Bodu ® Postado 8 de Maio 2014 Denunciar Compartilhar Postado 8 de Maio 2014 Grupo chamado Coligay agitou por seis anos a arquibancada do Olímpico durante a ditadura militar e foi testemunha de grandes títulos; história é recontada por jornalista Por Lucas RizzattiPorto Alegre Livro será lançado em 13 de maio (Foto: Divulgação) Aos torcedores do Corinthians que sustentaram faixas de repúdio ao selinho de Emerson Sheik num amigo em 2013, vale uma viagem no tempo. A 1977, quando o folclórico presidente do clube paulista, Vicente Matheus, ligou para Volmar Santos e pediu que sua animada torcida, com fama de pé-quente, saísse do Rio Grande do Sul e fosse ao Morumbi ajudar o Timão a findar um jejum de 23 anos sem títulos, diante da Ponte Preta. E deu certo. Uma mostra da força e do pioneirismo da breve porém intensa Coligay, torcida organizada do Grêmio formada por homossexuais entre o fim dos anos 1970 e início dos 1980. Que, agora, ganha livro, no texto do jornalista gaúcho Léo Gerchmann. Com cara de homenagem e acerto de contas para uma legião de gremistas, um tanto esquecida e, quando lembrada, alvo de piadas. Mas a Coligay era coisa séria. O livro “Coligay, tricolor e de todas as cores” (Editora Libretos, 192 páginas, R$ 35) será lançado em 13 de maio, na livraria Saraiva, do shopping Praia de Belas, em Porto Alegre. Surgiu de uma inquietação de Léo, repórter especial do jornal "Zero Hora" e com 11 anos na "Folha de S. Paulo", entre outras redações e coberturas de peso. Hoje aos 49 anos, já conhecia a história desde os tempos em que ia com o pai Henrique, conselheiro do clube, ao Olímpico. Não gostava de ver seu filho se perguntando se o Grêmio primava pela intolerância. Resolveu colocar tudo no papel. - Eu tinha isso fermentando na minha cabeça há muito tempo. Não conheço um episódio de aceitação do diferente mais forte do que esse. Tenho muito orgulho de torcer para esse clube - explica, ao GloboEsporte.com. Léo não teme repercussão negativa de segmentos mais conservadores da torcida. Pelo contrário. Diz que 95% dos comentários alertam para a necessidade de o assunto ser abordado. Aos outros 5%, recomenda, categórico: - Além, claro, da dedicatória aberta ao meu pai (que chegou a ter um minuto de silêncio no Olímpico sem a família pedir), o livro é de certa forma a esses caras (preconceituosos). O livro é para eles, para abrir a cabeça. Quando escuto comentários jocosos sobre a Coligay, só me convenço da importância de entrar no tema. Tenho a pretensão de que esse trabalho se transformará num documento sobre o assunto. Coligay acompanhou o Grêmio por todo o interior do estado (Foto: Agência RBS) ALEGRIA EM TEMPOS DE CHUMBO Precisou de quase um ano, entre maio e dezembro de 2013, para escrever uma história que começou muito antes. Foi em 1977, tempos difíceis nas ruas, de ditadura militar, que o “agitador social” Volmar Santos, personagem principal da obra, resolveu aliar o gosto por festas com a paixão pelo seu Grêmio. Na ocasião, era dono da boate Coliseu, reduto gay na sisuda Porto Alegre dos generais. Em campo, também não estava fácil. O Grêmio tentava, a todo custo, evitar o nono campeonato estadual seguido do Inter, que já havia vencido o Brasileiro em 1975 e 1976. Coligay viveu de 1977 a 1983 Começou com 60 membros e chegou a ter mais de 200 Foi a primeira torcida organizadade homossexuais no Brasil Daí o nome Coligay. Vem do nome da boate, que passou a ganhar ainda mais fama com o crescimento da torcida na arquibancada do Olímpico. Inclusive jogadores a frequentavam. Não que fossem necessariamente homossexuais. Regado ao som do grupo Abba, o ambiente convidava qualquer orientação sexual. Valia a diversão. Valia até receber o conservador Telê Santana. Mas o técnico, que faria história naquele ano, rumava a Coliseu apenas para tentar flagrar algum atleta seu em peripécias noturnas. Mas Volmar os protegia. Como também protegia os seus coligados, providenciando aulas de caratê. Porque o início, não é difícil supor, foi complicado. Todos olhavam aquela turma de cantos diferentes, túnicas listradas e saltinhos chamativos com total desconfiança. Dirigentes, jogadores e, claro, a própria torcida gremista. - Hoje, todos que consultei têm um discurso muito favorável. Os próprios jogadores mudaram muita sua posição com o passar do tempo - conta Léo, após entrevistar mais de 30 pessoas. INTEGRANTES SE DISPERSAM NO TEMPO Mas futebol é resultado. Até para uma torcida organizada. A Coligay estreou, para assombro do Olímpico, numa vitória protocolar sobre o Santa Cruz, 2 a 1, pelo Gauchão, em 10 de abril de 1977. No fim de semana seguinte, nova vitória, um largo 3 a 0 diante do… Inter! Estava começando a se consagrar a sua fama de pé-quente. Inclusive na mídia, que passou a tratá-la como realidade. Na maioria das vezes, a Coligay acabava caindo na vala do humor de Carlos Nobre, de "Zero Hora". Os próprios membros da Coligay também não perdiam uma boa piada. Tinham cânticos especiais e cheios de bom humor para jogadores. E colecionavam os seus preferidos, como