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Wakarã EC: O Furacão Kulina - Primeiras perdas 11/06


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Postado

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Clube: Esporte Clube Wakarã

Fundação: 2019
Cidade-sede: Envira (AM)
Estádio: Estádio Municipal de Humaitá (emprestado, já que não conseguimos jogar em Envira)
Cores:

  • Rosa escuro – representa a terra molhada do pôr do sol no rio Juruá, a pele pintada em rituais, a resistência silenciosa.

  • Amarelo – o sol amazônico, o ouro que seduziu colonizadores, a luz da sabedoria dos anciãos Madija.

Símbolo: Um escudo em formato de folha com grafismos indígenas inspirados em arte Kulina.

🐆 Mascote:

A Onça do Juruá

  • Uma onça-pintada jovem, chamada Porani, inspirada em lendas locais.

  • Simboliza agilidade, força silenciosa e o espírito do território.

 

Personagens Principais:

Bernardo Dias

  • Natural de Curitiba (PR)

  • Ex-jogador do juvenil do Coritiba, segundo volante com classe, teve fim precoce na carreira por lesão no joelho 

  • Estudou para concurso após o fim da carreira e entrou no Banco da Economia do Brasil

  • Foi transferido para abrir a primeira agência bancária da história de Envira em 2018, se tornando um herói na cidade, diante das soluções para os desafios mais absurdos dos moradores da região (como desbloquear um cartão)

  • Ao entrar no BEB, foi influenciado a comprar 100 Bitcoins em 2011, por 25 reais cada. Achou que tinha perdido dinheiro da PLR com aquela bobagem. Quando o Bitcoin bateu 40 mil reais em 2019, lembrou daquela carteira perdida e se descobriu milionário. Passou a financiar discretamente projetos de impacto social, inclusive o EC Wakarã.

  • Narrador da história, com tom melancólico, poético e muitas reflexões sobre Brasil profundo, fronteira, tempo e esperança

Treinador: Tadeo Kulina

  • Baseado em homenagem ao indígena real, mas vivo e protagonista na ficção: 

     

  • Nasceu na comunidade Foz do Acurauá

  • Estudou História na UFAC, onde teve contato com a cultura urbana, futebol universitário, movimentos sociais

  • Teve passagem como auxiliar técnico de base no Atlético Acreano, onde conheceu figuras como João Marcos (ex-zagueiro do clube, símbolo local)

  • Casado com Ccorima, tem três filhos

  • Tem como missão transformar o clube em um símbolo de união entre os povos Madija e os não-indígenas, com respeito às tradições e à língua

 

Aliados e Conflitos

  • Prefeito Avon Hates:
    Irmão mais velho de Elliot MacNamara (personagem de save anterior), vive à sombra do irmão famoso e vê no EC Madija a chance de projetar Envira no cenário nacional. Político populista, mas curioso e sincero. É um dos pilares do projeto público.

  • Relação com os Madija:
    Inicialmente tensa — parte da comunidade teme a “ocidentalização” e a exposição do povo. O futebol é visto com desconfiança, mas também como possibilidade de visibilidade, inclusão e orgulho.

  • Infraestrutura:
    Campo de gramado assimétrico onde o clube treina (apelidado de Buraco da Onça), alimentação improvisada, transporte fluvial para jogos e treinos. https://maps.app.goo.gl/D4Qt7GHFrjnYPFTY6

 

Língua e Cultura Kulina Madija

A língua falada pelo povo Kulina Madija pertence à família Arawá. Ela possui fonologia e sintaxe próprias, com traços de aglutinação verbal e expressões culturais fortes. Algumas palavras e frases podem ser inseridas ao longo da história (com tradução):

 

Abi (a-bi) – pai

Amim (a-mim) – mãe

Madija (ma-di-rá) – gente verdadeira

Bicani (bi-ca-ni) – bonito

Ripanan (ri-pa-nan) – comer

Passazenaná (pa-sa-ze-na-ná) – beber

Uadanan (ua-da-nan) – dormir

Ucarizaná (u-ca-ri-za-ná) – andar

Upatany (u-pa-ta-ny) – correr

Macá (ma-cá) – cobra

Acoá (a-co-á) – sapo

Anupí (a-nu-pí) – garça

Usaimá (u-sa-i-má) – banana

Puó (pu-ó) – macaxeira

Ucausama (u-cau-sa-ma) – mata/floresta

 

