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A Sociedade do Cansaço


Aleef

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2 horas atrás, fernandosancos disse:

A utopia seria a tão sonhada Renda Universal, mas duvido que veja isso por aqui ainda com vida.

Utopia pura. É impossível. A não ser que se revogue as leis econômicas básicas, que são tão absolutas quanto a lei da gravidade.

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Vendo bem para que a renda universal fosse possível precisariamos mudar como funciona a economia, e para que ela pudesse existir não poderia haver corrupção e desvio de fundos, comerciantes precisariam segurar os preços mesmo com mais fluxo de dinheiro no mercado, e etc.

Por outro lado, adotando um olhar mais extremo, se ela viesse a ser aprovada certos programas não precisariam existir, por exemplo aposentadoria e auxilio doença se tornariam superfalos, ja que todos teriam a renda para o resto da vida, programas como bolsa familia e similares também não seriam mais necessários, e, se quisermos levar esse ponto de vista ao extremo, poderiamos até mesmo dizer que o salário minimo poderia não existir, já que a renda, idealmente, seria no valor do salario na data de aprovação, e como todos receberiam essa renda, as empresas não seriam necessariamente obrigadas a pagar no mesmo nível.

Mas ai também já estamos indo longe demais, mal estamos indo pra frente como está, uma mudança dessas não vai vir tão cedo.

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22 horas atrás, Dr.Thales disse:

Utopia pura. É impossível. A não ser que se revogue as leis econômicas básicas, que são tão absolutas quanto a lei da gravidade.

Não necessariamente. É difícil prever o quanto a automação irá impactar nas relações de trabalho e consumo e o quanto as leis econômicas (concordando contigo que são absolutas) podem ser elastificadas por essa nova realidade tecnológica. Da mesma forma que a lei da gravidade não impediu que saíssemos da terra, embora não flutuássemos por aí na atmosfera.

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5 horas atrás, Lowko é Powko disse:

Não necessariamente. É difícil prever o quanto a automação irá impactar nas relações de trabalho e consumo e o quanto as leis econômicas (concordando contigo que são absolutas) podem ser elastificadas por essa nova realidade tecnológica. Da mesma forma que a lei da gravidade não impediu que saíssemos da terra, embora não flutuássemos por aí na atmosfera.

Sim. Automação, Internet das coisas, impressoras 3d e tantas tecnologias sendo desenvolvidas certamente alterarão (na verdade já alteram) os meios de se criar riqueza.

Mas mesmo considerando isso tudo, a idéia da renda universal é absolutamente inaplicável, pois a riqueza se altera e se molda ao longo do tempo, de modo que é impossível gerir e tornar isso possível. 

Como se atualiza? Como se calcula? Quem gerencia?

Uma coisa, é fato: o mundo nunca se enriqueceu tanto quanto a pós revolução industrial.

Temos uma massa enorme de humanos vivendo com mais qualidade de vida (e acessos a bens e serviços) que o maior Rei de 300 anos atrás.

Então este é o milagre...acumulação de riqueza e prosperidade estão intimamente ligados. E as novas tecnologias e formas de relações econômicas só tem vindo pra aumentar a celeridade destas relações.

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21 horas atrás, Dr.Thales disse:

Temos uma massa enorme de humanos vivendo com mais qualidade de vida (e acessos a bens e serviços) que o maior Rei de 300 anos atrás.

 

Eu nunca vi o Dr.Thales dizer algo tão sensato e que fizesse tanto sentido!

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Em 03/10/2019 em 17:09, Dr.Thales disse:

Sim. Automação, Internet das coisas, impressoras 3d e tantas tecnologias sendo desenvolvidas certamente alterarão (na verdade já alteram) os meios de se criar riqueza.

Mas mesmo considerando isso tudo, a idéia da renda universal é absolutamente inaplicável, pois a riqueza se altera e se molda ao longo do tempo, de modo que é impossível gerir e tornar isso possível. 

Como se atualiza? Como se calcula? Quem gerencia?

Uma coisa, é fato: o mundo nunca se enriqueceu tanto quanto a pós revolução industrial.

Temos uma massa enorme de humanos vivendo com mais qualidade de vida (e acessos a bens e serviços) que o maior Rei de 300 anos atrás.

Então este é o milagre...acumulação de riqueza e prosperidade estão intimamente ligados. E as novas tecnologias e formas de relações econômicas só tem vindo pra aumentar a celeridade destas relações.

Vou começar pelo final. De fato, o mundo nunca enriqueceu tanto. O meu ponto é que não necessariamente o desenvolvimento até aqui seja um determinante do desenvolvimento futuro, além de que no caminho do desenvolvimento há outras condicionantes que não apenas as materiais. Hoje damos graças a Deus que algumas coisas morreram no passado, ou que algumas formas de relação social foram varridas do mapa. Mas a qual preço para as pessoas envolvidas? Não é porque o resultado futuro será satisfatório para as pessoas que estão por vir que podemos justificar algumas coisas no presente. Não necessariamente. Isto é adotar o ponto de vista de alguém que está longe da base de afetação do desenvolvimento.

Eu não entendi a impossibilidade da renda universal. Se você pudesse desenvolver mais eu agradeceria.

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4 horas atrás, Lowko é Powko disse:

Vou começar pelo final. De fato, o mundo nunca enriqueceu tanto. O meu ponto é que não necessariamente o desenvolvimento até aqui seja um determinante do desenvolvimento futuro, além de que no caminho do desenvolvimento há outras condicionantes que não apenas as materiais. Hoje damos graças a Deus que algumas coisas morreram no passado, ou que algumas formas de relação social foram varridas do mapa. Mas a qual preço para as pessoas envolvidas? Não é porque o resultado futuro será satisfatório para as pessoas que estão por vir que podemos justificar algumas coisas no presente. Não necessariamente. Isto é adotar o ponto de vista de alguém que está longe da base de afetação do desenvolvimento.

Eu não entendi a impossibilidade da renda universal. Se você pudesse desenvolver mais eu agradeceria.

