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Bob Marley, aos 70


Leho.

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Bob Marley aos 70

Flavio Moura – sex, 6 de fev de 2015

Sob certa ótica, é um alívio que Bob Marley não tenha vivido até os 70 anos, que completaria hoje. Dificilmente ele teria escapado de virar um personagem de si mesmo, repetindo as platitudes sobre a “filosofia rastafári” e tentando reviver a todo custo o sucesso que o consagrou nos EUA e na Europa nos anos 1970.

Seria triste vê-lo como uma espécie de Mick Jagger, refém de uma rebeldia que com o passar dos anos se tornou caricata e literalmente rebolando para disfarçar a falta de criatividade e inquietação.

Claro que ele se foi cedo demais – morto em 1981, aos 36 anos, ainda teria muita coisa interessante pra fazer. Mas o que deixou foi forte e bom o suficiente para que sua marca durasse no tempo. Ele não foi só um exemplo comportamental e ligado a um espírito de geração, como Jim Morrison ou Janis Joplin ou mesmo Jimi Hendrix. Ele é mais interessante que os três juntos – e a mitologia em torno dele comparável ou até maior.

Seu trabalho envelheceu bem. É claro que isso é subjetivo até o limite, mas pra mim é uma surpresa escutar suas músicas com o mesmo prazer que quando as conheci, no início dos anos 1990. Quase tudo que escutava naquela época hoje ou dói no ouvido ou desperta um distanciamento condescendente, alimentado apenas pela memória afetiva. Bob Marley não. Ali tem uma atemporalidade difícil de explicar.

Um dos primeiros shows a que assisti na vida foi do “The Wailers”, no Projeto SP, no início de 1991. A banda já era, claro, um simulacro, com integrantes diversos da original, formada por Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer.

Foi a primeira vez que vi gente fumando maconha – do palco, os caras atiravam baseados para a plateia, gritavam “Irie”, o grito de guerra rastafári, e a cada música falavam ao menos dez vezes a palavra “Jah”. Era esse o nome pelo qual chamavam o Deus da religião rasta, para eles encarnado na figura de um ditador que comandou com brutalidade a Etiópia durante o século 20 chamado Hailé Selassié.

Claro que aos 13 anos tudo aquilo parecia lindo, mas não foi preciso muito tempo para lembrar desse momento com alguma desconfiança. Junte a isso a esperteza dos vários brasileiros que associaram o reggae ao culto do surf, sol e praia, construindo ao redor, sobretudo ao longo dos anos 1990, uma subcultura lamentável de bares com música ao vivo, roupas extravagantes e derivados, e a xaropada estava completa.

Ouvir Bob Marley seria o mesmo que evocar esse momento distante no tempo, um pouco como a lambada, ou, num registro menos passageiro, Chico Science e a Nação Zumbi, incensado por tantos nos anos 1990 mas fatalmente datado pra quem ouve hoje.

E no entanto as músicas estão lá, bem mais fortes que o entulho da indústria cultural a elas associado. A ênfase nos tempos fracos, própria das levadas do reggae, em parte responde pela semelhança entre uma música e outra, mas por outro lado parece uma resistência ao estilo assertivo do rock que dominava o ambiente quando Bob Marley surgiu.

Talvez venha daí o escarcéu que ingleses e americanos fizeram quando o descobriram e transformaram num ícone da resistência ao “sistema”, no rescaldo das transformações comportamentais dos anos 1960. “Won´t you help to sing these songs of freedom” – esse verso da balada Redemption Song traduz até hoje esse espírito que alimentou o mito de Bob Marley.

Mas por um motivo que, como se nota, não sou capaz de explicar, as músicas parecem novas e frescas a cada audição.

Bob Marley pode ter virado o Mickey da Disneylândia do reggae e a Jamaica um parque temático que esconde a miséria e a barra pesada atrás dessa vitrine, mas algo de muito particular aconteceu por lá para permitir o surgimento de uma figura como ele.

Antes que esse post se perca, deixo aqui uma das minhas preferidas.

Irie.

Fonte

Essa coluna meio que me despertou pro puta sujeito que foi Bob Marley, e aí me dei conta de que conheço pouco da história dele. Acabei de baixar então um documentário de 2012, dirigido por Kevin MacDonald, que dizem ser mt bom.

marley.jpg

E aí, alguém já assistiu pra recomendar?

E dissertem sobre essa lenda aí também, hehe. :)

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Não vi o doc, mas Bob é muito maior que "maconha" como todo mundo pensa. Ele não é um sinonimo de erva, é o primeiro artista do terceiro mundo a explodir mundialmente, é um pastor de uma religião que até hoje é seguida, embaixador das propriedades positivas de algo que somente hoje o mundo vem começando lentamente a respeitar e uma pessoa simplíssima!

Recomendo ler sobre a passagem dele no Brasil e o lendário jogo dele junto com Chicho Buarque, Toquinho e PC Caju HAHAHA O cara era foda demais, amava tanto o futebol que quando teve o problema no pé se negou a deixar amputar (isso e a religião que não aceitava).

Fico triste que a família não respeita ele e "vendeu" a marca Marley para um grande conglomerado, ela já está no comércio e entra esse ano, inclusive com ações na bolsa americana.

Logo logo a mensagem de paz, aceitação e luta pelos direitos vai ser totalmente desvinculada e ouviremos alguém falar "Bora pita um Marley?" assim como já falam "Vou queimar um Marlboro lá fora". Triste esse desrespeito pelo legado.

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      Por Leho.
      Rapaaaaaaaz... olha esses convidados hahahaha! FODA PRA CACETE! Tem tudo pra ser pica demais, tá louco.
      E sempre ele né? Sempre Dave Grohl. Baterista, guitarrista, depois frontman de uma das maiores bandas do mundo, e agora (já há algum tempo, na verdade) diretor hahahaha. Rodrigo Hilbert é meu pau de óculos, esse cara tem que ser a referência maior.
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      Por Ariel'
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      @BobJJ pode vir comentar aqui. Pretendo vir nos próximos 10 dias.
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      Por Ariel'
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      (detalhe pra Amazon investindo um absurdo no Brasil. Primeiro foi esse estande foda na CCXP e agora uma série sobre a seleção brasileira)
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      Por Thiago Anjo
      http://www.imdb.com/title/tt2915896/


      É um documentário sobre o cotidiano de treinadores alemães que estão evoluindo e desejam chegar a Bundesliga, achei muito bom.

      Foca no Frank Schmidt - FC Heidenheim; André Schubert quando estava no St. Pauli (último clube B. Monchengladbach) e Stephan Schmidt quando treinou o Padeborn 07 (atualmente ele treina o Würzburger Kickers na 3. Liga), mas tem entrevistas com vários treinadores, inclusive o Klopp.

      Tem no Netflix.
         
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