 

__________

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Diário de Bernardo - Primeiras Semanas como Diretor do Wakarã
15 de Janeiro

 

Aqui estou eu, Bernardo. Diretor de um clube de futebol. Parece piada, mas é real. Aquela pós em gestão esportiva pela FAVENI veio bem a calhar. A agência do banco continua um forno e o ar-condicionado é pura ficção, mas a cada PIX que entra para o clube, a cada "obrigado, seu Bernardo" dos meninos, sinto um ar fresco que não tem preço.

A verdade é que as primeiras semanas foram uma loucura. Tadeo é um gênio, um visionário, mas organização... bem, digamos que a dele é mais fluvial, como os rios daqui. Ele está focado em inspirar, em juntar a comunidade. Eu, por outro lado, estou mergulhando em planilhas, orçamentos, e tentando entender o que é um "patrocínio" para um time que treina num campo de terra batida.

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O primeiro desafio foi o uniforme. Não dava pra jogar com os meninos com coletes de treino rasgados. Usei parte do meu dinheiro dos bitcoins — que, a propósito, me tira o sono menos que a falta de chuteiras. Encomendei um lote de camisetas simples, rosa e amarelo, com o escudo do clube feito de plástico e colado. Tadeo quase chorou quando viu. Isso valeu mais do que qualquer transação milionária que fiz no passado.

 

22 de Janeiro

Hoje tivemos o primeiro treino "completo" com os uniformes novos. Pareciam crianças em dia de Natal. O campo continua sendo o mesmo de terra, com mais formigas do que grama, mas a energia... é contagiante. Tem um menino, o Adauto, magrinho, uns 16 anos. Ele corre como um raio e tem um toque na bola que me lembra um pouco do Jandir na base do Patriotas FC. Vinicius é o craque do time, apesar de não ter tanta vontade de jogar, após se desiludir nos gramados amazonenses.

Tadeo me apresentou a alguns dos pais hoje. Gente simples, guerreira. Todos acreditam no Wakarã como uma forma de dar futuro aos filhos, de tirá-los da rua, talvez até de algum destino mais sombrio que a floresta pode esconder. Senti um peso enorme nos ombros. Não é só futebol. É responsabilidade social, é esperança. Eu, o cara que fugiu de tudo, agora estou aqui, abraçando uma causa maior que qualquer um dos meus problemas antigos. Bianca riria. Ou talvez não.

Os perrengues são constantes: a bola murcha, falta água para os treinos, alguém sempre esquece algo. Ontem, o gol desabou. Literalmente. Tivemos que usar umas toras de madeira e muita corda para improvisar. Tadeo diz que é assim mesmo, "o Wakarã se constrói na marcha". Eu já estou marcando com um carpinteiro da vila para ver se conseguimos fazer umas traves de verdade. Minha experiência com o futebol amador de Colombo me dá umas ideias práticas, mas o "amador" aqui é outra dimensão.

 

28 de Janeiro

A burocracia amazônica é algo para outro diário, talvez um livro de terror. Tentar registrar o clube na federação de futebol do Amazonas em Manaus é um calvário. Documentos que somem, certidões que não existem, taxas que aparecem do nada. Meu "lado bancário" está em alerta máximo, mas a paciência está se esgotando.

Tadeo me puxou para uma reunião com o prefeito hoje. O sujeito prometeu apoio, mas as promessas aqui parecem tão voláteis quanto o clima. Uma hora sol de rachar, na outra, um dilúvio. Preciso aprender a filtrar o que é real e o que é só conversa fiada. Pelo menos, ele pareceu realmente interessado no impacto social do time, não só na propaganda política. Isso me dá uma ponta de esperança.

À noite, estava no cais, vendo o rio Tarauacá correr. Envira é um lugar de contrastes. A dificuldade é gritante, mas a beleza da natureza e a força das pessoas são inegáveis. Sinto que estou aprendendo mais aqui em um mês do que em anos em Curitiba. O joelho não dói tanto, e as lembranças do passado parecem mais distantes, menos dolorosas.