1) ao preço do que é necessário pela realidade. Não se quer dizer que seja bom ou ruim, não há juízo de valor aqui, apenas uma descrição da realidade: é a forma que se tem para possuir acúmulo de riqueza e melhoramento do padrão de vida das pessoas. A única, inclusive. Exceto pra burocratas, socialistas e engenheiros sociais, que acreditam (sei lá por qual motivo), que é possível criar riqueza do nada OU através de canetadas.

2) Renda universal. Vamos lá:

A renda universal pressupõe um "mínimo de subsistência". Aqui já começamos o problema.

O que é o "mínimo"? Quanto é o "mínimo"? Quem define o "mínimo"?

Perceba que esta afirmação carrega uma enorme carga de SUBJETIVISMO. O mínimo pra mim, não é o mínimo pra você.

E, MAIS, o que é considerado como "mínimo" hoje não era o "mínimo" de 50 anos atrás. Daí afirmei que é impossível criar, manter e gerir isto, pois a riqueza se altera e se molda ao longo do tempo, de modo que instituída uma renda universal 50 anos atrás, ela seria absolutamente defasada hoje.

Daí entrar questão de: quem gere? Quem atualiza? Atualiza baseado em que?

Se você tentar colocar qualquer coisa dessa ideia em prática vai dar uma merda absoluta e não funcionará como tem que funcionar. Por questões sociais, de incentivo humano e pelas leis inexoráveis da economia.

Além da questão ética principal que precisa ser respondida:
 

Quem vai financiar?

 

Se você quer criar um projeto de distribuição de renda centralizado para conseguir dar o "mínimo" (seja lá o quê "mínimo" signifique pros burocratas) para as pessoas, sugiro dar uma olhada ao longo da história e um pouco das questões econômicas envolvidas, pra saber que é invariavelmente uma proposta sem nexo.

Seria fácil solucionar os problemas do mundo desta forma, pelo menos econômicos, mas infelizmente a realidade contraria estes utópicos.

 

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2 horas atrás, Dr.Thales disse:

1) ao preço do que é necessário pela realidade. Não se quer dizer que seja bom ou ruim, não há juízo de valor aqui, apenas uma descrição da realidade: é a forma que se tem para possuir acúmulo de riqueza e melhoramento do padrão de vida das pessoas. A única, inclusive. Exceto pra burocratas, socialistas e engenheiros sociais, que acreditam (sei lá por qual motivo), que é possível criar riqueza do nada OU através de canetadas.

2) Renda universal. Vamos lá:

A renda universal pressupõe um "mínimo de subsistência". Aqui já começamos o problema.

O que é o "mínimo"? Quanto é o "mínimo"? Quem define o "mínimo"?

Perceba que esta afirmação carrega uma enorme carga de SUBJETIVISMO. O mínimo pra mim, não é o mínimo pra você.

E, MAIS, o que é considerado como "mínimo" hoje não era o "mínimo" de 50 anos atrás. Daí afirmei que é impossível criar, manter e gerir isto, pois a riqueza se altera e se molda ao longo do tempo, de modo que instituída uma renda universal 50 anos atrás, ela seria absolutamente defasada hoje.

Daí entrar questão de: quem gere? Quem atualiza? Atualiza baseado em que?

Se você tentar colocar qualquer coisa dessa ideia em prática vai dar uma merda absoluta e não funcionará como tem que funcionar. Por questões sociais, de incentivo humano e pelas leis inexoráveis da economia.

Além da questão ética principal que precisa ser respondida:
 

Quem vai financiar?

 

Se você quer criar um projeto de distribuição de renda centralizado para conseguir dar o "mínimo" (seja lá o quê "mínimo" signifique pros burocratas) para as pessoas, sugiro dar uma olhada ao longo da história e um pouco das questões econômicas envolvidas, pra saber que é invariavelmente uma proposta sem nexo.

Seria fácil solucionar os problemas do mundo desta forma, pelo menos econômicos, mas infelizmente a realidade contraria estes utópicos.

 

"Ao preço do que é necessário para a realidade" não diz nada além do que você já disse, aliás, não diz muita coisa. Até porque eu estou falando de valoração, não de descrição objetiva da realidade, chovendo no molhado (uma vez que ambos concordamos). Eu concordo que é a forma que se tem de construir riqueza e tem sido até aqui, o que discordo é justamente o que diz respeito ao padrão de vida das pessoas. Você adota apenas parâmetros objetivos e generalizantes, e nesse sentido se aproxima das teorias comunistas, apenas com outro viés.

O meu questionamento era como a automação impactará nas relações sócio-econômicas futuras, e se esses impactos são desejáveis para a maioria dos indivíduos. Ou teríamos que voltar no tempo e contar para uma criança que trabalhava em uma fábrica 14 horas por dia, perdeu o braço numa máquina e viveu o resto de sua curta vida como indigente como o sistema que a consumiu foi importante para a criação de riqueza futura e a melhoria nos padrões de vida da humanidade.

Todos os problemas que você apresentou são parcialmente contornáveis, e mais, ainda que sejam (e eu acho que não são absolutamente), em nenhum momento abordou a questão dentro do futuro da automação.

A questão da renda básica ou universal é essencialmente um problema de tributação e distribuição de riqueza. Uma vez que a sociedade se torne instável por uma alta concentração de capital (uma hipótese não absurda), não há princípio ético que sustente um grupo esfomeado.

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11 horas atrás, Lowko é Powko disse:

"Ao preço do que é necessário para a realidade" não diz nada além do que você já disse, aliás, não diz muita coisa. Até porque eu estou falando de valoração, não de descrição objetiva da realidade, chovendo no molhado (uma vez que ambos concordamos). Eu concordo que é a forma que se tem de construir riqueza e tem sido até aqui, o que discordo é justamente o que diz respeito ao padrão de vida das pessoas. Você adota apenas parâmetros objetivos e generalizantes, e nesse sentido se aproxima das teorias comunistas, apenas com outro viés.

