos direitos já está definido por pelo menos mais cinco anos”.
      No Brasil, a questão econômica da população também entra na lista de dificultadores para o fortalecimento e popularização da cultura do streaming. Para Adalberto Leister Filho, editor do site Máquina do Esporte, especialista em negócios no esporte, precisaria haver ainda um processo de adaptação nos costumes do telespectador brasileiro.
      “Há uma barreira econômica, porque se você ampliou o público da TV fechada, é porque já acostumou um público mais amplo a pagar por um serviço e ver televisão, mas esse público não se acostumou a pagar um adicional por um serviço por demanda. Lembrando que não é difícil ver o jogo de sua preferência na internet por canais piratas”, destaca o jornalista. Para ele, no entanto, o movimento é inevitável: “Acredito que outros tipos de plataforma para um evento ou jogo ao vivo gradativamente vão chegando para um público mais amplo no Brasil. De forma reduzida, mas contínua. É um processo contínuo e sem volta, e as pessoas no Brasil estão cada vez mais conectadas a dispositivos móveis.”
      O alívio das transmissões ao vivo
      Em todo o mundo, as transmissões ao vivo têm sido as únicas a se manter forte diante da migração para outras mídias. Segundo o New York Post, nos Estados Unidos, o número de jovens adultos que assistem ao horário nobre da TV caiu cerca de 20% nos últimos quatro anos, enquanto as assinaturas de serviços online para ver programas, filmes e séries cresceu 22% em quatro anos. Em 2011, 21,7 milhões de jovens adultos, desta faixa de 18 a 34 anos, assistiam TV. No fim de janeiro deste ano, esse número havia caído para 17,8 milhões, segundo a Nielsen, empresa de pesquisas de mercado. Assim como largamos os CDs e partimos para o download de músicas, nossa maneira de consumir TV também tem mudado.
      Em entrevista ao jornal nova-iorquino, Alan Wurtzel, chefe de pesquisas de audiência da NBC Universal, reforçou a preocupação das emissoras. “É de espantar. O uso do streaming e dos smartphones ano a ano apresenta crescimento de dois dígitos. Nunca vi esse tipo de mudança de comportamento”, comentou.
      Em dezembro do ano passado, o New York Times publicou uma reportagem em que mostrava que a apreensão dos executivos da TV com o streaming, especialmente o Netflix, se justificava não apenas pela mudança no modo como as pessoas consomem conteúdo audiovisual, mas também no cenário econômico da indústria. Segundo pesquisa da WPP, empresa de publicidade, em 2015, pela primeira vez na história a fatia da TV tradicional no dinheiro dos anunciantes havia caído.
      Audiência em queda no Brasil
      A migração da audiência da TV para outras mídias tem ocorrido também no Brasil, afetado da novela das 9 ao futebol. A queda de audiência do Campeonato Brasileiro tem sido progressiva. Segundo dados obtidos por Luiz Prósperi, do Estadão, a média de audiência da competição foi de 26,2 pontos em 2001. Nove anos depois, este número já havia caído para 20,9, enquanto 2014 teve um registro ainda menor, de 16,8 pontos, segundo Keyla Gimenez, da Folha de S.Paulo.
      Mesmo os clubes mais populares como o Corinthians viram seus jogos perderem apelo na TV aberta. Apesar de algumas partidas deste ano terem registrado audiência superior à da novela das 21h, Babilônia (que, por si só, esteve longe de ser um sucesso de público), caso da eliminação alvinegra na Libertadores diante do Guaraní do Paraguai, foi um caso pontual. O movimento do futebol tem sido mesmo de queda, embora Maurício Stycer, do UOL, pontue que isso não é exclusividade do esporte: “Está acontecendo uma migração geral, em todas as áreas da TV aberta para outras mídias. Os dados de audiência mostram a queda no futebol, mas em todas as outras atrações também”.
