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Vantagem caseira


Lowko é Powko

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Dado o retorno do futebol na pandemia, todos ficamos abismados com o desempenho dos times mandantes e visitantes, em comparação com o que estávamos acostumados. Essa diferença se demonstrou com mais força na Alemanha, e principalmente no início do retorno, em maio. Os mandantes só venceram mais que os visitantes na 7ª rodada do retorno, a 32ª geral. Como eu gosto bastante de estatística, decidi compilar os números de seis ligas europeias que retornaram, embora algumas ainda não tenham sido finalizadas, e compartilhar aqui com vocês. São elas: primeira e segunda divisões da Inglaterra e as primeiras divisões de Alemanha, Itália, Espanha e Portugal.

Até onde eu sei, pelo pouco que estudei, a vantagem caseira não é exatamente relacionada à torcida, ao menos não da forma que estamos acostumados a romantizar. A pressão caseira não se reflete tanto nos jogadores, mas nos juízes, que mesmo inconscientemente tendem a favores os mandantes. Com o VAR, isso ficou muito claro. O último estudo que li sobre indicava uma redução drástica na quantidade de pênaltis marcados para o mandante, por exemplo. O stress causado pelo barulho, pela pressão e pelas ameaças são explicações razoáveis para esse comportamento. Juízes muito experientes e/ou especialmente confiantes, entretanto, podem tender a favorecer o time visitante se estiver sendo muito maltratado pela torcida caseira. Mas não vou me aprofundar nessa análise, já que o foco é outro.

As viagens, embora provavelmente tenham impacto sobre a performance (menos hoje em dia do que já foi sugerido no passado), não são determinantes. Outro fator, esse sim que me interessou bastante, é a produção de testosterona por conta da defesa do território, ou do que pode ser entendido como território, hoje em dia, para o jogador de futebol: seu próprio campo. Não me lembro qual pesquisa isolou e testou a produção de testosterona entre jogadores em treino, em jogo fora de casa e em jogo em casa, notando que nos jogos em casa o mandante tende a produzir mais testosterona que o normal, ainda que a torcida não esteja envolvida.

A pandemia ofereceu uma grande chance de análise desse aspecto, já que isolou da equação a variável "torcida". Abaixo, os resultados que obtive, de forma mais ou menos organizada, como estão na minha tabela.

Explicando rapidamente, na primeira parte, estão as rodadas e os resultados, se vitórias mandantes, visitantes ou empates. As duas linhas em negritos são as probabilidades que importam, sendo a primeira a distribuição percentual de resultados na rodadas pós-pandemia, e a segunda pré-pandemia.

 

Alemão   Espanhol   Italiano
R M E V   R M E V   R M E V
26 1 3 5   28 4 3 3   27 3 2 5
27 2 2 5   29 4 5 1   28 5 2 3
28 2 5 2   30 4 3 3   29 3 2 5
29 3 0 6   31 4 3 3   30 5 1 4
30 2 4 3   32 6 2 2   31 5 2 3
31 1 2 6   33 3 2 5   32 2 5 3
32 5 1 3   34 3 4 3   33 5 3 2
33 4 2 3   35 5 2 3   34 6 3 1
34 6 0 3   36 4 1 5   35      
          37 3 1 6   36      
81 26 19 36   38 5 4 1   37      
% → 32,1 23,5 44,4             38      
          110 45 30 35          
% total 40,0% 22,0% 38,0%   % → 40,9 27,3 31,8   80 34 20 26
                    % → 42,5 25,0 32,5
          % total 46,0% 28,0% 27,0%          
81 306                 % total 41,0% 23,0% 35,0%
                           
          110 380              
total 122,4 67,32 116,28             80 340    
pausa 96,4 48,32 80,28                    
          total 174,8 106,4 102,6          
% → 42,8 21,5 35,7 100 pausa 129,8 76,4 67,6   total 139,4 78,2 119
    % antes da pausa               pausa 105,4 58,2 93
          % → 48,1 28,3 25,0          
              % antes da pausa     % → 40,5 22,4 35,8
                        % antes da pausa  

 

 