O meu questionamento era como a automação impactará nas relações sócio-econômicas futuras, e se esses impactos são desejáveis para a maioria dos indivíduos. Ou teríamos que voltar no tempo e contar para uma criança que trabalhava em uma fábrica 14 horas por dia, perdeu o braço numa máquina e viveu o resto de sua curta vida como indigente como o sistema que a consumiu foi importante para a criação de riqueza futura e a melhoria nos padrões de vida da humanidade.

Todos os problemas que você apresentou são parcialmente contornáveis, e mais, ainda que sejam (e eu acho que não são absolutamente), em nenhum momento abordou a questão dentro do futuro da automação.

A questão da renda básica ou universal é essencialmente um problema de tributação e distribuição de riqueza. Uma vez que a sociedade se torne instável por uma alta concentração de capital (uma hipótese não absurda), não há princípio ético que sustente um grupo esfomeado.

Se você tá falando de valoração, então não cabe discussão. Valoração por valoração, prefiro que as pessoas todas sejam ricas, melhor que ter o "mínimo". 
Mas a realidade é inexorável e impiedosa e não depende muito da nossa vontade e valoração pra ser o que é.
 

Agora, gostaria de entender qual a relação disso com teorias comunistas.
 

Tô pelo celular, então a outra parte deixo em aberto pra uma oportunidade futura.
 

Apenas uma observação: onde há concentração de capital? A tal história do Pikety?
 

Dos 1% mais ricos e bla bla bla? Isso é estatística e matemática. Tem até nome.

Só não contam que estes 1% mudam o tempo todo, prova do dinamismo da riqueza e que ela não se concentra como dizem, se altera permanentemente na sociedade.

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Que a única forma válida de valorar um desenvolvimento é através de critérios objetivos, ou seja, critérios materiais de desenvolvimento. Dessa forma, tanto de um lado quanto do outro há simplesmente um atropelo generalizante do progresso material sobre qualquer outras características da vida que sejam valoradas de forma diferente em cada canto do mundo ou tempo histórico.

Tratar a realidade como inexorável e impiedosa é como dizer que não temos uma atuação possível na realidade, sendo apenas agentes passivos. Em certo sentido, isso também se aproxima da inexorabilidade da revolução comunista enquanto resultado das contradições do capitalismo. O que, bem vimos, é uma falácia, porque a humanidade não só driblou o comunismo como o enterrou no cemitério da desgraça.

Nem lembrei do Pikety, até porque não o li. Minha questão é mais relacionada às possibilidades que a automação pode trazer nas relações sócio-econômicas, como eu disse, coisas que talvez não tenhamos previsto ainda. Até agora, a desigualdade tem se mantido num padrão de idas e vindas. Uma vez que a riqueza tem crescido desde a Revolução Industrial, ela acaba sendo acessória.

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  • 4 semanas depois...
On 9/30/2019 at 10:12 AM, Henrique M. said:

E como você reagiria se seu filho(s) não quisesse(m) ter essa experiência? 

O importante é ter a liberdade de escolha.

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Em 06/09/2019 em 16:06, Aleef disse:

A positividade e a sociedade do desempenho

Aqui eu concordo muito com a questão da pressão pela vida perfeita, imposta pelas redes sociais (Instagram) e o compartilhamento só dos momentos felizes. Nós mesmos geramos o uma pressão por esse ideal de realização, como o Lohan disse.

Aqui, eu daria um ponto alto pra auto-consciência de saber separar o que deve ser visto como motivação e o que deve ser visto com parcimônia. O paradoxo é que, navegando por Instagram's da vida, é quase automático o modo robótico do consumo de informação. Não paramos nem por 1 min pra refletir ponderadamente sobre o que é um lampejo de felicidade real, ou mera aparência.

Por outro lado, como diz um amigo: "qual o motivo de acompanhar vidas mais merdas que a minha?". Mesmo que sua vida não seja uma merda, ninguém quer acompanhar gente depressiva, reclamona, negativa. Isso gera mais pressão por se rodear de gente foda. Por um lado te inspira. Por outro, te demanda a fazer mais. Mais até do que precisaria para atingir seus sonhos (muitas vezes, menores).

Ao mesmo tempo, ao ver relatos de revezes alheios (esporadicamente?), criamos uma certa empatia, refletimos os erros alheios, aliviamos o peso de errar. No fim, a fragilidade do outro gera uma credibilidade e conexão.

De novo, o problema é estar no modo robótico e não parar pra refletir, conscientemente, sobre o que consumimos até pra perceber as transições entre linhas tênues que se cruzam cotidianamente.

Em 06/09/2019 em 16:06, Aleef disse:

A falta de tédio e os multitarefas

Aversão ao tédio eu nunca senti. Tenho me proporcionado mais desses ócios criativos, outros eu diria regenerativos: 

  • Maratonar várias séries no Netflix, coisas que me privei por um certo tempo e me fazia sentir um alheio aos assuntos do momento. Nesse exato momento, já enjoei e vejo algumas esporadicamente.
  • Documentar pensamentos aleatórios e reflexões sobre a vida, relacionamentos, sentimentos (...). Terapêutico.
  • Cozinhar. Isso me ajuda a desligar do modo trabalho. A apreciar a vida rotineiramente em meio ao caos de informações e demandas. Independente dos seus planos serem alcançáveis ou não, ou de nenhum plano ser alcançável, é uma forma prazerosamente honesta de parar, sair do 220v, e curtir a caminhada.
  • Exercícios físicos. Algo que gostei muito no passado, depois me privei pela desculpa da falta de tempo. Esse ano retornei, perdi 11kg, fiquei mais jubiloso com a vida. Comum pensar: "vou ter menos tempo para o trabalho/estudos, não dá!". Paradoxalmente, gastando mais horas com os exercícios e atividades correlatas (deslocamento, alimentação, etc), eu me sinto mais produtivo, com mais energia, mais feliz comigo mesmo e com a sensação de que a vida não tá passando pelos meus olhos. 

Bill Gates tira o que ele chama de Think Week: uma semana por ano para se desligar do mundo, ir para uma casinha remota, com uma mala de livros. Fica por conta de ler e pensar sobre grandes problemas da humanidade que ele poderia resolver.