      O cenário incomoda a Globo. Em agosto do ano passado, a detentora dos direitos de transmissão dos principais campeonatos do Brasil emitiu um alerta aos clubes: o espetáculo precisaria melhorar, ou o futebol na TV aberta, como conhecemos hoje, iria morrer. Segundo Daniel Castro, do UOL, a emissora apresentou aos clubes um estudo que apontava queda de 10% a cada ano nas transmissões de futebol.
      O reflexo dessa nova discussão, que surgiu de maneira atrasada, pôde ser observado no primeiro turno deste Brasileirão. Cuidados básicos com a imagem do campeonato, como entrada em campo padronizada e estilizada, foram implementados, a ordem para os árbitros foi de coibir a quantidade de reclamações dos jogadores (o que muitas vezes acabava atravancando uma partida). Mas isso não resolve outros fatores que alienaram o torcedor, como a desorganização do campeonato e o nível técnico da competição, ainda mais na comparação com o futebol europeu.
      A Copa América deste ano serve como argumento para aqueles que defendem que o principal problema por trás da audiência progressivamente baixa do Brasileirão é o nível técnico. O torneio entre seleções foi transmitido pelo Sportv na TV fechada e foi um enorme sucesso de audiência.Segundo a Máquina do Esporte, os primeiros 17 dias de junho de 2015 tiveram números 70% maiores do que no mesmo período no ano passado, que tinha a seu favor a realização da Copa do Mundo. O jogo entre Argentina e Colômbia, pela Copa América, por exemplo, rendeu a maior audiência da história da TV paga no Brasil, com 4,22 pontos, com 5,5 milhões de telespectadores.
      Acontecimentos da hora
      Analisar quais eventos de futebol conseguiram grande audiência, mesmo em um momento de baixa, ajudam a entender o porquê de o valor dos direitos de transmissão serem um oásis de crescimento. Um confronto decisivo do Corinthians na Libertadores ou um ótimo Argentina x Colômbia são mais que partidas de futebol: são acontecimentos especiais que as pessoas sabem que repercutirão e, por isso, elas tentarão fazer parte dele. Ninguém quer chegar no dia seguinte mostrando que não soube o que aconteceu, ou mesmo logar no Facebook e perceber que não sabe do que as pessoas estão falando.
      Uma série tem essa característica, mas a experiência de assistir um episódio não tem uma hora certa. É possível ver na TV ou pelo computador (em serviço de streaming oficial ou em uma fonte pirata, como download ou alguma versão levada ao YouTube) a qualquer momento, o resultado final não muda para o expectador. Tanto que nem a publicação de spoilers impede o sujeito de ver o programa, como pôde ser visto pela audiência na reta final do reality show Masterchef na Bandeirantes.
      Uma partida não tem essa característica. Ela precisa ser vista ao vivo, há essa urgência. O torcedor quer sentir o desenrolar da competição, a expectativa da vitória ou a desilusão da derrota, a explosão de alegria pelo golaço que surge ou a irritação pelo zagueiro que cometeu uma falha imperdoável no gol sofrido. Essas sensações fazem parte da forma de viver o esporte, e ela só existe se o resultado for um mistério. Mesmo um atraso de alguns segundos (os chamados “delays”, típicos de transmissões pela internet) já pode ser um problemão. Basta alguém anunciar o gol gritando pela janela ou postando no Twitter antes de a imagem mostrar o lance que toda a emoção se perde.
      Isso torna o esporte um caso especial. Mesmo que a audiência em geral esteja mais baixa pela diluição do interesse do público, ele ainda é um conteúdo em que a TV tem muito mais força que outras mídias. Ou seja, ela dá um poder à TV, uma garantia de relevância. Isso acirra a disputa pelas emissoras para ter esse produto na sua grade de programação, o que eleva os valores dos direitos.
      =_= =_=
      Vale a pena a leitura.
    • Pedrods
      Por Pedrods
      Se o cara não é gentil com mulheres é machismo, se ele é gentil também é machismo.
×
×
  • Criar Novo...