Ir para conteúdo
  • Cadastre-se

A nova abordagem das séries


Leho.

Posts Recomendados

  • Diretor Geral

A nova abordagem das séries

mad men

Acabei de assistir ao quinto episódio de Narcos. Um bom episódio, que faz girar bastante coisa e acende pequenos pavios que hão de explodir mais à frente. Mas o ponto aqui não é a qualidade da série ou como coisas explodem; o ponto é que, embora eu tenha gostado e compreendido as possíveis implicações das ações ali retratadas e o sexto episódio esteja totalmente ao meu alcance, eu não fiquei com vontade nenhuma de clicar em “assistir agora”. E isso tem sido cada vez mais comum.

Tenho percebido um tom cada vez mais cadenciado em diversas séries. E não só nas da Netflix: Breaking Bad é sensacional, mas é preciso força de vontade para passar alguns episódios. A segunda temporada de True Detective foi ótima, mas o único cliffhanger realmente “minha nossa preciso ver isso” foi o do segundo episódio. Até mesmo a ótima Mr.Robot, que é mais vertiginosa – conspiração, hackers, ameaças, reviravoltas, drogas, gente mexendo em computadores – possui uma levada menos elétrica. Parece que a tendência agora é apostar menos em grandes estardalhaços e investir ao invés em um desenrolar lento da trama, aproveitando as conflitos/situações causados por pequenos momentos da história. Há, tudo indica, uma preocupação em não recorrer a formulismos e a construir uma certa profundidade dramática a partir de eventos corriqueiros (há um episódio inteiro de Breaking Bad envolvendo uma mosca, lembram?). É como se os romances russos tivessem tomado conta dos roteiros.

Isso interfere diretamente com o andamento da temporada, claro, porque os temas também mudam um pouco – mais do que nunca, as personagens  se tornam o verdadeiro plot da série, e não, sabe, o plot em si. Ao invés de acompanharmos que coisas vão acontecer com aquelas pessoas (tipo acontece em Friends), acompanhamos como aquelas pessoas reagem às coisas que acontecem (como em Veep ou BoJack Horseman). É uma distinção pequena, que pode parecer puramente teórica, mas ela determina que os eventos vão girar ao redor das personagens, e não o contrário. Séries como Friends e Seinfeld, por exemplo, transformavam pequenos momentos da vida em grandes aventuras (encontros, queda de luz, almoços comemorativos, encontrar um lugar para estacionar etc), mas hoje em dia a questão parece ser que esses pequenos momentos são triviais, e é justamente isso que os torna engraçados (Veep faz isso com frequência) ou opressores (diversas das séries dramáticas fazem da rotina uma prisão). Interessam menos os encontros, quedas de luz, almoços comemorativos e jornadas para encontrar um lugar para estacionar do que como as personagens reagem a essas situações.

true detective

Acho que tem bastante relação com a abordagem mais “cinematográfica” que tem tomado conta das séries, bem como a nossa evolução enquanto espectadores: o caso da semana ou um humorístico inspirado de vinte e dois minutos por semana deixaram de ser o suficiente; é preciso oferecer ao público algo mais complexo, com mais camadas para descascar e que possibilite maior profundidade dramática/mais referências (Community cai como uma luva neste caso). Não que as pessoas tenham parado de gostar de diversão pura e descompromissada, mas é que até mesmo séries leves aderiram a essa filosofia contida, procurando estabelecer um universo mais “real”, menos deslumbrado consigo mesmo – em séries como The Office e Parks & Recreations, por exemplo, muitas vezes as excentricidades são obervadas e reconhecidas pelas personagens, ao passo que How I Met Your Mother coloca dois adultos duelando com espadas sem problema nenhum. Parece uma tentativa de mostrar ao espectador que a série vai além do “exagero” encontrado até então nas obras televisivas do gênero (seja comédia, drama, policial etc), que essa diminuída de volume, essa busca por uma certa introspecção, representa um passo em direção às produções mais maduras e complexas com as quais quem costuma ser associado é o cinema, e não a televisão.