O ponto aqui é se permitir fazer o que quer quer seja prioridade pra você. É a pelada terça e quinta? Proteja esse horário com unhas e dentes. Molde sua vida toda para que isso seja possível. Nem que seja chegar mais cedo no trabalho nesses dias.

Só não dá pra cair na historinha da fadinha do Medium que disse que você pode e deve fazer tudo. Hoje. Agora. Você até pode, se você estiver na vibe zen, super minimalista. Se você está na vibe de construir patrimônio, não vai rolar. Aqui dá até pra fazer um paralelo com o mene do Uber que ganhava 15k como motorista quando o aplicativo chegou (demanda alta por motoristas), torrava tudo, achou que sempre seria assim e hoje (muita oferta de motoristas), reclamam que pra ganhar 6k, precisam trabalhar horrores. Claro, a conta precisa fechar: [valor-hora = f(demanda intelectual)] x [horas trabalhadas]. Não dá pra fazer a tríade salário alto, com baixo valor-hora e baixa carga horária. Isso é coisa de quem tá no mundo da lua.

O multitasking de fato me deixa mentalmente desgastado.

Em 06/09/2019 em 16:06, Aleef disse:

A Sociedade do Cansaço

Aqui a solução que eu vejo e estava lendo sobre, dias atrás, é o que chamam de Total Leadership, que é basicamente ter controle de todas as áreas da sua vida pessoal, profissional, familiar, comunidade. Junto com aquele paradoxo, está o fato da vida não ser soma-zero, como tendemos a pensar (mais tempo nisso é menos tempo naquilo). 

Essa é uma forma muito linear de pensar e o mundo é mais dinâmico que isso, tendo seus paradoxos de gastar 1h nisso e fazer menos tempo naquilo valer 2x mais, simplesmente porque você está satisfeito consigo e com a maneira como toca as áreas da sua vida.

Em 06/09/2019 em 16:06, Aleef disse:

O excesso do desempenho do trabalho

Nessa parte, estou mais na linha do Ariel. Se você quer ter um certo nível de patrimônio e sua família não tem o suficiente pro que você quer, você tem que aceitar a realidade e trabalhar.

Essa historinha do largue tudo e vá ser feliz vendendo pulseira na praia é muito divertida, preza muito pela qualidade de vida. Porém não conta a história toda.

Entretanto, não é um modo errado de viver. Esteja você nos extremos workaholic, maluco-beleza, ou em algum lugar intermediário na escala de cinza entre o preto e o branco.

Contudo, tem que estar bastante consciente pra tomar esse tipo de decisão e saber exatamente o que você quer da vida e como você pretende tornar o mundo melhor. Uns vão achar que é trabalhando mais, outros vão achar que é deixando de comer vaquinha que solta pum e desmata graminha, outros vão achar que é sendo funcionário público, 8-18/9-5 = ggwp e jogar um FM diboua nas horas vagas.

O ponto aqui é ter clareza de tudo que você abdica em cada um dessas escolhas, pra cada uma das áreas da vida e entender se é um preço alto ou não considerando seus sonhos. E mais: o que você está forçando seus filhos a abdicarem. 

Eu sigo super a favor do discurso do seja feliz, dinheiro é consequência, siga seu propósito e nem tanto do falacioso trabalhe 4 horas por semana. Só é preciso ponderar cada um dos contras e o quanto você vai ter que sofrer — como, quando e onde.

Em 29/09/2019 em 18:37, Ariel' disse:

Aguardo ansiosamente você discorrer sobre o assunto porque meu pensamento vai na exata linha do @Roman: quero saber que mundo é esse onde podemos ficar 100% relax, tranquilão e férias eternas. Obviamente esse é o objetivo de todo mundo, mas se não é a sua realidade atual, infelizmente você vai ter que fazer igual aos seus antecessores e preparar a vida para a próxima geração. Imagino que a maioria dos frequentadores aqui do fórum tenham uma história mais ou menos parecida com essa, que é a média brasileira:

  • Avós: moravam no interior/periferia e tinham um emprego que só dava pra colocar comida na boca da família (dezenas de filhos), coisa que eles muitas vezes não tiveram. Pouquíssimo estudo, se sabem ler, é pouco;
  • Pais: moram na cidade, totalmente alfabetizados. Se forem o "lado bom" da família, foram pra faculdade e terminaram. Se forem o "lado ruim", largaram no meio do EM ou pararam por aí porque era "melhor trabalhar", ou simplesmente porque precisavam (um filho aos 23, talvez?). Hoje o emprego é medíocre. Casa financiada, um ou dois carros, pequenos prazeres (ir pra europa, talvez, mas é provável que viajem para o parque de diversão local ou a cidade que todo mundo vai nas férias);
  • Nosotros: não nos preocupamos com trabalhar cedo. Todo o tempo do mundo para estudar, fazer a faculdade que queríamos (um pouco de pressão para fazer algo tradicional como direito, medicina ou engenharia), afinal tivemos educação boa, colégio particular, os melhores até intercâmbio e cursinho. A primeira geração que realmente consegue fazer poupança e fazer um patrimônio considerável, montar aquele prédio pra alugar, viajar com frequência, viver experiências.
  • Os próximos: estudar fora do país, podemos financiar os sonhos deles, já nascem com uma poupança considerável, herança (casa, empresa, fazenda)... talvez até se dar ao luxo de ter um filho cedo, pois o dinheiro não é um problema e não precisam se matar de trabalhar, vai depender do desejo deles.
     

Enquanto não formos "Os próximos", infelizmente ou não, é baixar a cabeça e trabalhar pra garantir o próprio futuro e o dos filhos, se não vamos acabar perpetuando a mediocridade dos familiares.

Gustavo Cerbasi explica muito bem as diferenças sociológicas e de mentalidade entre a sociedade Brasileira e a Americana (realidade sonhada pela maioria de nós). 

Aqui, o modo latino e afetuoso nos deixa propensos a querer bancar os filhos por mais tempo em casa. Posterga-se as responsabilidades dos filhos e prolonga-se as dos pais no início da vida. A conta é paga mais tarde, no entanto.