A marcha dos Verdadeiros está só começando. E eu, o ex-futuro Mozart do Coritiba, estou no meio dela. E, para minha própria surpresa, estou gostando.

Postado

ChatGPT está de parabéns, texto muito bem escrito.

Excelente desafio, pq não basta termos 38923709272034 times brasileiros na database se nenhum deles corresponde a um desejo ardente da gente, não é mesmo?

Piadas a parte, desejo sorte, a ideia é incrível (mas o uniforme é horrível)

Postado
46 minutos atrás, Fujarra disse:

ChatGPT está de parabéns, texto muito bem escrito.

Excelente desafio, pq não basta termos 38923709272034 times brasileiros na database se nenhum deles corresponde a um desejo ardente da gente, não é mesmo?

Piadas a parte, desejo sorte, a ideia é incrível (mas o uniforme é horrível)

IA em parte. Porém todavia entregando. Estou aguardando atualização de save aí desde ontem. 

Eu ia subir todo mundo com o Tadala, mas quando fico tocado eu fico.

A parte da IA é importante, preciso reconhecer o trabalho, pois tira um bom tempo de pesquisa que seria demandado. E ainda assim, foi um dia todo preparando uma atualização.

O diário é confeccionado pelo pai.

O uniforme foi o que deu para fazer e chamar a atenção. Agora, se conhecer algum marketeiro fazedor de uniforme aí, manda msg.

Coisa que promete ser Save do Ano né 

Postado
48 minutos atrás, Nei of disse:

agência do banco continua um forno e o ar-condicionado é pura ficção

Morei em Tefé, no Amazonas, por 2 anos e sei bem o que está sentindo o Paranaense Bernardo! 

 

Futebol no AM é fraco demais e estou com o @Fujarra QUE UNIFORME FEIO DA PORRA!!!!

 

De resto, boa sorte! 

 

Ps.: Joga às 18h, que é a hora do mosquito! #MaláriaNeles

Postado

Jogadores vão ter que "Upatany(r)" bastante pra botar o time no mapa, boa sorte!

Esse uniforme indescritível ou vai fazer os adversários terem medo, ou rirem da cara do Wakarã e assim entrar de salto alto. De qualquer forma, vantagem!!

Postado

Já foi dito várias vezes, mas volto a dizer...uniforme bem feio, kkkkk. Espero que sirvam para distrair os adversários. Mas o que importa são os resultados. Boa sorte.

Postado

Começo dificil mas é assim que a gente gosta, o Tadeo Kulina é primo do Tadeo Lafila?

Que Kit horroroso,conseguiste fazer este do Huddersfield ficar bonito

 

2017-18 Huddersfield Away Shirt #5 - 8/10 - (L)

Postado
Em 09/06/2025 em 15:58, rodrigorrrocha disse:

Morei em Tefé, no Amazonas, por 2 anos e sei bem o que está sentindo o Paranaense Bernardo! 

 

Futebol no AM é fraco demais e estou com o @Fujarra QUE UNIFORME FEIO DA PORRA!!!!

 

De resto, boa sorte! 

 

Ps.: Joga às 18h, que é a hora do mosquito! #MaláriaNeles

Tefé é cidade grande, gigante, perto de Envira. A gente vai ter que se virar nos 30. Uma pena que o FM, europeu que só, não consegue emular essas realidades absurdas do Brasil, em especial do estado do Amazonas.

Eu queria ver um campeonato estadual de segunda divisão onde jogam um time do sul do Amazonas, contra times da capital. Viagens de semanas para chegar no jogo, treino dentro do ônibus...

O uniforme é tendência, meu caro.

Em 09/06/2025 em 22:22, Fernandinhobol disse:

Jogadores vão ter que "Upatany(r)" bastante pra botar o time no mapa, boa sorte!

Esse uniforme indescritível ou vai fazer os adversários terem medo, ou rirem da cara do Wakarã e assim entrar de salto alto. De qualquer forma, vantagem!!

Aparentemente vamos ter que remar para ter jogadores.

Tudo é arma, distração é arma.