Inglês   Português   Inglês 2ª
R M E V   R M E V   R M E V
28 1 1     25 3 3 3   38 2 4 6
30 3 3 4   26 3 3 3   39 6 2 4
31 6 2 2   27 4 4 1   40 4 3 5
32 5 0 5   28 4 1 4   41 5 2 5
33 6 2 2   29 5 1 3   42 5 2 5
34 3 3 4   30 4 1 4   43 2 3 7
35 6 2 2   31 3 1 5   44 5 6 1
36 5 3 2   32 5 3 1   45 8 1 3
37 4 2 4   33 5 3 1   46 4 3 5
38         34                
                    108 41 26 41
82 39 18 25   81 36 20 25   % → 38,0 24,1 38,0
% → 47,6 22,0 30,5   % → 44,4 24,7 30,9          
                    % total 42,0% 27,0% 31,0%
% total 45,0% 24,0% 31,0%   % total 41,0% 25,0% 33,0%          
                           
                    108 552    
82 370       81 297              
                           
                    total 231,84 149,04 171,12
total 166,5 88,8 114,7   total 121,77 74,25 98,01   pausa 190,84 123,04 130,12
pausa 127,5 70,8 89,7   pausa 85,77 54,25 73,01          
                    % → 43,0 27,7 29,3
% → 44,3 24,6 31,1   % → 39,7 25,1 33,8       % antes da pausa  
    % antes da pausa         % antes da pausa            

 

 

Compilando todos os resultados, temos, antes da pausa, 43,0% de vitórias mandantes, 24,9% de empates e 31,8% de vitórias visitantes. Depois da pausa, 40,8% de vitórias mandantes, 24,5% de empates e 34,7% de vitórias visitantes.

Podemos dizer, a princípio, que conseguimos isolar o fator torcida (pressão no juiz ou incentivo aos jogadores), mas não o fator campo (território e viagem). Não havendo nenhum tipo de viés, as probabilidades de vitória mandante e visitante seriam divididas igualmente, uma vez retirada a probabilidade de empate. De fato, os mandantes venceram menos depois da pausa, mas foi uma queda de apenas 2,2 pontos percentuais. Como era esperado, os empates se mantiveram constantes e os visitantes venceram 2,9 pontos percentuais a mais. Essa variação pode se dar por simples aleatoriedade, pelo tamanho da amostra ou por outros motivos não explorados.

Seria interessante analisar mais casos pra poder tirar uma conclusão mais confiável. A princípio, minha conclusão é que ambos são equivalentes. O fator torcida e o fator campo são responsáveis cada um por uma variação de 3 pontos percentuais, o que já é uma grande vitória para o segundo, geralmente relegado ao segundo plano com a romantização do 12º jogador.

Obs: casos hajam cálculos e/ou interpretações errada, digam aí. Se estiver tudo errado, já estou aprendendo algo também. hehehe

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Pelo que deu pra ver, as únicas ligas com mudanças drásticas foram a alemã e a espanhola. Isso significa que as torcidas tem mais força de influência lá?

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Cara, eu posso estar sendo muito burro, mas achei essa tua tabela muito difícil de entender. Tô olhando pra ela a um tempão e não consegui entender metade.

Copiei a do Alemão aqui. O que significam as partes que destaquei? E fora isso, as porcentagens são % pós pandemia, % total no campeonato e % total pré pandemia, nessa ordem?

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26 minutos atrás, Darknite disse:

Pelo que deu pra ver, as únicas ligas com mudanças drásticas foram a alemã e a espanhola. Isso significa que as torcidas tem mais força de influência lá?

Pode ser, mas eu acredito que seja apenas uma variação normal.

7 minutos atrás, Danut disse:

Cara, eu posso estar sendo muito burro, mas achei essa tua tabela muito difícil de entender. Tô olhando pra ela a um tempão e não consegui entender metade.

Copiei a do Alemão aqui. O que significam as partes que destaquei? E fora isso, as porcentagens são % pós pandemia, % total no campeonato e % total pré pandemia, nessa ordem?

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O objetivo não era que todos os números fossem expostos, porque eu fui adicionando números na tabela apenas para fins de cálculo e agilidade. Decidi colar só pra expor as infos relevantes, que eu legendei. Mas pedi pra apontarem qualquer problema de cálculo, só que a tabela não ajuda mesmo, porque ficou poluída. hehehe

O vermelho é a quantidade de jogos pós pandemia. O azul é a quantidade de jogos pós-pandemia e a quantidade total de jogos do campeonato, ao lado. O preto foi uma tabela porca que eu criei para descobrir a % de vitórias mandantes, empates e vitórias visitantes dos jogos pré pandemia, uma vez que eu tinha apenas a porcentagem de todos os jogos em conjunto, pré e pós. Isso acabou gerando um problema pequeno na porcentagem final, que não fechou 100%, mas muito próximo, porque os números totais que eu tinha não indicavam decimais.