  1. Filhos casam, e a família pressiona para que os filhos tenham morem próximos, num bairro mais nobre (além de aluguel/financiamento, existe o custo de vida nas redondezas).
  2. Outras pressões sociais e questionamentos familiares te conduzem a adquirir a visão dos pais de sucesso:
    • Financiamento de apartamento com 0 de entrada e juros a perder de vista.
    • Adquirir e manter um ou mais carros 0 km.
    • Entre outros.
  3. Resultado: estrangula-se um orçamento de ainda jovens profissionais (salário irrisório).

O grau de liberdade financeira é irrisório, afinal, boa parte da renda foi comprometida com boletos e contas em vez de usar o planejamento e juros a seu favor (postergando o consumo). Falta dinheiro para cursos e investimentos de longo prazo.

A conta é paga pelos filhos quando os pais aposentam. Depois de anos fomentando o ideal de filhos em casa, filhos próximos, ajudar filhos a pagar as contas depois de casados (pela culpa de ter forçado um padrão de vida ainda insustentável), culmina nos pais sem um patrimônio líquido consolidado na hora de aposentar.

Nesse momento, os filhos estão no ápice da carreira, ganhando bem, e se veem obrigados a retribuir os esforços feitos pelos pais. Tudo para que não reduzam o padrão de vida. Posterga-se parte dos sonhos, as viagens até então não feitas, e ainda mais a aposentadoria/investimentos.

Não se constrói nada para deixar para a geração seguinte.

Na sociedade americana, em geral, os pais juntaram uma boa parte (ou total) do custo de uma boa graduação. Botam os filhos na rua e vão curtir a vida consolidada e seguir investindo até aposentar. Nesse momento, o padrão de vida dos filhos cai drasticamente, que vivem low-profile. Já habituados ao estilo de vida simples, conseguem manter o mesmo estilo até quitar a graduação (se necessário). A renda vai progredindo e já estão acostumados com a ideia de gerir o próprio orçamento e despesas, então é mais fácil sobrar para investir. Não há mais débito com os pais. Os pais também não vão se sujeitar a recorrer aos filhos. Reduzem o padrão de vida, se necessário. 

As sutilezas, culminam em um resultado substancialmente diferente: riqueza e patrimônio acumulado (juros a seu favor) e transmitidos de geração em geração. O aprendizado dos filhos, mais cedo, sobre gestão de patrimônio, minimiza as situações de filhos endividados, recebendo um super patrimônio e tendo que liquidar tudo às pressas para quitar dívidas passadas. 

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Lindo post, Matheus. Mudo algo aqui e ali mas no geral, é isso mesmo. Foi uma aula.

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  • Diretor Geral
On 11/1/2019 at 3:17 PM, _Matheus_ said:

[...]

Na sociedade americana, em geral, os pais juntaram uma boa parte (ou total) do custo de uma boa graduação. Botam os filhos na rua e vão curtir a vida consolidada e seguir investindo até aposentar. Nesse momento, o padrão de vida dos filhos cai drasticamente, que vivem low-profile. Já habituados ao estilo de vida simples, conseguem manter o mesmo estilo até quitar a graduação (se necessário). A renda vai progredindo e já estão acostumados com a ideia de gerir o próprio orçamento e despesas, então é mais fácil sobrar para investir. Não há mais débito com os pais. Os pais também não vão se sujeitar a recorrer aos filhos. Reduzem o padrão de vida, se necessário.

[...]

Nossa, sério? Haha sempre achei que o nosso modelo era espelhado no deles (nesse sentido de patrimônio financeiro e legado). Aliás, o que se vê em filmes americanos é até algo diferente disso que você comentou, pais americanos que custeiam os filhos mais ou menos como nós fazemos aqui (e acho até que por isso eu tinha essa ideia).

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3 horas atrás, Leho. disse:

Nossa, sério? Haha sempre achei que o nosso modelo era espelhado no deles (nesse sentido de patrimônio financeiro e legado). Aliás, o que se vê em filmes americanos é até algo diferente disso que você comentou, pais americanos que custeiam os filhos mais ou menos como nós fazemos aqui (e acho até que por isso eu tinha essa ideia).

cara nunca pisou nos EUA bro; só falou bosta.

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  • Diretor Geral
5 minutes ago, bbds said:

cara nunca pisou nos EUA bro; só falou bosta.

OAIEHIOUAHEIOUHAOEI! Obrigado amigo.

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  • Vice-Presidente
45 minutes ago, bbds said:

cara nunca pisou nos EUA bro; só falou bosta.

Achei que era só eu que tinha achado isso, obrigado por ter esclarecido e alertado nosso anãozinho.

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8 horas atrás, Leho. disse:

Nossa, sério? Haha sempre achei que o nosso modelo era espelhado no deles (nesse sentido de patrimônio financeiro e legado). Aliás, o que se vê em filmes americanos é até algo diferente disso que você comentou, pais americanos que custeiam os filhos mais ou menos como nós fazemos aqui (e acho até que por isso eu tinha essa ideia).

Quem faz a análise é o mestre Clóvis de Barros Filho Cerbasi, com sua vivência fora, suas décadas de estudo sobre construção de patrimônio, suas aulas em MBA's renomados, seus anos de serviço de consultoria e edução financeira.

Se hoje não é tanto assim, é porque acumulou-se riqueza sendo assim. No reddit, já li vários tópicos de jovens sendo chutados quando chegam na idade de iniciar a faculdade. No começo não entendi, achei absurdo. Até que me deparei com a explicação do Cerbasi.

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--

De qualquer forma, melhor confiar no BBDS.

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  • 3 meses depois...

Byung-Chul Han: “Hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é realização”

 

As Torres Gêmeas, edifícios idênticos que se refletem mutuamente, um sistema fechado em si mesmo, impondo o igual e excluindo o diferente e que foram alvo de um ataque que abriu um buraco no sistema global do igual. Ou as pessoas praticando binge watching (maratonas de séries), visualizando continuamente só aquilo de que gostam: mais uma vez, multiplicando o igual, nunca o diferente ou o outro... São duas das poderosas imagens utilizadas pelo filósofo sul coreano Byung-Chul Han (Seul, 1959), um dos mais reconhecidos dissecadores dos males que acometem a sociedade hiperconsumista e neoliberal depois da queda do Muro de Berlim. Livros como A Sociedade do Cansaço, Psicopolítica e A Expulsão do Diferente reúnem seu denso discurso intelectual, que ele desenvolve sempre em rede: conecta tudo, como faz com suas mãos muito abertas, de dedos longos que se juntam enquanto ajeita um curto rabo de cavalo.