Em 10/06/2025 em 05:48, Cadete213 disse:

Já foi dito várias vezes, mas volto a dizer...uniforme bem feio, kkkkk. Espero que sirvam para distrair os adversários. Mas o que importa são os resultados. Boa sorte.

Venceremos. Obrigado.

Em 10/06/2025 em 07:24, ABAIXINHO disse:

Começo dificil mas é assim que a gente gosta, o Tadeo Kulina é primo do Tadeo Lafila?

Que Kit horroroso,conseguiste fazer este do Huddersfield ficar bonito

 

2017-18 Huddersfield Away Shirt #5 - 8/10 - (L)

Notaste uma coisa que me passou. Acho que é um eco de consciência ou o GPT querendo manter as aparências. Tadeo vai mostrar o Wakarã para vocês!

O Coxa fez um uniforme nesse estilo visual outro dia. Sinto cada vez mais motivado para criar o kit e colocar no FM.

Seus cornetas, terão que nos engolir.

 

Postado

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Diário de Bernardo - Perdas Iniciais

10 de Fevereiro

Hoje me senti um pouco pai. Pai de uns moleques que nem conheço direito, mas que vejo todo dia com os olhos grandes, como se tudo ainda fosse possível. Foi por isso que passei a tarde inteira tentando convencer o Marcos Francisco a não ir embora com aquele empresário paulista — um tal de Danilo, cabelo lambido, calça justa e um blazer que parecia mais caro que o orçamento anual de Envira.

Danilo apareceu dizendo que tinha "contato na Inglaterra", que já tinha levado "um monte de moleque pra Europa", que conhecia um cara que conhecia outro cara que era olheiro do Red Bull. Prometeu salário em milhares, barco, casa, comida aos borbotões. Marcos, que até mês passado vivia de pegar camarão no Tarauacá, ficou com os olhos brilhando. A mãe dele não entendeu nada — não fala português, só Madija, e ficou ali assentindo com a cabeça como quem assina um contrato sem ler. O pai tinha voltado para aldeia e só voltaria mês que vem.

É fácil vender sonho. E esse Danilo sabe disso. Eu também sei. Já vi esse tipo em Curitiba, tentando agenciar garoto da Várzea com promessa de teste no Coxa. No fim das contas, o cara deve estar com o nome no Serasa, dormindo em kitnet emprestada e levando menino pra São Paulo com o dinheiro que os pais emprestaram com medo de dizer não. Prometem Inglaterra e entregam Guiana, prometem Europa e entregam uma viagem análoga a tráfico de pessoas, por assim dizer. Red Bull... De touro vermelho só se for assombração em fazenda de cana-de-açúcar em Alagoas.

Tadeo ficou puto, mas resignado. Sabe que o futebol é isso mesmo, a beleza que os torcedores vêm é a mesma de um cliente no restaurante: não entre na cozinha se não quiser se decepcionar. Estamos tentando montar um projeto sério, com treino de verdade, com alimentação, com aula de reforço, com respeito. Não tratamos os meninos como mercadoria, são filhos de uma cultura que pensa em grupo, que acredita na escuta, na todo. Não é só futebol — é herança, é futuro.

Mas como diria Mano Brown, o dinheiro tira um homem da miséria. E existem pessoas que gostam de te convencer que você vive numa miséria, quando de fato, é só preconceito mesmo.

 

11 de Fevereiro

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Parece que o inferno veio em forma de promessa. E em forma de ônibus.

Não consegui segurar. Por mais que eu tentasse, por mais que o Tadeo conversasse, a ilusão que esses abutres vendiam era maior. Maior que a realidade dura de Envira, maior que a verdade de um campo de terra batida.

Raimar foi embora para a Friburguense. O menino, que eu via como um dos pilares do meio-campo, com um futuro promissor, embarcou num voo pra longe. Pra um lugar que eu nem sei onde fica direito. Ele me olhou com os olhos brilhando, agradecendo o que fizemos por ele. E eu só conseguia ver a ingenuidade, a crença de que a vida lá fora seria um mar de rosas. A Friburguense... um clube com história, sim, mas com dificuldades financeiras notórias. Duvido que esse empresário tenha falado disso pra ele.