O resultado são essas obras pausadas, cuja história se desenvolve lentamente e que fogem muito daquele desespero que era ter que esperar uma semana para descobrir o que aconteceria em LOST ou 24 ou alguma outra série viciante. Existem exceções, claro, mas tudo indica que essa tendência não vai embora tão cedo. E é uma ótima abordagem, só que exige bastante sensibilidade e visão para não descambar para algo monótono ou muito artificial-  até porque não é um filme de duas horas, e sim uma temporada inteira com nove ou dez horas no mínimo. Ou seja, eventualmente acontece de alguns realizadores confundirem chatice com profundidade. Entretanto, os bons resultados são inegáveis e é algo que tem trazido muita coisa muito interessante para a televisão, já que o número de séries que se destacam com esse tipo de abordagem vem crescendo (Breaking Bad, Orange is the New Black, House of Cards, Mad Men,True Detective, Narcos e por aí vai). Só talvez estejam mais para uma degustação do que para um buffet livre.

@Ligado em Série

E aí... o que acham? 

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Vice-Presidente

Concordo muito, tanto é que tá difícil achar uma série que empolgue, apesar das grandes produções. Breaking Bad eu já desisti tem uma cara, não consegui passar do meio da terceira temporada porque eu achei mais maçante do que empolgante e a série tem aquele hype de ser fodapracaraleo! Narcos eu já não achei que segue essa toada, assisti dos 10 episódios,8 até o momento. Vi o primeiro, aí depois vi o 2º até o 8º numa pegada só. Só não acabei porque minha namorada queria assistir e revi desde o começo.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

É verdade, não tem mais seriados como Prison Break, 24h, as primeiras temporadas de Lost (lembrando que Lost também tinha seus "fillers") que o cara assiste 12 episódios em um dia. O último assim acho que foi Dexter.

Breaking Bad era chato demais e eu larguei pela terceira temporada também. A história tinha potencial, podia ser bom, mas é tudo irritantemente lento. Estou assistindo Narcos e não é tão lento quanto Breaking Bad, mas ver mais que 3 episódios em um dia nem um indivíduo com insônia consegue.

Nesse sentido até seriados como Castle e Blacklist são mais legais de assistir que esses outros.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Tem público pra tudo. Acho que o público simplesmente evoluiu. Curto histórias mais pausadas, não acho sinônimo de chatice. Mas também curto seriados que não tem muito compromisso além de entreter.

Breaking Bad, por exemplo, é engraçado reclamarem do seriado ser pausado quando se conta a história de um professor de química e um aluno drogado. O que diabos alguém que ver um seriado com esse plot quer ver? É óbvio que os problemas tem que ser pequenos e a história não pode ter um desenvolvimento tão acelerado sob pena de ficar completamente irreal. Sopranos a mesma coisa, seriado que retrata quase que perfeitamente como é a vida de um mafioso, sem aquelas viagens românticas (muito boas, mas irreais) dos filmes do Scorcese etc. Mesma coisa serve pra Treme, Mad Men etc. que tem que ser mais parados por natureza. Faz parte, problema que muita gente escolhe os seriados pra ver sem ter a menor ideia do que ele retrata.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Vice-Presidente

The Newsroom tem todo o foco que o pessoal falou aí no texto, mas não é paradona, tem que saber balancear. 

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Essa nova "abordagem" em nada me incomoda, se tem qualidade...

Narcos em 2 dias, achei empolgante.

Breaking Bad vi em alguns dias também.

Nego quer uma série tipo 24 horas todo o tempo, ai não tem como.

Agora uma série tipo Person Of Interest ai realmente eu acho um saco... 1 caso da semana, história que não envolve.

Essa é a série que estou com mais dificuldade pra terminar. Tá fodaaaa!

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

The Newsroom tem todo o foco que o pessoal falou aí no texto, mas não é paradona, tem que saber balancear. 

Newsroom mostra uma redação. Breaking Bad mostra um professor de química depressivo que luta contra o câncer, impossível acontecer milhões de coisas ao mesmo tempo.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Visitante João Gilberto

Acho que ao final a conclusão vai ser a que já comentaram: há séries para todos os gostos e no final das contas é melhor cada um garimpar de acordo com seu perfil do que apenas se acomodar com as indicações de amigos. Sobre o texto, concordo que é uma tendência, mas assim como todas as outras, pode ser passageira e já já dar lugar a uma nova abordagem ou retorno de uma antiga. 

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Arquivado

Este tópico foi arquivado e está fechado para novas respostas.

×
×
  • Criar Novo...