“No 1984 orwelliano a sociedade era consciente de que estava sendo dominada; hoje não temos nem essa consciência de dominação”, alertou em sua palestra no Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (CCCB), na Espanha, onde o professor formado e radicado na Alemanha falou sobre a expulsão da diferença. E expôs sua particular visão de mundo, construída a partir da tese de que os indivíduos hoje se autoexploram e têm pavor do outro, do diferente. Vivendo, assim, “no deserto, ou no inferno, do igual”.

Autenticidade. Para Han, as pessoas se vendem como autênticas porque “todos querem ser diferentes uns dos outros”, o que força a “produzir a si mesmo”. E é impossível ser verdadeiramente diferente hoje porque “nessa vontade de ser diferente prossegue o igual”. Resultado: o sistema só permite que existam “diferenças comercializáveis”.

Autoexploração. Na opinião do filósofo, passou-se do “dever fazer” para o “poder fazer”. “Vive-se com a angústia de não estar fazendo tudo o que poderia ser feito”, e se você não é um vencedor, a culpa é sua. “Hoje a pessoa explora a si mesma achando que está se realizando; é a lógica traiçoeira do neoliberalismo que culmina na síndrome de burnout. E a consequência: “Não há mais contra quem direcionar a revolução, a repressão não vem mais dos outros”. É “a alienação de si mesmo”, que no físico se traduz em anorexias ou em compulsão alimentar ou no consumo exagerado de produtos ou entretenimento.

‘Big data’.”Os macrodados tornam supérfluo o pensamento porque se tudo é quantificável, tudo é igual... Estamos em pleno dataísmo: o homem não é mais soberano de si mesmo, mas resultado de uma operação algorítmica que o domina sem que ele perceba; vemos isso na China com a concessão de vistos segundo os dados geridos pelo Estado ou na técnica do reconhecimento facial”. A revolta implicaria em deixar de compartilhar dados ou sair das redes sociais? “Não podemos nos recusar a fornecê-los: uma serra também pode cortar cabeças... É preciso ajustar o sistema: o ebook foi feito para que eu o leia, não para que eu seja lido através de algoritmos... Ou será que o algoritmo agora fará o homem? Nos Estados Unidos vimos a influência do Facebook nas eleições... Precisamos de uma carta digital que recupere a dignidade humana e pensar em uma renda básica para as profissões que serão devoradas pelas novas tecnologias”.

Comunicação. “Sem a presença do outro, a comunicação degenera em um intercâmbio de informação: as relações são substituídas pelas conexões, e assim só se conecta com o igual; a comunicação digital é somente visual, perdemos todos os sentidos; vivemos uma fase em que a comunicação está debilitada como nunca: a comunicação global e dos likes só tolera os mais iguais; o igual não dói!”.

Jardim. “Eu sou diferente; estou cercado de aparelhos analógicos: tive dois pianos de 400 quilos e por três anos cultivei um jardim secreto que me deu contato com a realidade: cores, aromas, sensações... Permitiu-me perceber a alteridade da terra: a terra tinha peso, fazia tudo com as mãos; o digital não pesa, não tem cheiro, não opõe resistência, você passa um dedo e pronto... É a abolição da realidade; meu próximo livro será esse: Elogio da Terra. O Jardim Secreto. A terra é mais do que dígitos e números.

Narcisismo. Han afirma que “ser observado hoje é um aspecto central do ser no mundo”. O problema reside no fato de que “o narcisista é cego na hora de ver o outro” e, sem esse outro, “não se pode produzir o sentimento de autoestima”. O narcisismo teria chegado também àquela que deveria ser uma panaceia, a arte: “Degenerou em narcisismo, está ao serviço do consumo, pagam-se quantias injustificadas por ela, já é vítima do sistema; se fosse alheia ao sistema, seria uma narrativa nova, mas não é”.

Os outros. Esta é a chave para suas reflexões mais recentes. “Quanto mais iguais são as pessoas, mais aumenta a produção; essa é a lógica atual; o capital precisa que todos sejamos iguais, até mesmo os turistas; o neoliberalismo não funcionaria se as pessoas fossem diferentes”. Por isso propõe “retornar ao animal original, que não consome nem se comunica de forma desenfreada; não tenho soluções concretas, mas talvez o sistema acabe desmoronando por si mesmo... Em todo caso, vivemos uma época de conformismo radical: a universidade tem clientes e só cria trabalhadores, não forma espiritualmente; o mundo está no limite de sua capacidade; talvez assim chegue a um curto-circuito e recuperemos aquele animal original”.

Refugiados. Han é muito claro: com o atual sistema neoliberal “não se sente preocupação, medo ou aversão pelos refugiados, na verdade são vistos como um peso, com ressentimento ou inveja”; a prova é que logo o mundo ocidental vai veranear em seus países.

Tempo. É preciso revolucionar o uso do tempo, afirma o filósofo, professor em Berlim. “A aceleração atual diminui a capacidade de permanecer: precisamos de um tempo próprio que o sistema produtivo não nos deixa ter; necessitamos de um tempo livre, que significa ficar parado, sem nada produtivo a fazer, mas que não deve ser confundido com um tempo de recuperação para continuar trabalhando; o tempo trabalhado é tempo perdido, não é um tempo para nós”.

O “Monstro” da União Europeia

“Estamos na Rede, mas não escutamos o outro, só fazemos barulho”, diz Byung-Chul Han, que viaja o necessário, mas não faz turismo “para não participar do fluxo de mercadorias e pessoas”. Também defende uma política nova. E a relaciona com a Catalunha, tema cuja tensão atenua brincando:

“Se Puigdemont prometer voltar ao animal original, eu me torno separatista”.