E não foi só o Raimar. Leandro e Leonardo saíram também. Leandro foi para a Juazeirense, o Leonardo para o Americano. Gêmeos, inseparáveis no campo e fora dele. O Wakarã perdeu mais do que dois jogadores, perdeu parte da sua alma. As famílias estavam confusas, se despedindo como se tivessem vendido seus filhos para um europeu qualquer ou pior, para um cafetão. Senti um misto de raiva e tristeza. Raiva desses vampiros que se alimentam da esperança alheia, e tristeza pelos meninos que, talvez, estejam indo para uma fria, pra um lugar onde ninguém se importa de verdade com eles.

E a última paulada: Alemão foi para o Itapipoca. O zagueiro grandalhão, que era esperança de segurar lá atrás. Mais um que se foi. Agora, o campo de grama assimétrica parece ainda mais vazio. Tadeo tentou consolar os que ficaram, falando sobre renovação, sobre a chance para outros meninos. Mas eu vi a dor nos olhos dele. Ele tem investido tanto, ensinado tanto. E agora, em vez de ver o fruto do trabalho dele florescer no Wakarã, ele vê os meninos sendo levados, um a um.

Minha culpa só aumenta. Por que não consegui fazer mais? Por que não achei um jeito de blindar esses garotos das promessas vazias? Ver as famílias, humildes e esperançosas, assinando contratos com esses lobos, me revira o estômago. Alguns desses "empresários" não teriam moral nem pra limpar a chuteira de um jogador de várzea. E estão lá, prometendo Europa para quem nunca saiu da aldeia onde nasceu.

A "marcha" do Wakarã agora é também uma luta para manter o que sobrou. Reconstruir o time, dar esperança aos que ficaram, e tentar, de alguma forma, proteger os próximos talentos que surgirem. Mas a cada dia que passa, essa tarefa parece mais árdua. A inocência é uma presa fácil demais para a ganância.

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A Filosofia de Tadeo Kulina: O Círculo da Bola

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O sol mal tinha se erguido sobre as águas do rio, e o campo de grama assimétrica já fervilhava. Tadeo Kulina, com sua voz calma e olhar experiente, reuniu seus jovens jogadores – Adauto, Watson, Marcos Francisco, Leandro, Zitinho, Galego, Lívio e outros. Ele segurava a bola na mão, como se tratasse de um objeto mágico.

"Quira chuaha, dsabissodeni!", começou Tadeo, eu não entendi nada, a maioria respondeu animada. Teve os "urbanos" como eu, que ficaram se entender, mas aos poucos comprenderam que era bom dia.

Seguiu desenhando um círculo imperfeito no chão com o pé. "Hoje, vamos conversar sobre como jogamos. Muitos falam em 'posse de bola', mas para nós, aqui, ela tem um significado muito mais profundo."

Adauto, com seus olhos curiosos, levantou a mão. "Professor, o que é essa tal de 'posse'?"

Tadeo sorriu. "Boa pergunta, Adauto! No futebol, 'posse de bola' não é segurar a bola com a mão. É ter o controle dela. Nós vamos chamar de 'Mairitawa' – União/Comunidade. É a ideia de que a bola é nossa, de todos, e quando ela está com a gente, nós somos um só. É como se a bola fosse o 'Maimu' – o coração do nosso time, batendo forte em cada passe. Dançaremos ao redor dela, como se fosse um ritual, o grupo fluindo enquanto progredimos no campo: é o que chamam na televisão de transição ofensiva."

Construindo o "Watunna": Nosso Escudo Coletivo

"Quando temos o 'Maimu' conosco, a bola, estamos seguros. E quando perdemos?", continuou Tadeo, olhando para todos. "Temos que ir buscá-la de volta, juntos. Não é um só correndo desesperado, é todo mundo. Isso no futebol se chama 'pressão pós-perda de posse', mas para nós, é o 'Watunna' – Nosso Escudo. É a forma como nos defendemos uns aos outros."

Lívio, que costumava jogar futebol com os meninos da aldeia, ponderou: "Professor, no campo, é tipo quando a gente vai pescar, e um puxa a rede, mas o outro ajuda a segurar para o peixe não fugir?"