Então, usando essa tabela da Alemanha como exemplo, eu descobri a quantidade total de vitória mandantes (40% de 306), que resultou em 122,4. Dessas 122 vitórias, eu sei que 26 foram no pós. Então eu já sei que foram 96,4 vitórias na pré pandemia, de 306 (jogos totais) - 81 (jogos pós) = 225 jogos (pré). 96,4 jogos em 225 jogos, dá 42,8% de vitória dos mandantes no pré-pandemia.

O primeiro e o segundo negrito são pós e pré pandemia. O percentual do meio é o total.

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Tá, entendi agora. Bom, então, olhando o que tu compilou teve mudança positiva (positiva no sentido de confirmar a tese "sem torcida no estádio, os clubes mandantes perdem sua vantagem") na Alemanha, Espanha e 2ª inglesa. Por outro lado, teve mudança negativa na Itália, Portugal e 1ª inglesa. Tu não incluiu aí, mas eu li que na 2ª divisão alemã não aconteceu a mesma coisa que na 1ª divisão.

Ou seja, não vejo evidências para se afirmar que a retirada da torcida teve impacto. Tem mudanças em tudo que é direção. Mesmo dentro de um mesmo país. Me parece muito mais uma questão de tabela de jogos e distribuição aleatória mesmo.

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38 minutos atrás, Danut disse:

Tá, entendi agora. Bom, então, olhando o que tu compilou teve mudança positiva (positiva no sentido de confirmar a tese "sem torcida no estádio, os clubes mandantes perdem sua vantagem") na Alemanha, Espanha e 2ª inglesa. Por outro lado, teve mudança negativa na Itália, Portugal e 1ª inglesa. Tu não incluiu aí, mas eu li que na 2ª divisão alemã não aconteceu a mesma coisa que na 1ª divisão.

Ou seja, não vejo evidências para se afirmar que a retirada da torcida teve impacto. Tem mudanças em tudo que é direção. Mesmo dentro de um mesmo país. Me parece muito mais uma questão de tabela de jogos e distribuição aleatória mesmo.

Eu não acho que seja aleatório, mas pode ser. Minha conclusão é que o fator torcida é bem menos relevante do que se imagina. No geral, os clubes mandantes perderam partem da vantagem, e o fator ausente foi a torcida. Jogar em casa dá vantagem, mas tem que ser por outro motivo (fator campo, por exemplo). Os mandantes continuaram tendo vantagem.

Ou as diferenças existem por conta de alguma característica local, como disse o @Darknite.

Dá pra melhorar a análise, aplicando um cálculo de dispersão ou apenas retirando os outliers (como o Bayern).

Fiz da segunda alemã. A diferença é quase irrelevante, mas os mandantes venceram mais do que antes, ainda que sem a torcida.

Alemão 2ª
R M E V
26 6 3 0
27 3 5 1
28 3 3 3
29 3 4 2
30 4 3 2
31 4 1 4
32 5 2 2
33 4 3 2
34 3 2 4
       
81 35 26 20
% → 43,2 32,1 24,7
       
% total 42,0% 32,0% 26,0%
       
       
81 306    
       
       
total 128,52 97,92 79,56
pausa 93,52 71,92 59,56
       
% → 41,6 32,0 26,5
    % antes da pausa  
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Mas se são diferenças locais por que é que a 1ª alemã tem resultado contrário à 2ª alemã, e a 1ª inglesa resultado contrário à 2ª inglesa? Se não tiver explicação pra isso, fica difícil argumentar que é uma questão local.

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17 horas atrás, Danut disse:

Mas se são diferenças locais por que é que a 1ª alemã tem resultado contrário à 2ª alemã, e a 1ª inglesa resultado contrário à 2ª inglesa? Se não tiver explicação pra isso, fica difícil argumentar que é uma questão local.

Eu também acho. Ainda que as próprias ligas possam ter culturas diferentes, as coisas não apontam na direção dessa justificativa.