Já no aspecto político, enquadra o assunto no contexto da União Europeia: “A UE não foi uma união de sentimentos, mas sim comercial; é um monstro burocrático fora de toda lógica democrática; funciona por decretos...; nesta globalização abstrata acontece um duelo entre o não lugar e a necessidade de ser de um lugar concreto; o especial é incômodo, gera desassossego e arrebenta o regional. Hegel dizia que a verdade é a reconciliação entre o geral e o particular e isso, hoje, é mais difícil...”. Mas recorre à sua revolução do tempo: “O casamento faz parte da recuperação do tempo livre: vamos ver se haverá um casamento entre a Catalunha e Espanha, e uma reconciliação”.

 

Fonte: El País

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Em 04/03/2020 em 18:59, Aleef disse:

Byung-Chul Han: “Hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é realização”

 

As Torres Gêmeas, edifícios idênticos que se refletem mutuamente, um sistema fechado em si mesmo, impondo o igual e excluindo o diferente e que foram alvo de um ataque que abriu um buraco no sistema global do igual. Ou as pessoas praticando binge watching (maratonas de séries), visualizando continuamente só aquilo de que gostam: mais uma vez, multiplicando o igual, nunca o diferente ou o outro... São duas das poderosas imagens utilizadas pelo filósofo sul coreano Byung-Chul Han (Seul, 1959), um dos mais reconhecidos dissecadores dos males que acometem a sociedade hiperconsumista e neoliberal depois da queda do Muro de Berlim. Livros como A Sociedade do Cansaço, Psicopolítica e A Expulsão do Diferente reúnem seu denso discurso intelectual, que ele desenvolve sempre em rede: conecta tudo, como faz com suas mãos muito abertas, de dedos longos que se juntam enquanto ajeita um curto rabo de cavalo.

“No 1984 orwelliano a sociedade era consciente de que estava sendo dominada; hoje não temos nem essa consciência de dominação”, alertou em sua palestra no Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (CCCB), na Espanha, onde o professor formado e radicado na Alemanha falou sobre a expulsão da diferença. E expôs sua particular visão de mundo, construída a partir da tese de que os indivíduos hoje se autoexploram e têm pavor do outro, do diferente. Vivendo, assim, “no deserto, ou no inferno, do igual”.

Autenticidade. Para Han, as pessoas se vendem como autênticas porque “todos querem ser diferentes uns dos outros”, o que força a “produzir a si mesmo”. E é impossível ser verdadeiramente diferente hoje porque “nessa vontade de ser diferente prossegue o igual”. Resultado: o sistema só permite que existam “diferenças comercializáveis”.

Autoexploração. Na opinião do filósofo, passou-se do “dever fazer” para o “poder fazer”. “Vive-se com a angústia de não estar fazendo tudo o que poderia ser feito”, e se você não é um vencedor, a culpa é sua. “Hoje a pessoa explora a si mesma achando que está se realizando; é a lógica traiçoeira do neoliberalismo que culmina na síndrome de burnout. E a consequência: “Não há mais contra quem direcionar a revolução, a repressão não vem mais dos outros”. É “a alienação de si mesmo”, que no físico se traduz em anorexias ou em compulsão alimentar ou no consumo exagerado de produtos ou entretenimento.

‘Big data’.”Os macrodados tornam supérfluo o pensamento porque se tudo é quantificável, tudo é igual... Estamos em pleno dataísmo: o homem não é mais soberano de si mesmo, mas resultado de uma operação algorítmica que o domina sem que ele perceba; vemos isso na China com a concessão de vistos segundo os dados geridos pelo Estado ou na técnica do reconhecimento facial”. A revolta implicaria em deixar de compartilhar dados ou sair das redes sociais? “Não podemos nos recusar a fornecê-los: uma serra também pode cortar cabeças... É preciso ajustar o sistema: o ebook foi feito para que eu o leia, não para que eu seja lido através de algoritmos... Ou será que o algoritmo agora fará o homem? Nos Estados Unidos vimos a influência do Facebook nas eleições... Precisamos de uma carta digital que recupere a dignidade humana e pensar em uma renda básica para as profissões que serão devoradas pelas novas tecnologias”.

Comunicação. “Sem a presença do outro, a comunicação degenera em um intercâmbio de informação: as relações são substituídas pelas conexões, e assim só se conecta com o igual; a comunicação digital é somente visual, perdemos todos os sentidos; vivemos uma fase em que a comunicação está debilitada como nunca: a comunicação global e dos likes só tolera os mais iguais; o igual não dói!”.

Jardim. “Eu sou diferente; estou cercado de aparelhos analógicos: tive dois pianos de 400 quilos e por três anos cultivei um jardim secreto que me deu contato com a realidade: cores, aromas, sensações... Permitiu-me perceber a alteridade da terra: a terra tinha peso, fazia tudo com as mãos; o digital não pesa, não tem cheiro, não opõe resistência, você passa um dedo e pronto... É a abolição da realidade; meu próximo livro será esse: Elogio da Terra. O Jardim Secreto. A terra é mais do que dígitos e números.

Narcisismo. Han afirma que “ser observado hoje é um aspecto central do ser no mundo”. O problema reside no fato de que “o narcisista é cego na hora de ver o outro” e, sem esse outro, “não se pode produzir o sentimento de autoestima”. O narcisismo teria chegado também àquela que deveria ser uma panaceia, a arte: “Degenerou em narcisismo, está ao serviço do consumo, pagam-se quantias injustificadas por ela, já é vítima do sistema; se fosse alheia ao sistema, seria uma narrativa nova, mas não é”.

Os outros. Esta é a chave para suas reflexões mais recentes. “Quanto mais iguais são as pessoas, mais aumenta a produção; essa é a lógica atual; o capital precisa que todos sejamos iguais, até mesmo os turistas; o neoliberalismo não funcionaria se as pessoas fossem diferentes”. Por isso propõe “retornar ao animal original, que não consome nem se comunica de forma desenfreada; não tenho soluções concretas, mas talvez o sistema acabe desmoronando por si mesmo... Em todo caso, vivemos uma época de conformismo radical: a universidade tem clientes e só cria trabalhadores, não forma espiritualmente; o mundo está no limite de sua capacidade; talvez assim chegue a um curto-circuito e recuperemos aquele animal original”.