o zagueiro reserva Cassiá, que virou treinador e político. Depois, viria Renato Gaúcho, tratado como "sex symbol". Aliás, os atletas, aos poucos, passaram a aprovar aquela incomum torcida. O motivo? A incrível capacidade de jamais parar de apoiar. Léo Gerchmann reproduz no livro um trecho de reportagem da revista "Placar", que dimensiona como eles torciam: - Aquele grupo superava em animação as outras duas torcidas, batendo os seus tambores e berrando o tempo todo. Não conheço um episódio de aceitação do diferente mais forte do que esse. Tenho muito orgulho de torcer para esse clube e espero que esse livro vire um documento Léo Gerchmann, autor do livro Torcida organizada era artigo raro, como explicou Gerchmann. No Grêmio, havia a torcida oficial, do Departamento Eurico Lara. E só. Em 1974, surgiu uma dissidência dela, a Força Azul. Depois, a Coligay, que chegou a convencer alguns dos membros dessa última, que migraram para a turma mais alegre. Que também aceitava heterossexuais, obviamente. Havia muitos deles, sobretudo os instrumentistas. A Coligay começou com 60 pessoas, chegou a ter 200, um pouco mais, um pouco menos, que iam desde a boate Coliseu até o Olímpico, em dias de jogos, como reza o hino do clube, a pé, quase sempre de ressaca. Nem todos os integrantes da Coligay abriram seus nomes na publicação de Léo Gerchmann, que usou diversos instrumentos para localizá-los, inclusive perfis de redes sociais. Há um casal que se encontra até hoje, e um deles mantém uma vida heterossexual. Boa parte morreu consumida pela pandemia da Aids. Mas conseguiu ver o time campeão gaúcho em 1977, título histórico, e a construção do esquadrão que, mais tarde, seria campeão brasileiro, continental e mundial. Depois de 1983, a pé-quente Coligay esmoreceu. Virou purpurina, como brinca Volmar no livro. Muito porque o próprio Volmar voltou para a sua Passo Fundo, desarticulando o movimento. - O mais importante é que a Coligay foi pé-quente para que o Grêmio voltasse a conquistar títulos - resumiu Volmar, mostrando que, no fim, o objetivo era o amor ao clube. TORCIDA É ELOGIADA, MAS SEM ALARDE Deixou, no entanto, um legado além. Diante de uma modernidade salpicada de crimes, racismo e jovens mortos até com arremesso de privada em estádio, mostrou que é possível torcer sem violência. Pagavam suas próprias viagens e a única coisa que pediram ao então presidente Hélio Dourado foi uma pequena sala no Olímpico para guardar seus chamativos adereços. Dourado foi o responsável por finalizar o segundo anel do Olímpico, em 1980. Na histórica campanha do cimento, contou com o apoio da Coligay, que promovia festas e arrecadava verba pelo interior gaúcho. Aquele grupo superava em animação as outras duas torcidas do clube, batendo seus tambores e berrando o tempo todo Trecho da Revista Placar no livro "Coligay - tricolor e de todas as cores" Depois da Coligay, surgiram algumas tentativas semelhantes em outros clubes. Até no Inter, a Interflowers, que não vingou. A mais famosa foi a Flagay, em 1979. Que, em sua estreia, viu uma derrota estrondosa para o Fluminense por 3 a 0. O presidente Marcio Braga disse ter sido “praga” da Flagay, que acabou caindo em descrédito. O tempo também apagou a importância de uma torcida organizada homossexual no Rio Grande do Sul enrijecido pela ditadura militar. Embora todos os gremistas da época reconheçam seu pioneirismo, o clube em si jamais mencionou o movimento com orgulho ou dedicou algum espaço em seu antigo memorial, no Olímpico. A Coligay ressurgiu em 2009, numa faixa na Venezuela, quando o Grêmio enfrentou o Caracas, pela Libertadores. Volmar confirma que ela foi estendida por antigo membro, que foi morar naquele país após se apaixonar por um venezuelano. Agora, a torcida revive, ganha fôlego no texto de Léo Gerchamnn. “Coligay, tricolor e de todas as cores” é um livro não apenas para quem gosta de esporte, do Grêmio ou de movimentos pela igualdade. É uma obra para todos. Como era a Coligay. Como deve ser o futebol. Confira as notícias do esporte gaúcho no globoesporte.com/rs Link para o comentário Compartilhar em outros sites Mais opções de compartilhamento...
LikeaBoss Postado 8 de Maio 2014 Denunciar Compartilhar Postado 8 de Maio 2014 Coligay é piada até hoje. :yao: Link para o comentário Compartilhar em outros sites Mais opções de compartilhamento...
Tuna Postado 24 de Maio 2014 Denunciar Compartilhar Postado 24 de Maio 2014 Uma história linda de se ver. Um livro é pouco para o que ela merece. Link para o comentário Compartilhar em outros sites Mais opções de compartilhamento...
chevarria Postado 24 de Maio 2014 Denunciar Compartilhar Postado 24 de Maio 2014 Volta Coligay. Fora Geral. Link para o comentário Compartilhar em outros sites Mais opções de compartilhamento...
MarkuZ Postado 25 de Maio 2014 Denunciar Compartilhar Postado 25 de Maio 2014 Foda! Fiquei com vontade de ler esse livro. Link para o comentário Compartilhar em outros sites Mais opções de compartilhamento...
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