"Perfeito, Lívio! Exatamente isso! O 'Watunna' é o nosso escudo coletivo. Se um erra o passe, os outros já estão ali para cobrir, para 'pescar' a bola de volta, como vocês fazem com a rede. Iremos contra-atacar, recuperamos a bola assim que a perdemos. É como uma jiboia que se enrola rapidamente para proteger seus ovos."


O Fluxo do "Kalinago": Remando Juntos Rumo ao Gol

Tadeo pegou a bola e começou a passá-la para Marcos Francisco, que passava para Watson, e assim por diante. "E quando temos 'Maimu'? Não é para prender, é para movimentar. É para ela 'dançar' entre nós. Os passes curtos são como as remadas de uma canoa grande. Cada remador faz sua parte, e a canoa avança rápida e segura."

"Isso é o Kalinago", explicou Tadeo. "Cada passe é uma remada. Se um remador para, a canoa atrasa. Se todos remam juntos, no ritmo certo, chegamos mais rápido ao nosso destino, ao gol. Isso é o que chamamos de 'construção de jogada', mas para nós, é a jornada da canoa que somos nós, unidos."

Galego, que passava horas na canoa com o pai, perguntou: "E se a gente não tiver espaço para remar reto, professor? Se tiver muita pedra no rio?"

"Ótima pergunta, Galego! Aí entra o 'Upa-Ena' – Aprender/Aprender Fazendo. A vida na floresta e no rio nos ensina a nos adaptar, não é? Se tem pedra, a gente desvia. No futebol, se o adversário fecha o caminho, a gente 'move a bola para o espaço'. A gente muda a direção da remada, procura o rio mais limpo. É sempre buscando o melhor caminho para o 'Maimu' continuar a viajar entre nós."

Dúvidas Esclarecidas

Leandro franziu a testa, confuso. "Professor, o que é um avançado trabalhador? Eu não entendi."

Tadeo apontou para um cesto de palha que estava sendo trançado por uma das mães na beira do campo. "Imaginem que esse cesto está quase pronto, mas falta um último fio para fechar. O 'avançado trabalhador' é como aquele fio principal que corre atrás do último pedaço de palha para fechar o cesto. Ele não espera a bola chegar. Ele vai lá, incomoda o adversário, corre muito, força o erro para a gente recuperar a bola. Ele é o primeiro 'remador' do nosso 'Watunna' lá na frente, dificultando a vida do time inimigo."

Zitinho, sempre prático, quis saber: "E o que seria jogar com uma mentalidade positiva? É só ficar feliz jogando?"

"Não é só ficar feliz, Zitinho, embora jogar com alegria seja sempre bom! É ir para cima, mas com inteligência. Pensem quando vocês estão em uma canoa e precisam atravessar uma correnteza um pouco mais forte. Vocês não vão ficar com medo e parar, certo? Vocês remam com mais força, com mais atenção, procurando o melhor jeito de passar, mas sempre avançando. Isso é ter uma mentalidade positiva. É a nossa 'Upa-Ena' – Aprender Fazendo – aplicada no ataque. A gente busca, a gente tenta, mas sempre observando e ajustando."

Em outro momento do treino, Marcos Francisco perguntou, com a língua enrolando no termo: "Professor, me explica de novo 'sobreposi o quê, exterior'?"

Tadeo se abaixou e desenhou duas linhas paralelas no chão. "Marcos Francisco, imagina o nosso campo como um pedaço de terra. E esses jogadores aqui, os nossos laterais, que correm pelas beiradas. Agora, imagine que um dos nossos meio-campistas está com a bola no centro do campo. E o lateral, em vez de só correr por fora, ele faz um movimento 'por dentro', passando por trás do companheiro que está com a bola, para receber lá na frente. Essa é a sobreposição, ele passa por cima do companheiro, como se fosse um rio que, em vez de seguir reto, faz uma curva e encontra outra parte do rio mais à frente."

Ele faz um movimento com as mãos, simulando um jogador passando por trás do outro.

"E 'exterior' se refere a essa corrida que ele faz pelo lado do campo. É um movimento inteligente para confundir a defesa adversária e abrir espaço. É como quando vocês veem um peixe que não vai reto, mas faz um caminho inesperado para pegar a isca. Ele 'sobrepõe' o caminho reto. É uma forma de enganar o adversário e criar uma nova 'trilha' para o 'Maimu' – o coração, a bola, chegar ao gol."