Refugiados. Han é muito claro: com o atual sistema neoliberal “não se sente preocupação, medo ou aversão pelos refugiados, na verdade são vistos como um peso, com ressentimento ou inveja”; a prova é que logo o mundo ocidental vai veranear em seus países.

Tempo. É preciso revolucionar o uso do tempo, afirma o filósofo, professor em Berlim. “A aceleração atual diminui a capacidade de permanecer: precisamos de um tempo próprio que o sistema produtivo não nos deixa ter; necessitamos de um tempo livre, que significa ficar parado, sem nada produtivo a fazer, mas que não deve ser confundido com um tempo de recuperação para continuar trabalhando; o tempo trabalhado é tempo perdido, não é um tempo para nós”.

O “Monstro” da União Europeia

“Estamos na Rede, mas não escutamos o outro, só fazemos barulho”, diz Byung-Chul Han, que viaja o necessário, mas não faz turismo “para não participar do fluxo de mercadorias e pessoas”. Também defende uma política nova. E a relaciona com a Catalunha, tema cuja tensão atenua brincando:

“Se Puigdemont prometer voltar ao animal original, eu me torno separatista”.

Já no aspecto político, enquadra o assunto no contexto da União Europeia: “A UE não foi uma união de sentimentos, mas sim comercial; é um monstro burocrático fora de toda lógica democrática; funciona por decretos...; nesta globalização abstrata acontece um duelo entre o não lugar e a necessidade de ser de um lugar concreto; o especial é incômodo, gera desassossego e arrebenta o regional. Hegel dizia que a verdade é a reconciliação entre o geral e o particular e isso, hoje, é mais difícil...”. Mas recorre à sua revolução do tempo: “O casamento faz parte da recuperação do tempo livre: vamos ver se haverá um casamento entre a Catalunha e Espanha, e uma reconciliação”.

 

Fonte: El País

Fiquei com uma impressão não tão boa do coreano. A princípio me interessei bastante pela visão que ele propõe, me identifiquei com variados argumentos e análises, mas, a partir desse texto, fiquei com uma certa impressão de que, na mesma medida em que propõe essa nova visão, também faz um julgamento moral que me parece um pouco anarco-primitivista, e me lembra uma simplória valorização do passado.

 

Em 05/03/2020 em 16:32, Leho. disse:

 

Bom vídeo, tirando as tentativas de humor.

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    • Lowko é Powko
      Por Lowko é Powko
      Achei que seria legal compartilhar com vocês.
    • felipevalle
      Por felipevalle
      Apesar de não ser a minha vez, o autor do mês não criou o seu respectivo tópico, então resolvi adiantar a minha vez. 
      Até havia pensado em outra obra mais leve para compartilhar com vocês, mas parece-me que uma de análise se torna mais importante. Ainda mais pelo fato de discutirmos inúmeras questões aqui a que ela faz referência. Principalmente quando o assunto for de trabalho, política, entre outros nevrálgicos que tanto mexem e dividem com as opiniões dos forumeiros. 
      Ok. Explicação dada, vamos a ela:

      SINOPSE
      O espírito imortal não nasce, não cresce, não morre e não renasce; matricula-se temporariamente na escola da Terra, onde o currículo proposto para estimular sua evolução consciencial é composto de umas seqüências de problemas.
      Os entraves da vida humana e suas equações esclarecedoras, é, portanto, o foco desta obra de Ramatís. E mais, no âmbito familiar ele aborda: o processo de reencarnação, a infância, a educação dos filhos sob a perspectiva espiritual, a adoção e o binômio afeto-disciplina. Compõem os “cursos básicos” e as “especializações” da escola terrestre temas como: problemas da saúde, da alimentação, do trabalho, da religião, dos governos, e até mesmo os problemas adquiridos quando se pretende fugir dos problemas: o alcoolismo, o tabagismo etc.
      Em seu estilo de peculiar clareza e profundidade, que nada deixa por examinar e nada teme analisar, Ramatís esboça a geometria transcendental que soluciona, pelos instrumentos da ótica espiritual, a arquitetura do edifício secular da vida humana.
      *** *** ***
      Fica a critério de vocês quanto ao prazo de leitura, mas imagino que em um mês já dê para terminá-la.
      Boa leitura ✌
    • Leho.
      Por Leho.
      E aí, o que pensam a respeito?
      Sinceramente, achei o filósofo de uma hipocrisia tremenda, mas a discussão que ele (o assunto) gera é mt válida. Alguns pontos eu acabo concordando com ele, principalmente sobre aborto e sobre os motivos que movem nossa sociedade hoje a ter filhos.
      Sou amplamente a favor do aborto, já há algum tempo. Mas daí a dizer que "nós não deveríamos dar vida para pessoas que no futuro vão enfrentar sofrimento" já é demais.
    • Gustavohdcarioca
      Por Gustavohdcarioca
      Pessoal é o seguinte , venho tentando entender a ME desse FM e me paro com muitas duvidas . Uma deles como desenvolver uma táctica para contra atacar ? Q liberdade criativa é mais interessante ? Gosto muito de usar 4-2-3-1 e 4-1-2-3 abertos , mas quando vou fazer tácticas para contra atacar não consigo me sair bem . Coloco os jogadores mais adiantados para marcar pressão e com pressão apertada ? ou diminuo a pressão e dou espaço ao time adversário para roubar a bola no campo final de jogo e ai sim sair em contra ataque ? li q o gegenspring não esta funcionando no FM e não consigo dar um contra ataque q preste . Outra duvida como fazer com q nessas táticas a combinação ponta e segundo atacante funcione com laterais ofensivos ou são  incompatíveis  ? Mais uma duvida  , é interessante pedir os jogadores para usar apenas um lado ou centro como foco em uma tática ? Não fica fácil de marcar ? Tento entender mas são muitas coisas q não consigo fazer darem certo no game , tenho muitas ideias mas não consigo
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