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Olha, agora não vou fazer pq tô do celular, mas um teste T descobre se há diferença significativa entre teus dados. Só uma média, sem teste estatístico que compare o desvio padrão não diz se tem mesmo alguma diferença.

 

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https://www.economist.com/graphic-detail/2020/07/25/empty-stadiums-have-shrunk-football-teams-home-advantage

Pequeno texto falando sobre essa questão de vantagem caseira. Em resumo, os jogos sem torcida tem uma distribuição mais igualitária de cartões entre as equipes (com torcida na média 54% dos cartões são para os visitantes, sem torcida a média vai para 50%). Também tem uma diminuição leve na quantidade de pontos ganhos pelos times da casa se pegar a média de todas as ligas analisadas, mas vai de 58% dos pontos para o time da casa para 56%. E o gráfico mostra que tem movimentos bem distintos em ligas distintas.

O gráfico que achei mais interessante é o terceiro, que mostra uma diminuição em quase todas as ligas na porcentagem de finalizações dos donos da casa. Chutes acontecem mais vezes do que gols, então tendem a ser uma forma melhor de medir algo do que simplesmente vitórias/derrotas.

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Em 24/07/2020 em 20:34, pedrobello disse:

Olha, agora não vou fazer pq tô do celular, mas um teste T descobre se há diferença significativa entre teus dados. Só uma média, sem teste estatístico que compare o desvio padrão não diz se tem mesmo alguma diferença.

 

Eu apliquei o teste T para minhas apostas já, mas só pra isso. Se puder fazer aí agradeço. 🤣

1 hora atrás, Danut disse:

https://www.economist.com/graphic-detail/2020/07/25/empty-stadiums-have-shrunk-football-teams-home-advantage

Pequeno texto falando sobre essa questão de vantagem caseira. Em resumo, os jogos sem torcida tem uma distribuição mais igualitária de cartões entre as equipes (com torcida na média 54% dos cartões são para os visitantes, sem torcida a média vai para 50%). Também tem uma diminuição leve na quantidade de pontos ganhos pelos times da casa se pegar a média de todas as ligas analisadas, mas vai de 58% dos pontos para o time da casa para 56%. E o gráfico mostra que tem movimentos bem distintos em ligas distintas.

O gráfico que achei mais interessante é o terceiro, que mostra uma diminuição em quase todas as ligas na porcentagem de finalizações dos donos da casa. Chutes acontecem mais vezes do que gols, então tendem a ser uma forma melhor de medir algo do que simplesmente vitórias/derrotas.

Bom, mas esperava algo mais profundo da The Economist. hehehe Estou surpreso por ainda não ter visto um estudo estatístico sobre isso dadas as condições única que temos agora.

A única conclusão que eu consigo tirar disso é que a vantagem caseira caiu na mesma medida em que caiu a quantidade de chutes do mandante. Daria pra dizer que jogar em casa com torcida incentiva os jogadores mandantes a chutar mais para o gol ou arriscar mais nas jogadas que podem levar a finalizações. Mas ainda assim, a variação é muito grande, então a dispersão dos dados é gigantesca, numa primeira olhada.

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  • Vice-Presidente

É meio complicado colocar tudo que aconteceu com o futebol nesse ano na ponta do lápis para dizer que é realmente a ausência de torcida que causou essa diminuição na vantagem caseira.

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3 horas atrás, Henrique M. disse:

É meio complicado colocar tudo que aconteceu com o futebol nesse ano na ponta do lápis para dizer que é realmente a ausência de torcida que causou essa diminuição na vantagem caseira.

Com certeza. O objetivo é tentar isolar e chegar o mais próximo possível, através de uma boa base de dados. O exercício aqui é só uma brincadeira.

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  • 4 semanas depois...

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    • Leho.
      Por Leho.
      A Squawka (empresa famosa sobre estatísticas do futebol) soltou hoje seu "Squawka’s ‘Most’ Awards 2020", ou os melhores jogadores por cada estatística entre as 5 maiores ligas europeias no ano passado.
      Tem os nomes óbvios mas tem também algumas surpresas, que é o que acaba valendo mais observar hahaha.
      Se liguem:
       
       
    • Leho.
      Por Leho.
      -x-
       
      Tá aí, o ídolo que a gente é obrigado a engolir pela mídia. Pau no cu do caralho.
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