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    • Aleef
      Por Aleef
      VAR da CBF utiliza hardware de segunda linha e conta com operadores sem experiência
      Anunciada como vencedora do processo de concorrência da CBF para operar o árbitro de vídeo no Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil, a Hawk-Eye está, desde o início de suas operações no país, envolvida em diversas polêmicas. Cinco dias antes do prazo para apresentação da proposta, a empresa britânica contratou Neemias Pereira Nunes, então colaborador da Broadcasting TV, como head de operações da empresa no país. Após a decisão da CBF, a Broadcasting notificou a situação à EY (antiga Ernst Young), que foi anunciada como auditora do processo. No entanto, em carta enviada à Broadcasting no dia 07/03 deste ano, a EY afirmou que apenas proveu o serviço de strategic sourcing, e não auditou o processo. Desse modo, a empresa deixou claro que o poder de decisão foi apenas da CBF.  Além da suspeita de concorrência desleal, a contratação é curiosa por conta do perfil de Neemias –  marceneiro de profissão, o colaborador não se encontrava no alto escalão da empresa e não conta com formação técnica ou ensino superior na área.
      De acordo com o edital divulgado pela CBF, a empresa vencedora do processo de concorrência deveria contar com escritório e operações no Brasil. No entanto, até o momento, não existe escritório oficial da Hawk-Eye no país. Neemias Pereira Nunes e Caio Fernandes Lemos, gestor dos operadores, trabalham de casa e realizam reuniões semanais com os funcionários via Skype. Mais do que isso, a CBF não é sequer citada como cliente da empresa britânica em seu site. Outro problema resolvido no começo do ano, mas que volta a incomodar nesse momento, se dá por conta dos operadores de revisão. A empresa vencedora da concorrência deveria contar com, ao menos, 30 operadores homologados pela International Football Association Board (IFAB). Pelo fato de não ter operações no Brasil, a lista apresentada contava apenas com operadores estrangeiros. Para resolver essa situação, a Hawk-Eye contratou colaboradores das empresas concorrentes no país.
      Os operadores de revisão, porém, são um dos principais problemas da empresa no momento. A Hawk-Eye realizou um treinamento na cidade de Águas de Lindóia, no interior de São Paulo, no começo do ano para 60 pessoas trabalharem na função ao longo da temporada. No entanto, 48 já deixaram a empresa. Com falta de mão de obra e o campeonato em andamento, a Hawk-Eye teve que tomar medidas drásticas. De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, os únicos pré-requisitos para ser operador nesse momento são: inglês fluente e aprovação em um jogo teste. Grande parte dos colaboradores atuais não tem formação específica na área e não tinha experiência prévia com o equipamento. Mais grave do que isso, é o relato de que alguns, inclusive, não contam sequer com homologação da IFAB para atuar profissionalmente. Outro agravante vem complicando a vida dos operadores: A Hawk Eye não conta com técnicos TG (Technical Guarantee) específicos e, por conta disso, os próprios operadores são responsáveis pela montagem e verificação dos sistemas antes da partida. Tal esforço físico antes de um momento que exige tamanha concentração, pode explicar a diminuição da eficiência.
      Essa falta de experiência vem causando transtornos ao longo das partidas, e críticas por parte dos árbitros vêm sendo recorrentes. Sem o devido treinamento, operadores não estão sabendo escolher os ângulos certos para repassar à arbitragem, aumentando o índice de erros. 
      Um colaborador concordou em conversar com a reportagem sob a condição de não ser identificado, e reportou os problemas que vêm ocorrendo internamente. “ Para ser técnico/operador do VAR, você precisa passar dias em treinamento, fazer vários jogos testes. Tudo que fizer será mandado para a IFAB, o órgão que regulamenta as regras do futebol na Suíça. Aí eles vão aprovar ou não se você está pronto e estando pronto, eles habilitam você a trabalhar. Na Hawk-Eye Brasil vem sendo feito de maneira diferente: muitos operadores nem passaram ou passarão por isso, nem entendem de arbitragem. Muitos não estão homologados pela IFAB e estão trabalhando. A empresa exige apenas inglês e aprovação em um jogo teste para você trabalhar. Por conta disso, hoje você tem estudante de marketing esportivo, educação física, entre outros, operando o VAR”,  afirmou.
      A falta de conhecimento técnico e experiência por parte dos operadores é admitida por Caio Lemos, em e-mail enviado para os funcionários no dia 14 de outubro. Em uma espécie de “Mea Culpa” por parte da empresa, o gestor afirma que não conseguiu passar a base de conhecimento que gostaria, e pede aos funcionários que aprendam a mexer com a tecnologia por conta própria durante o dia a dia.
      Outro ponto crítico da operação do VAR no país, é a solução de hardware que foi fornecida pela Hawk-Eye. De acordo com a nossa apuração, a empresa britânica, talvez visando cortar custos, trouxe ao Brasil equipamento de segunda linha, que não tem a potência necessária para rodar um software exigente, como o do VAR. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, a incapacidade de rodar o programa vem causando atrasos nas decisões e, em muitas vezes, travamento completo da máquina. Em alguns casos, o software que renderiza as linhas de impedimento travou totalmente, exigindo que os operadores e árbitros realizassem o procedimento manualmente. 