A Conclusão do Círculo

Tadeo pegou a bola novamente e a abraçou. "Então, meus jovens, o nosso futebol será um círculo. Quando temos a bola, o 'Maimu', nós somos o 'Mairitawa' – União. Quando a perdemos, somos o 'Watunna' – Nosso Escudo, protegendo uns aos outros para recuperá-la. E quando a reconquistamos, nós 'remamos juntos' como o 'Kalinago', movendo a bola, o 'Maimu', até o gol."

"E o mais importante", ele finalizou, olhando para cada um. "Em cada passe, em cada desarme, em cada corrida, lembrem-se que vocês não estão jogando sozinhos. Estão jogando pelo 'Povo', pela comunidade. Estão honrando a nossa forma de vida no campo de futebol. Agora, vamos treinar!"

Os jovens, com os olhos brilhando e a mente cheia de novas conexões, pegaram suas bolas, prontos para transformar o campo na sua própria versão do 'Círculo da Bola'.

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Ao final do treino, aproveitei uma oportunidade e chamei todos para um grito de guerra. Tudo bem que era a única coisa que eu sabia de Boi Caprichoso, mas acabou que deu certo. Ver aquele Napê tentando se enturmar motivou a galera e virou nosso grito de guerra oficial na temporada:

 

Pelo riso dos Matis
Pelo viço dos Kulinas
Pela arte dos Marubos
Pelo cacete dos Korubos
Pelo grito de guerra, ah, ah

 

  • Nei of mudou o título para Wakarã EC: O Furacão Kulina - Primeiras perdas 11/06
Postado

Vamos Kulina, é pelo grito de guerra mesmo...e pelo cacete dos Korubos.

Postado
4 horas atrás, Nei of disse:

No futebol, 'posse de bola' não é segurar a bola com a mão.

Fala isso pros americanos

Os status do Kulina, misericórdia, horrorosos kkkkkkk mas inegável como o homem sabe falar.

Historinha posta em cena, belo escudo adaptado ao FM e agora é ver no que vai dar. Eu já sei no que vai dar, mas vou fazer suspense.

Postado
8 horas atrás, Cadete213 disse:

Vamos Kulina, é pelo grito de guerra mesmo...e pelo cacete dos Korubos.

O boi tá garantido!

6 horas atrás, Fujarra disse:

Fala isso pros americanos

Os status do Kulina, misericórdia, horrorosos kkkkkkk mas inegável como o homem sabe falar.

Historinha posta em cena, belo escudo adaptado ao FM e agora é ver no que vai dar. Eu já sei no que vai dar, mas vou fazer suspense.

Americano nem é gente. É clube carioca.

Respeita que ele é formado em história pela UFAC.

Vai dar bom🫰🏿

Postado

Perder quatro jogadores de uma vez (Raimar, os gêmeos e o Alemão) torna tudo difícil. É saber lidar com os abutres que chegam pra levar teus melhores talentos pra times obscuros. Minha solidariedade total, Bernardo.

Mas essa parte da filosofia do Tadeo Kulina... ele sabe muito.

A forma como ele ensinou conceitos táticos para a cultura local deu uma imersão absurda. Mairitawa, Watunna, Kalinago... todas com significados interessantes

Isso mostra que, apesar das perdas, a identidade do time está sendo forjada de uma maneira muito única.

Muita força para reerguer o Wakarã! Agora é dar seguimento ao projeto com quem ficou e pensar no amazonense. Boa Sorte.

Postado
23 horas atrás, Nei of disse:

É como se a bola fosse o 'Maimu' – o coração do nosso time, batendo forte em cada passe

Só tenho uma coisa a dizer: quando as grandes equipes descobrirem o que é o Maimu, mandarão seus scouts de helicóptero, oferecerão caminhonetes, drones e meia comunidade em permuta, para garantirem mais que um jogo..."

Postado

Adorei a forma como o Tadeo explicou a tatica.

Quando é que ele vem a lisboa fazer uma TED Talk?

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