      Em dois casos, é possível ver Caio Lemos admitindo os problemas com a linha de impedimento. No dia 16 de setembro, em e-mail enviado para resumir a reunião semanal, o gestor afirma ainda não ter padrões claros para o traçado da linha de impedimento em casos específicos.  
      O caso mais grave pode ser visto em e-mail enviado no dia 25 de outubro. Nele, Caio pede aos operadores que realizem uma checagem manual constantemente no software para evitar novos incidentes com a linha de impedimento. De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, o pedido foi motivado por uma falta de confiança no equipamento.
      Um especialista consultado pela reportagem concordou em falar, em anonimato, sobre os problemas que um equipamento desatualizado pode causar no processo. “Venderam uma ideia para CBF… Falaram que iam receber um legítimo bacalhau, mas na verdade era apenas um cação. Você recebe o que paga.... Se você força uma queda de preço, acaba entregando algo de acordo com o valor praticado. A empresa fornece apenas um software, que roda em Windows”, afirmou. Também na condição de anonimato, um colaborador da empresa britânica afirmou: “Não teve uma partida sequer que o equipamento não deu problemas. A Hawk-Eye enviou hardware ‘sucateado’ e fica tentando consertar remotamente”.
      Os problemas decorrentes da falta de experiência dos operadores, somados com a solução de hardware proposta pela Hawk-Eye, podem ser vistos na demora da arbitragem em cada consulta. Em levantamento feito pelo Estadão, o VAR do Brasileirão é, com larga vantagem, o mais lento das principais ligas mundiais. Cada decisão demora, em média, 1m50s (110 segundos). Esse índice é 46% maior do que os 1m15s (75 segundos) recomendados pela FIFA. 
      Falta de transparência
      Essas dificuldades, no entanto, não são comunicadas à CBF. De acordo com a nossa apuração, a Hawk-Eye vem sistematicamente omitindo os problemas para a contratante e também para os clubes. Imagens que contradizem as decisões não são enviadas para a CBF. Internamente, no entanto, a conversa é diferente. Em diversos casos, a direção da Hawk-Eye comunica seus operadores sobre os erros, esclarecendo diretrizes e procedimentos.
      Um caso pode ser visto abaixo: logo após a 28ª rodada do campeonato brasileiro, um e-mail foi enviado para os colaboradores da Hawk-Eye, deixando claro que houve um erro por parte do VAR na rodada: o pênalti marcado em cima de Deyverson, na partida entre Avaí e Palmeiras. Por conta do alto volume de água, não há uma imagem que deixe claro o contato do zagueiro em cima do atacante. Nesse mesmo comunicado, a empresa relembra outra falha de procedimento na 27° rodada, na partida entre Internacional e Vasco. Esses erros, no entanto, não são repassados para a CBF e ao público.
      Há também um problema grave que vem sendo enfrentado pelos operadores de replay, que culminou, inclusive, na desistência de vários deles de trabalhar com a empresa. De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, a Hawk-Eye vem rotineiramente atrasando pagamentos dos colaboradores. Segundo relatos, os prestadores de serviço da empresa demoraram dois meses e meio para receber o primeiro salário. Os pagamentos, inclusive, vêm sendo feitos em dólar e enviados por Londres.
      Operadores reclamam de favorecimento
      De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, Caio Fernandes Lemos contratou, após a saída de um operador do estado do Rio de Janeiro, seu irmão para o quadro da empresa. Ele começou como assistente de replay, trabalhou como operador de replay e hoje é registrado como técnico. Tal atitude incomodou os funcionários da empresa, que acreditam que houve favorecimento por conta de seu parentesco. De acordo com nossa apuração, Bernardo Lemos não tinha conhecimento técnico e experiência prévia com o equipamento. Questionado pela reportagem a respeito dos critérios para contratação, Caio afirmou: “O Bernardo faz parte da equipe, mas não como Operador de Replay. Sobre os pré-requisitos e critérios adotados para a efetivação dele na equipe, não sou responsável pela seleção nem contratação de funcionários, nem posso me manifestar a respeito da empresa”.
      Comportamento explosivo
      A postura de Neemias Pereira Nunes em reuniões e conversas com os operadores tem gerado reclamação por parte dos funcionários, que questionam o nível de cobrança e as constantes ameaças por parte do chefe. Em material recebido pela reportagem e replicado abaixo, é possível ver algumas das cobranças por parte de Neemias.
      A reportagem entrou em contato com a EY, CBF e Hawk-Eye em diversas ocasiões ao longo dos últimos meses, mas, até o momento, não obteve nenhuma resposta.
      https://esportes.yahoo.com/noticias/var-cbf-segunda-linha-operadores-sem-experiencia-080005041.html
       
      imgs dos emails dentro da reportagem.
    • Henrique M.
      Por Henrique M.
      Defeitos a parte do VAR brasileiro, é inegável que passar de 88 erros em 2018 para 10 erros em 2019 é magnífico.
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